Lixo vira água quente
O inventor que transformou garrafas de refrigerante e caixas de leite em um sistema de aquecimento de água
Thiago Lotufo, de Tubarão, SC
“Fiz uma gambiarra que deu certo.” A frase é de José Alcino Alano, de 53 anos. A gambiarra é um projeto tão simples quanto engenhoso. José Alcino usou 100 garrafas PET de 2 litros, 100 embalagens Tetra Pak de leite, 30 metros de tubos de PVC e outros materiais pouco usuais. Dessa tranqueira saiu um sistema de aquecimento solar de água.
Os tubos foram cortados e dispostos em 25 colunas. Em volta de cada uma, José Alcino colocou quatro garrafas PET encaixadas entre si. E cada garrafa recebeu em seu interior uma caixa de leite recortada, dobrada e pintada de preto fosco – o preto é a cor que mais absorve a energia do sol.
A água quente serve dois banheiros da casa, a pia da cozinha e o tanque. Após seis horas de exposição ao sol, o coletor consegue elevar a temperatura da água de 16 para 38 graus no inverno e de 23 para 50 no verão. O projeto, que custou 83 reais e foi inaugurado em outubro de 2002, sem festa nem comício, rende uma economia mensal de 120 quilowatts de energia, ou 46,80 reais. José Alcino pretende ampliá-lo construindo mais um coletor, mas seu desejo mesmo é que ele seja adotado em casas populares, creches e escolas.
O inventor nasceu na roça, num lugar e numa época em que energia era o querosene da lamparina e brinquedo era lata de óleo transformada em carrinho. “A necessidade faz a gente criar”, diz. Quando abriu sua oficina mecânica, precisava de ferramentas e maquinário para trabalhar. Criou tudo, a partir de ferro-velho.
Toda essa inventividade foi cultivada longe do ensino formal. Ele aprendeu elétrica, eletrônica e afins em cursos rápidos e por correspondência. Sem contar os livros que devorou. Na estante de casa, ao lado da coleção completa da Super e de obras de Júlio Verne, repousam títulos como Eletricidade e Eletrônica, Eureka! Uma História das Invenções, Enciclopédia Tecnológica e Como Funciona.
José Alcino é um inventor intuitivo, que realiza seus projetos com muito suor. Mas também com alma e coração. Não à toa, seus olhos marejaram quando batemos à porta para entrevistá-lo. “Puxa! A gente acompanha a revista desde sempre e de repente vocês estão aqui…”, disse, contendo as lágrimas.
Em tempo: experimentei o banho quente numa manhã gelada do inverno catarinense. Delícia.
Como ajudar
Difunda o uso do coletor solar na sua casa, na do vizinho e em prédios públicos, como escolas e creches. José Alcino terá prazer em ajudar. Para saber detalhes do projeto, escreva para a família Alano pelo e-mail walano@ibest.com.br.