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Miguel de Cervantes: O cavaleiro da triste figura

Ele fugiu da lei, lutou em guerras, foi refém de piratas e escreveu o primeiro romance da história.

Por Cíntia Cristina da Silva
Atualizado em 3 out 2017, 15h00 - Publicado em 28 fev 2006, 22h00

Miguel de Cervantes teve uma vida ainda mais errática que a de seu personagem mais ilustre. O criador do engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha nasceu em Alcalá de Henares, em 1547, em uma família pobre. Ainda cedo, demonstrou interesse pela literatura e pela poesia. Teria uma vida acadêmica, não fosse um duelo no qual o escritor matou um desocupado. Procurado pela Justiça, que, como punição, deveria lhe decepar a mão direita, Cervantes fugiu para Roma, em 1569. Depois de falsificar uma certidão de nobreza, foi trabalhar como camareiro de um cardeal. Em 1570, alistou-se na armada espanhola que ia combater os turcos. Levou 3 tiros de arcabuz durante a Batalha de Lepanto, na qual sobraram apenas 12 dos 242 navios cristãos (e que ainda assim foram considerados vencedores). Dois disparos atingiram o peito e o terceiro deixou a mão esquerda de Cervantes imobilizada para sempre. Na volta para casa, sua galera se perdeu da frota de navios durante uma tempestade, foi atacada por piratas e o escritor foi feito prisioneiro em Argel. O lugar era, na época, o paraíso dos piratas, e os prisioneiros que não tinham família ou meios de pagar pela liberdade viravam escravos. Enquanto sua humilde família tentava conseguir o dinheiro, Cervantes permaneceu cativo por mais de 5 anos.

Ao retornar à Espanha, 12 anos depois de ter partido, “o maneta de Lepanto”, falido, dedicou-se a produzir comédias. “O ano que é abundante em poesia costuma ser de fome”, escreveu. Em 1584, teve uma filha bastarda com uma mulher casada. No final desse mesmo ano, casou com outra mulher, Catalina de Salazar, de quem se separou 3 anos depois. Tornou-se comissário de abastecimento e, em seguida, arrecadador de impostos. Em certa ocasião, confiou num amigo para guardar parte do dinheiro da Coroa e o bom homem fugiu com tudo. Em 1597, Cervantes voltou para o cárcere, acusado de desvio de dinheiro. Muitos acreditam que foi nos 3 meses em que esteve na prisão que ele começou a escrever Dom Quixote. Publicado em 1605, o livro foi um sucesso. Ainda assim, seu autor permanecia na miséria e, para ganhar mais uns trocos, publicou em 1615 a segunda parte de Dom Quixote. Miguel de Cervantes Saavedra morreu em abril de 1616.

Grandes momentos

• Tentou fugir várias vezes do cativeiro em Argel. Seus comparsas, quando recapturados, eram mortos. Já o escritor, apesar de liderar as fugas, era poupado. Seus detratores diziam que era por ele ser amante de seu “dono”.

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• Como comissário de abastecimento, ele percorria cidades para requisitar trigo e azeite em nome da Coroa. Ao exigir o trigo de alguns cônegos ricos, enfureceu a Igreja e foi excomungado.

• No final da vida, voltou para a prisão mais uma vez, por conta de um crime ocorrido em frente à sua casa. Livre do mal-entendido, foi solto um dia depois.

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