Por que as lontras estão sumindo
Pescadores, poluição, mercado de peles estes são os pdas Pescadores, poluição, mercado de peles estes são os principais acusados pelo desaparecimento das lontras. Espertas, elas pareciam ter tudo para ser invulneráveis.
No início do século, era possível encontrar lontras em todos os cantos da Europa. Elas viviam em qualquer ambiente perto da água, doce ou salgada, dos lagos nas montanhas à beira-mar. Mas, a partir dos anos 30, sua população passou a regredir. Hoje, só podem ser vistas com freqüência na costa atlântica da Irlanda, de Portugal e da Escócia. O mais intrigante é que as lontras não têm nenhum predador natural. Nenhum predador, fora o homem.
Os peixes compõem 50% a 90% da sua alimentação e elas sabem pescá-los como ninguém. Corpo longo, cara fina com focinho achatado, orelhas minúsculas, patas curtas, dotadas de membranas, cauda comprida e robusta — têm o perfil de nadadoras natas, realizando proezas na água. Fora dela, também se viram muito bem para conseguir alimento. Enfim, tinham tudo para levar uma existência tranqüila. No entanto, vivem sempre sob ameaça.
Na França, até 1972, a matança de lontras era estimulada em concursos, com altíssimos prêmios em dinheiro. Os patrocinadores desses eventos eram companhias de pesca, que acreditavam no mito da concorrência. Pois se dizia que cada lontra era capaz de comer o equivalente ao próprio peso (5 a 10 quilos) em peixes, todo santo dia. Na realidade, seu consumo é por volta de 10% disso.
Infelizmente, não são apenas os pescadores que saem à sua caça: a pele do animal é uma das mais fortes e sedosas de que se tem notícia. Todas as passeatas dos ecologistas não impedem que, a cada ano, 3 000 a 4 000 lontras terminem em emboscadas para virar casaco de madame. Para piorar a situação, foram praticamente obrigadas a se retirar dos cursos de água, esvaziados por causa da construção de grandes barragens. Mas isso, por si só, ainda não justificava o seu sumiço.
Os especialistas estão cada vez mais convencidos de que a poluição é a maior culpada por esse desaparecimento. De fato, as lontras não resistem ao contato direto com os rejeitos industriais e os esgotos, jogados nas águas. A acusação, é também para a sujeira do ar, principalmente para as moléculas de policlorobifenóis (PCB), liberadas pelas fábricas que lidam com materiais plásticos. Os PCB tombam no chão com a chuva, contaminando rios e lagos. Praticamente indestrutíveis, logo vão parar no organismo dos peixes. Na seqüência, acumulam-se no corpo das lontras. Se elas não morrem intoxicadas, acabam inférteis, incapazes de dar continuidade à espécie.
Para saber mais:
Vida noturna
(SUPER número 3, ano 3)
Toda a vida do mundo
(SUPER número 7, ano 4)
A arte de enganar
(SUPER número 10, ano 7)
Truques infalíveis de pescaria
Pescar é seu dom natural. Nas águas profundas, a lontra opta por um bom mergulho, podendo ficar mais de 1 minuto submersa, à espera da presa, que é surpreendida por baixo. Já quando está em águas mais rasas, ela simplesmente impede a passagem do peixe que, por ventura, se escondia entre pedras ou plantas aquáticas. Dali, ele não escapa. Nessa hora, o longo bigode branco da lontra tem um papel fundamental: ele capta as menores vibrações, localizando os peixes escondidos, até mesmo à noite.
Sem sofrer por causa da comida
Seu prato predileto é aquele que está mais fácil de conseguir. Quando o inverno chega e não há como pescar, porque a superfície de riachos e lagos congela, a lontra vai atrás de pequenos mamíferos. Adora um rato selvagem. Mas nunca esnoba patos. Nem um belo réptil que esteja dando sopa. Já em março, ela saboreia rãs e sapos. Pois, nesse mês, inicia-se a temporada de acasalamento dos anfíbios e há uma fartura de seus filhotes na água. As pequenas rãs são devoradas inteirinhas. Mas os sapos são, antes de mais nada, despelados — quem aprecia uma pele repleta de glândulas secretadoras de veneno?