Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

O que foi (e ainda é) o integralismo brasileiro?

O grupo que reivindicou o ataque ao Porta dos Fundos se diz integralista. Mas o que isso significa?

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 27 dez 2019, 20h51 - Publicado em 27 dez 2019, 18h56

Na noite do último dia 24 – véspera de Natal – um grupo de pessoas jogou dois coquetéis molotov na sede da produtora do canal de humor Porta dos Fundos. No dia seguinte, um grupo que se denomina “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira” assumiu responsabilidade pelos ataques em um vídeo publicado nas redes sociais.

Por outro lado, a Frente Integralista Brasileira publicou uma nota afirmando que não possui nenhuma ligação com o incidente ou com o outro grupo que se diz integralista. Segundo eles, um dos princípios do Integralismo é a transparência, o que não combina com as máscaras usadas pelos autores do ataque.

No meio da confusão, fica a dúvida: o que é integralismo? O movimento foi fundado em outubro de 1932. Teve grande força em toda a década de 1930, mas foi perdendo relevância a partir dos anos 1940. 

 

wikimidia_commons_dominíopublico_movimento_integralista_2
(Domínio Público/Wikimedia Commons)

A ascensão…

O integralismo não é exatamente um grupo único de pessoas, mas sim uma ideologia. Em linhas gerais, ela é uma doutrina de extrema direita que prega o ultranacionalismo, conservadorismo, defesa dos valores cristãos e união do povo brasileiro. No dia 7 de outubro de 1932, o escritor e político Plínio Salgado lançou o Manifesto de Outubro, que reúne todos os princípios do integralismo.

Qualquer semelhança com o fascismo não é mera coincidência. O contexto internacional do nazifascismo inspirou o integralismo não só nos ideais, mas também na simbologia do movimento. A saudação entre os integralistas era feita com a mão direita ao alto, bem no estilo Heil Hitler. A diferença é que os brasileiros gritavam Anauê, uma palavra em tupi que significa “você é meu irmão”.

Continua após a publicidade

Não para por aí. O principal símbolo usado até hoje pelos integralistas é o sigma, uma letra grega que representa somatória, fazendo jus à ideia de união do povo brasileiro. Já o fascismo italiano usava um feixe (daí o nome) de varas para representar a mesma ideia – unidade e fraternidade.

reproducao_movimento_integralista_3
(Reprodução/Montagem sobre reprodução)

Mesmo com o crescimento da ideologia, o integralismo ainda não tinha influência direta no governo. Foi aí que surgiu a figura de Getúlio Vargas. Apesar de não ser integralista, Vargas fazia acenos ao autoritarismo e conservadorismo, criando proximidade com os valores do movimento. 

Em 1937, os integralistas apoiaram o golpe do Estado Novo, que decretou a ditadura de Getúlio Vargas. Segundo Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), as lideranças do movimento viram a oportunidade de conseguir cargos no governo e até mesmo transformar o regime em integralista. 

Continua após a publicidade

Mas o tiro acabou saindo pela culatra. Quando assumiu o governo, Vargas neutralizou os integralistas e extinguiu todos os partidos políticos. Em 1938, o movimento tentou dar um golpe de governo, que ficou conhecido como Levante Integralista. Sem sucesso.

… E decadência 

Foi a partir desse momento que o movimento começou a perder força. A partir de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a ideologia fascista passa a ser (muito) mal vista. Para os integralistas, não era mais interessante ser associado a um regime antissemita e fracassado.

Mesmo assim, o movimento ainda era coeso. Naquela época, todo o integralismo estava centrado na figura de Plínio Salgado, seu fundador. Foi só em 1975, com a morte do líder, que o movimento começou a se fragmentar.

Os integralistas tiveram que se reorganizar e pensar em estratégias para continuar existindo sem sua figura principal. Foi aí que eles começaram a se dividir em grupos menores, com divergências de ideias e valores. Alguns se mantiveram mais conservadores ao integralismo tradicional, enquanto outros agregaram novos conceitos ao movimento, mas essa pulverização levou a um quase desaparecimento do integralismo

Continua após a publicidade

E mesmo depois de tanto tempo, ainda existem integralistas no Brasil?

Hoje

O movimento nunca “morreu” totalmente. Ele ainda existe por meio de grupos menores, mas sem grande força política. Em 2004, surge a Frente Integralista Brasileira, o grupo de maior destaque atualmente.

Mas ele não é o único. O vídeo em resposta ao atentado do Porta dos Fundos mostra que ainda existem outros integralistas espalhados pelo Brasil. No passado, alguns chegaram a se aproximar de grupos violentos, como os skinheads.

No entanto, os grupos atuais ainda precisam colocar algumas questões na balança. Enquanto procuram manter os valores do movimento original, é importante manter certa distância de alguns discursos fascistas, já que a apologia ao nazifascismo é crime no Brasil.

Apesar de não terem força política para formar um partido atualmente, o professor Caldeira Neto ressalta que o integralismo está inserido em um contexto de insurgência do neofascismo pelo mundo e contribui para o aumento do radicalismo político.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.