Pintura rupestre ‘pontilhista’ é descoberta na França
Com 38 mil anos de idade, essa é a mais antiga tentativa registrada de construir um desenho usando pontos em vez de traços ou pinceladas
Se você foi criança na época das TVs de tubo, provavelmente já fez uma experiência científica de dar dor de cabeça: aproximar os olhos da tela até perceber que todas as cores são compostas por pequenos pontos azuis, verdes e vermelhos em diferentes quantidades. De longe, as cores se misturam e formam as figuras. No final do século 19, muito antes dos tubos de raios catódicos unirem famílias inteiras nos sofás americanos, pintores franceses como Georges Seurat e Paul Signac revolucionaram o impressionismo aplicando a mesma ideia, só que com gotas de tinta. A técnica, que à época ganhou de críticos reclamões a alcunha depreciativa de “pontilhismo”, hoje é explicada até nos livros de educação artística do ensino fundamental.
E é aí que acaba a história dos pontos na civilização. Ou era até agora. Um grupo de pesquisadores liderados por Randall White, antropólogo da Universidade de Nova York, descobriu pinturas de 38 mil anos de idade em um sítio arqueológico do sul da França chamado Vale de Vézère – e elas parecem ser a primeira tentativa de criar uma imagem usando pontos em toda a história humana.
“Nós somos muito familiares com as técnicas de artistas de vanguarda”, afirmou White ao Phys.org. “Mas agora podemos confirmar que essa forma de construção de imagens já era praticada pela mais antiga das culturas europeias, os Aurignacianos.” Entre as figuras representadas estão mamutes e cavalos. Os pontos eram primeiro aplicados nas mãos, que depois eram pressionadas contra a parede, como carimbos. Os Aurignacianos não deixam de ser uma espécie de vanguarda em seu tempo: é deles o mais antigo exemplo de arte figurativa, a estatueta da Vênus de Hohle Fels, esculpida em mármore dos chifres de um mamute.
Curiosamente, 15 dos blocos de calcário que foram investigados por White já eram conhecidos desde 1927, mas haviam sido deixados de lado pelos pesquisadores da época por serem rudimentares e de difícil interpretação. Eles estavam armazenados no Museu Nacional da Pré-História da França. Outros 16, descritos no artigo publicado no periódico científico Quaternary International, são descobertas fresquinhas. Segundo os pesquisadores, as imagens se destacam não apenas pela técnica curiosa, mas também pelo fato de que estão entre as imagens mais antigas já registradas independentemente do método de pintura.
“Eles dominaram alguns dos aspectos fundamentais das linhas e dos formatos, mas ainda estavam muito longe de reproduções precisas”, explicou White. “Afinal, são 38 mil anos e as ferramentas são bastante robustas.”