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Português, primo do sânscrito

Pode não parecer, mas as línguas evoluem segundo regras quase matemáticas, que ajudam a reconstruir a história humana

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 31 out 2007, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Quem repara nas mudanças imprevisíveis de sentido que uma palavra pode sofrer em poucos anos pode até imaginar que as línguas são coisas vivas. E, de fato, os idiomas humanos compartilham com animais e plantas uma das propriedades fundamentais da vida: eles evoluem. “As línguas, como as espécies, evoluem por meio de um processo de descendência com modificação”, resume Mark Pagel, pesquisador da Universidade de Reading, no Reino Unido. Ou seja: quando línguas-mães (como o latim, digamos) sofrem mudanças, elas são herdadas pelas línguas-filhas (feito o português) e passadas adiante. O legal, porém, é que esse processo não é uma bagunça – pelo contrário. As línguas tendem, pelo menos em grande parte, a mudar ao longo do tempo seguindo padrões regulares, que ajudam a reconstruir a origem delas, e a das pessoas que as falavam, até o passado remoto.

Do atlântico ao índico

A maior história de sucesso que decorreu dessa sacada é a descoberta de que muitas das línguas da Europa e da Ásia – do português, no oeste, a boa parte dos idiomas da Índia e do Paquistão, no leste – descendem de um só falar pré-histórico. Esse bisavô lingüístico é o proto-indo-europeu, e por isso todas as línguas descendentes dele são chamadas de indo-européias.

A árvore genealógica do indo-europeu tem sido refinada desde o século 18 por gerações de lingüistas e conta uma história curiosa. A partir de um centro original que talvez ficasse na Ucrânia e na Turquia há pelo menos 6 mil anos, o proto-indo-europeu e seus idiomas-filhos foram se ramificando. A história registra as últimas fases disso, como a transformação do latim popular no português, no francês e no italiano. Mas os lingüistas aprenderam a perceber semelhanças claras entre idiomas muito mais distantes entre si. O truque é usar como guia o funcionamento da boca e das pregas vocais humanas, que impõe certos limites às mudanças dos sons. Os lingüistas descobriram, por exemplo, que nas línguas germânicas (o grupo do inglês e do alemão), o som de p do proto-indo-europeu muitas vezes vira f. Ora, as duas consoantes são produzidas exatamente no mesmo local (ou ponto de articulação): a diferença é que o f inclui uma espécie de sopro. (Tente pronunciar o p deixando soltar o ar entre os lábios e você verá que o que sai é um f.) É por isso que o latim pisces e o inglês fish são, na prática, descendentes da mesma palavra original.

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Essas regras ajudaram a reconstruir outras línguas em todas as partes do mundo – das florestas africanas aos desertos do Oriente Médio. Mesmo nas épocas em que não havia escrita, as palavras deixaram um registro da nossa história.

Falando como quem manda

Uma idéia que está ganhando força entre antropólogos e arqueólogos associa troncos lingüísticos espalhados, tal como o indo-europeu, a algum tipo de vantagem competitiva – de preferência relacionada com os principais motores da civilização humana, a agricultura e a criação de animais. Os primeiros povos a criar essas técnicas automaticamente ganharam vantagens tecnológicas e demográficas, e por isso teriam conseguido espalhar mais sua língua entre povos dominados. É uma beleza de idéia, mas os cientistas ainda batem cabeça justamente para saber o que houve no famigerado caso do indo-europeu, de longe o mais bem estudado.

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