Mariana Iwakura
Se, de acordo com o chamado “efeito borboleta”, um evento tão pequeno quanto o bater de asas do pequeno inseto pode levar a um desastre natural no outro lado do mundo, imagine a destruição dos 7 584 421 km2 da Amazônia. De cara, teríamos uma diminuição de 30% da biodiversidade mundial. Morreriam 40 mil espécies de plantas, das quais 30 mil são endêmicas, ou seja, não existem em outro lugar do mundo. Além disso, pelo menos 1 000 espécies de aves e outras centenas de espécies de peixes estariam ameaçadas de desaparecer da face da Terra.
Isso sem falar das conseqüências climáticas. “Quando se remove a floresta, removem-se partículas que atuam na condensação das nuvens, o que diminui a precipitação”, diz Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP. A falta de chuva atingiria todo o país mas, segundo José Maria Cardoso da Silva, pesquisador da ONG Conservação Internacional, a seca afetaria mais drasticamente as regiões vizinhas da Amazônia. “O cerrado seria mais sujeito ao fogo e o Pantanal secaria bastante”, diz.
De acordo com o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento pode levar à “savanização” das partes sul e leste da Amazônia. “A diminuição das chuvas seria propícia à vegetação de savana, formada por árvores retorcidas e gramíneas”, diz Nobre. Seria o adeus à floresta nessas áreas. Seria também o fim dos rios da Amazônia. O solo arenoso, sem vegetação, passaria a invadi-los, assoreando as águas e interrompendo os cursos. A paisagem passaria de exuberante mata verde para um aspecto lunar, com crateras, diversos pontos de erosão e muita seca.
Pelo mundo afora
Ao lado, conseqüênciasdo fim da Amazônia
Los Angeles – Peças de museu
Espécies de aves migratórias, como alguns sabiás, tão comuns hoje em dia, poderiam entrar em extinção. É que elas se reproduzem no hemisfério norte, mas, no inverno, migram para o sul. Como a jornada é longa, pousam na Amazônia. Sem a floresta, a mortalidade na migração seria muito alta. O número de aves que voltaria ao norte para reprodução diminuiria até a extinção. Alguns mamíferos como a onça e a anta também estariam ameaçados de extinção.
Manaus – Ataque de insetos
Pesquisas indicam que pode haver uma relação entre o aumento do desmatamento de florestas e o surgimento de doenças que não existiam na região previamente. Com o fim da mata, o caminho estaria aberto para insetos transmissores de doenças e um, em especial, que prefere áreas abertas: o barbeiro. Transmissor da doença de Chagas, ele poderia causar um surto da doença na Amazônia devastada.
Rio de Janeiro – Nada de peixe
Com a destruição do rio Amazonas, haveria conseqüências para todo o litoral do país. Nutrientes despejados pelo rio no oceano Atlântico são levados à toda costa da América do Sul. Sem eles, haveria uma queda drástica da população de peixes e crustáceos. Se você fosse comer em uma barraquinha de praia, é provável que, em vez de pedir isca de peixe ou camarão, tivesse de se contentar com um hambúrguer ou uma coxa de frango.
Recife – Escuro no nordeste
Com a diminuição no volume dos rios brasileiros em geral, as hidrelétricas brasileiras teriam sua produtividade comprometida. Mas na Região Nordeste o problema seria ainda mais grave. A hidrelétrica de Tucuruí, localizada no rio Tocantins, no Pará, simplesmente teria de parar de funcionar, gerando um colapso econômico na região. Outras fontes de energia, como gás natural e usinas nucleares, teriam de ser exploradas.
Londres – Neve no Big Ben
O desmatamento geraria um efeito dominó: imensas emissões de gás carbônico, provenientes da queima e do apodrecimento da madeira, aumentariam o efeito estufa, causando derretimento de gelo nos pólos. Isso diminuiria a salinidade da água no norte do oceano Atlântico, mudando a direção da corrente do Golfo, que mantém o clima ameno na Europa. As temperaturas cairiam, gerando, por exemplo, nevascas na Inglaterra, algo que não acontece hoje.
Daca – Desastres na Ásia
O aquecimento global seria agravado pelo desmatamento da floresta amazônica e levaria ao aumento de eventos extremos, como alterações no regime das chuvas ou secas catastróficas. Os tufões, causados por diferenças de temperatura entre 2 massas de ar, seriam mais freqüentes no sudeste da Ásia. Países pobres, como Bangladesh, sentiriam mais os estragos.