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Trinta e dois minutos esperando para morrer

O acidente que derrubou o Boeing 747 da Japan Airlines não foi o único causado por falhas de manutenção. Mas ficou conhecido como um dos casos mais dramáticos de todos os tempos – por causa de um costume cultural japonês.

Por Redação Super
Atualizado em 14 nov 2019, 14h10 - Publicado em 13 nov 2019, 18h45

Trinta e dois minutos esperando para morrer. Esse foi o suplício enfrentado pelas 524 pessoas a bordo do Boeing 747 da Japan Airlines em 12 de agosto de 1985. Uma falha técnica em pleno voo foi a causa do mais mortífero desastre envolvendo uma única aeronave na história da aviação (o acidente de Tenerife, que envolveu duas aeronaves, matou 583 pessoas). Além do grande número de mortos, a tragédia se destaca pela forma como algumas das vítimas lidaram com a possibilidade da morte. Entre o início e o desfecho do desastre, transcorreu um tempo inusitadamente longo – durante o qual muitos dos passageiros resolveram deixar à posteridade suas últimas palavras, rabiscadas em agendas e pedaços de papel. O voo, que decolou às 18 horas e 21 minutos, deveria durar uma hora, percorrendo os 400 quilômetros de Tóquio a Osaka. Era véspera de um feriado tradicional do Japão, e a aeronave estava lotada de pessoas viajando para encontrar as respectivas famílias. 

Após 12 minutos começou o pesadelo. “Houve um barulho muito alto, em algum lugar lá nos fundos. No mesmo instante, a cabine se encheu de uma névoa branca”, relatou Yumi Ochiai, um dos quatro únicos sobreviventes do desastre. “Um buraco havia se aberto na fuselagem, e logo as máscaras de oxigênio começaram a cair.” 

Mais tarde, a perícia revelaria a causa do acidente. Cerca de sete anos antes, durante um pouso malfeito, a cauda batera contra a pista, e o solavanco danificara o selo traseiro, espécie de tampa que veda os fundos da aeronave, mantendo a pressurização da cabine de passageiros. O selo foi consertado de forma imperfeita e acabou arrebentando durante o voo. O rompimento da tampa abriu também uma rachadura na fuselagem. Pelo buraco, o ar da cabine começou a escapar em velocidade supersônica. A violenta ventania de ar despressurizado arrancou o estabilizador vertical – aquela barbatana gigante que fica na ponta da cauda. A partir daí, o avião ficou desgovernado. 

Assim que perceberam a gravidade da situação, muitos passageiros apanharam lápis e canetas e começaram a escrever as últimas mensagens para suas famílias. Durante a operação de resgate, vários desses recados foram encontrados. Alguns eram muito curtos, rabiscados em sacos e pedaços de papel higiênico. Outros, escritos em folhas de agenda, eram mais longos – um deles tinha sete páginas (veja trechos ao lado). 

Enquanto os passageiros escreviam, respirando por meio de máscaras e resistindo ao frio que invadia o avião, os pilotos tentavam estabilizar o Boeing e retornar ao aeroporto de Haneda, em Tóquio. Mas foi em vão. Alarmes apitavam sem parar e o avião começou a perder altitude em grande velocidade. No compartimento de passageiros, o administrador Hiroshi Kawagushi , 52 anos, escreveu as últimas palavras à mulher e aos filhos: “O avião está descendo rapidamente. Sou grato pela vida feliz que tive até hoje. Adeus”. O oxigênio das máscaras, que dura entre 15 e 28 minutos, estava acabando, mas não houve tempo para asfixia. Às 18h56, o voo 123 da Japan Airlines desapareceu dos radares e mergulhou nas encostas do Monte Osutaka ao pôr-do-sol. Quatro ocupantes, sentados na parte dos fundos, sobreviveram à falta de ar e ao impacto – incluindo uma menina de 12 anos, encontrada presa entre os galhos de uma árvore. 

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Mensagens finais
Em japonês, o termo “isho” indica as últimas palavras escritas por alguém – uma espécie de testamento. Entre os destroços de um dos mais mortíferos desastres aéreos da história, foram descobertas muitas dessas mensagens finais. Veja algumas dessas palavras produzidas à beira do impacto final.

“Há pouco oxigênio. Me sinto enjoado. No compartimento de passageiros, ouço vozes pedindo que cada um de nós dê o melhor de si. Não entendo direito o que aconteceu. O avião está balançando para a esquerda e a direita, descendo rapidamente. Acho que vou morrer.”
Ryohei Murakami. 

“Que todos vocês vivam felizes. Adeus.”
Sumiko Kentaro. 

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“Estou com medo. Estou com medo. Estou com medo. Alguém me ajude. Não quero morrer.”
Mariko Shirai. 

“Seja forte. Cuide das crianças.”
Kazuo Yoshimura. 

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