Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Escalvada: o país das andorinhas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 29 fev 1996, 22h00

Linda Kogure

A cada ano, entre maio e outubro, é sempre a mesma história: nas proximidades da costa de Guarapari, no Espírito Santo, uma pequena ilha deserta, a Escalvada, é invadida por milhares de andorinhas-do-mar. Em 1994, eram 8 000; em 95, foram 15 000. No Atlântico Sul, a Escalvada é o maior santuário de reprodução dessas aves migratórias – as campeãs mundiais de vôo à distância.

Roubo de ovos afugenta aves durante décadas

As andorinhas-do-mar são famosas pelas espécies detentoras de recordes migratórios. É o caso da Sterna paradisea (ou trinta-réis-ártico), que voa 35 000 quilômetros, entre os pólos Ártico e o Antártico. Na Ilha Escalvada, a Associação Vila-Velhense de Proteção Ambiental (Avidepa), que há oito anos mantém o Projeto Andorinhas-do-mar, já identificou duas espécies da mesma família: a Sterna hirundinacea, a trinta-réis-de-bico-vermelho, e a Sterna eurygnatha, a trinta-réis-de-bico-amarelo. Estas aves costeiras pesam, em média, 190 gramas e medem de 41 a 44 centímetros de comprimento. Vivem cerca de 15 anos. Se faz muito frio ou calor, mudam de moradia. No Atlântico Sul, quando o inverno chega à Argentina, elas migram rumo a um clima mais ameno para o período anual de reprodução. São capazes de voar dia e noite, por mais de 12 horas, pousando pela costa. A viagem começa no litoral da Patagônia, atravessa o do Uruguai, o Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e termina no Espírito Santo – cerca de 4 000 km. Ali, a Escalvada é o paraíso: um pedaço de terra de 100 metros de diâmetro, de difícil acesso e inabitado, rodeado de águas piscosas. Mas nem sempre foi assim. A Escalvada abrigou um farol, inaugurado em 1907. Nos anos 20, o serviço passou a funcionar eletrônicamente. Depois, abandonada, a ilha serviu de prato cheio para aventureiros, ladrões de ovos de andorinhas, que já a procuravam para procriar. Degradado o ambiente, as aves bateram asas. Foi só em 1984, com a descoberta de uma grande colônia de reprodução nas vizinhas Ilhas Itatiaia, em frente à cidade de Vila Velha, que surgiu a idéia de proteger as andorinhas no litoral capixaba. A partir de 1988, seduzidas pelo novo tratamento (veja na página 44), as aves voltaram à região. Além da Escalvada, fizeram ninhos também nas ilhas Branca, dos Pacotes e nas sete do arquipélago de Itatiaia.

Anel na pata identifica cada filhote

Os primeiros bandos chegam em abril. Sobrevoam as ilhas, até escolher o pouso ideal de reprodução. Na Escalvada, encontram uma área maior de postura e duas plantas rasteiras introduzidas pela Avidepa: o feijão-da-praia (Canavalia obtusifolia) e o salsa-da-praia (Ipomoea pres-capris) servem para a construção de ninhos e o combate da erosão do solo.

Continua após a publicidade

Feita a seleção, há tempo para tudo. Tempo para namorar, quando o casal, apaixonado, voa em sincronia. Tempo para casar, em maio, quando se retiram para outro lugar e acasalam-se em segundos. E tempo para constituir família e fazer ninhos. No máximo, nascem dois filhotes por casal, alimentados com peixes até a sexta semana. Cada bebê é alvo de uma pesquisa que realiza a medição de peso, largura e comprimento do ovo, e o acompanhamento semanal do crescimento. Nos currais, filhotes e aves adultas são identificados por anilhas metálicas – um anel numerado, colocado no pé direito, que auxilia o rastreamento das andorinhas nas migrações do Atlântico Sul. Em 1995, seis mil filhotes foram marcados contra quatro mil em 1994.

A andorinha raramente dorme, apenas diminui o ritmo do metabolismo durante a noite. Tem tempo de sobra para fazer o que mais gosta: piar. Quem visita a Escalvada, nos meses de reprodução, surpreende-se ao ser recebido por um barulho agudo, a chamada “vocalização das andorinhas”. Elas piam sem parar, ensurdecedoramente. E conseguem, no caso das de bico-amarelo, assustar os mais afoitos com seus gritos estridentes. Já as de bico-vermelho, corajosas, atacam o gavião-carcará, o inimigo número um dos seus ninhos. Em outubro, é tempo de partir. Com os filhos aptos para viajar, cada um pesando, em média, 150 gramas, e medindo 25 centímetros de comprimento, as aves partem na direção sul, para longe do verão capixaba. Na Patagônia, o clima será suave.

Farol antigo

A torre vermelha da Ilha de Escalvada, construído no início do século, deixou de ser apenas um ponto de referência aos navegantes. Hoje, ele ilumina o maior refúgio de reprodução de andorinhas do Brasil.

Paixão no ar

Após flertar e namorar, o casal se exibe em vôos sincronizados. Um imita à perfeição o movimento do outro.

Continua após a publicidade

Acesso difícil

Não há praia, nem atracadouro. Os pesquisadores precisam de cuidado para se aproximar da ilha, desembarcar no mar e vencer as rochas.

Reunião barulhenta

As andorinhas-do-mar piam sem parar. Quem visita seu ambiente, é recebido com um ruído ensurdecedor.

A mais valente

Continua após a publicidade

A trinta-réis-de-bico-vermelho é agressiva o suficiente para atacar seu inimigo mortal, o gavião-carcará.

A mais agitada

A trinta-réis-de-bico-amarelo é dona de um pio áspero, atordoante. Defende a prole na base do grito.

Paraíso remoto

Na época em que o homem acionava o farol, a ilha era um ponto estratégico. Agora, com vegetação e turismo controlados, tornou-se o santuário das aves migratórias.

Continua após a publicidade

Alvo fácil

A postura é, no máximo, de dois ovos. Na vegetação rasteira, o ninho é um alvo fácil para predadores.

Fração mínima

As medidas são diminutas: 5 centímetros de comprimento, 3,5 de circunferência e 35 gramas de peso.

O primeiro berro

Continua após a publicidade

Como qualquer bebê, o filhote nasce gritando por comida. Desengonçado, só consegue andar após sete dias.

Ritual da proteção

As aves são reunidas num curral para a identificação dos filhotes e adultos e, depois, anilhadas; cada uma recebe um anel no pé direito, com um número gravado. Assim, podem ser rastreadas pelo Atlântico Sul.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.