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Primeiro império da história colapsou por causa de uma mudança climática

Estudo realizado em uma caverna no norte do Irã reforça a tese de que uma severa estiagem teria feito o Império Acádio sucumbir há 4 mil anos.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 12 jan 2019, 12h21 - Publicado em 11 jan 2019, 19h12

A Pirâmide de Gizé ainda era uma novidade no mundo antigo, concluída há pouco mais de dois séculos, quando o Império Acadiano se formou na Mesopotâmia. Considerado o primeiro império da história, sua origem remonta a 2334 antes de Cristo, e seu território seguia o curso dos rios Tigre e Eufrates, estendendo-se desde as terras férteis do atual sudeste da Turquia, passando pela Síria e o Iraque até o Golfo Pérsico. Seu fundador, Sargão, havia unificado uma série de cidades-estado — um século depois, tudo desandou.

Toda a região virou um caos, com conflitos e migrações em massa. Acometida pela escassez de água e de comida, Acádia ruiu por completo. O motivo da queda ainda é matéria de debate entre historiadores, arqueólogos e cientistas. A teoria mais aceita sugere que condições críticas de seca teriam comprometido a produtividade das terras ao norte, das quais todo o império dependia. Formulada pelo arqueólogo Harvey Weiss, de Yale, baseou-se em análises do leito marinho do Golfo de Omã e do Mar Vermelho.

Mas a interpretação de Weiss enfrentava resistência e ceticismo na academia. Muitos especialistas não estavam convencidos de que as evidências eram robustas o bastante para sustentar a correlação entre uma possível seca e mudanças sociais na Mesopotâmia. Uma pesquisa recente encabeçada pela paleoclimatologista Stacy Carolin, de Oxford, reforça a tese de que uma mudança climática brusca marcou o fim dos acadianos.

Para avaliar como era o clima na região milênios atrás, os pesquisadores foram até uma caverna no pé de um vulcão “potencialmente ativo” no norte do Irã. A caverna Gol-e-Zard fica na sombra do Monte Damavand, mais alto pico iraniano. Lá dentro da cavidade, eles utilizaram uma técnica bastante engenhosa para encontrar respostas no meio de estalagmites — aquelas formações que crescem do chão para o teto da caverna.

Com o estudo, os cientistas conseguiram consolidar um registro detalhado da atividade de poeira na região no período de tempo compreendido entre 5200 e 3700 anos atrás. É curioso, mas a poeira dessa caverna perdida do Irã é a chave para compreender o passado climático da região onde ficava o Império Acadiano. Calcula-se que 90% das partículas encontradas ali sejam provenientes dos desertos da Síria e do Iraque, transportadas pelo vento diretamente para Gol-e-Zard. Nas estalagmites, elas ficam preservadas em camadas.

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A maneira de diferenciar essa poeira é a quantidade de magnésio: o pó desértico tem maiores concentrações do elemento do que a poeira local, composta principalmente de calcário. Mas o que a poeira tem a ver com a queda do Império Acádio? É simples: períodos em que o ar estava mais poeirento indicam condições mais secas. Os pesquisadores identificaram nos dados dois períodos de estiagem acentuada, um iniciado há 4510 anos e o outro há 4260 anos, tendo durado respectivamente 110 e 290 anos.

E adivinhe só? A segunda seca, mais severa e prolongada, coincide exatamente com os anos que marcaram o ocaso de Acádia. A conclusão do artigo, publicado no periódico PNAS, é que o clima explica, ao menos em parte, a queda do império. A infertilidade das terras do norte provocaram um enorme fluxo de imigrantes para o sul, e a população local não ficou nada feliz: ergueram um muro entre o Tigre e o Eufrates para conter a onda. Crise migratória, mudanças climáticas… De que milênio estamos falando mesmo?

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