Eduardo Sterzi
O escritor argentino Jorge Luis Borges sugere, num ensaio, que, para aqueles que – a exemplo dele mesmo – não dominam a língua grega, Homero é menos um autor do que uma vasta biblioteca, impressa em diversos idiomas. Nós, brasileiros, não temos a felicidade dos leitores de língua inglesa, que podem escolher entre algumas dezenas de versões diferentes, em seu idioma materno, dos dois poemas atribuídos a Homero, a Ilíada e a Odisséia.
Entretanto, a pouca quantidade de nossas versões homéricas é compensada pela qualidade de ao menos três tentativas de tradução. A primeira, ainda no século 19 e abrangendo ambos os poemas, deveu-se a Odorico Mendes. Reserva relativas dificuldades de vocabulário e sobretudo de sintaxe. Uma tradução mais amigável – e mais recente – é a de Carlos Alberto Nunes, de que há reedição pela Ediouro. E, por fim, fomos brindados, nas últimas semanas de 2002, com a versão integral da Ilíada pelo poeta Haroldo de Campos. Ele parece querer que seu texto soe tão interessante para um ouvido contemporâneo brasileiro como teria soado o canto de Homero para os ouvidos gregos de sua época. Sua magistral recriação poética (ou “transcriação”, como prefere) é, hoje, a melhor via para descobrirmos, ou redescobrirmos, a história do bravo guerreiro Aquiles e de seus companheiros no cerco a Tróia.