O pior é que pode, sim! A coisa vai encrespar se rolar uma mutação com algum dos vírus que causam a gripe do frango (o mais correto é falar em “gripe aviária”, pois a doença atinge várias espécies de aves). Aí, ela viraria uma epidemia humana supermortal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o total de vítimas pode chegar no máximo a 7 milhões – um problemão, mas bem menor que a gripe espanhola de 1918, que matou 50 milhões. Por enquanto, os vários tipos de vírus que produzem a gripe aviária só permitem dois tipos de contaminação: de ave para ave ou no máximo de ave para o homem – isso se a pessoa tiver contato direto com os animais doentes, com suas fezes ou se comer carne e ovos malcozidos. A partir dos anos 90, três variantes do vírus apareceram na Ásia, sendo que o tipo mais hard-core, o H5N1, está detonando por lá desde 1997. Sua capacidade destruidora já resultou no sacrifício de milhões de frangos na tentativa de evitar o avanço da doença. Só que o vírus sobreviveu até hoje no Vietnã, Camboja, Tailândia, Indonésia, China e Laos. A infecção humana pelo vírus aviário é o grande perigo: cada caso é uma oportunidade para o “casamento” do H5N1 com algum outro vírus já ajustado ao nosso organismo – é a tal mutação mortal de que a gente falou no começo do texto. “Não dá para saber quando ou como o H5N1 vai mudar. Mas há sinais de que isso vai acontecer. A cada nova epidemia entre as aves aparece uma imensa variação genética. O vírus já começou a matar os patos, que antes eram resistentes”, diz o especialista em virologia Edison Luiz Durigon, da Universidade de São Paulo (USP). Se rolar o vírus humano, haverá outra onda de gripe internacional. Mas não é pra ficar desesperado: a doença é grave, mas os potentes medicamentos antivirais podem salvar muitas vidas. E a mutação do vírus pode não rolar por enquanto – pelo menos por enquanto.
1. Na Ásia, lar da gripe do frango, a doença continuará arrasando aves e os pássaros migratórios levarão o vírus para todo o planeta. Se uma mutação criar um vírus transmissível entre humanos, cerca de 3 milhões de asiáticos podem perder a vida
2. A gripe já chegou a países do Leste Europeu. Se rolar o vírus humano, falhas na vigilância sanitária e a demora na notificação dos casos fariam da Turquia, Romênia e Croácia as portas de entrada da doença na Europa e na África
3A. Como a gripe pode demorar de dois a cinco dias para dar sinais, habitantes do Leste Europeu podem viajar para a Europa Ocidental sem saber que estão infectados. Com a livre circulação na União Européia, a doença se espalharia ainda mais
3B. Por causa de uma rota migratória, aves podem levar o vírus do Leste Europeu para a África. Como 60% dos 900 milhões de habitantes vivem no campo, muitos poderão pegar o vírus de criações domésticas infectadas. O sistema de saúde precário e a população debilitada pela malária, turberculose e aids darão chance para o vírus matar mais gente
4. Se a mutação criar um vírus humano, provavelmente o primeiro país da América a ser contaminado serão os Estados Unidos. O grande número de vôos internacionais vindos da Europa poderia trazer a doença do Velho Mundo
5. A gripe mortal pode chegar ao Brasil por dois caminhos: com as aves (há uma rota migratória entre a América do Norte e a do Sul) ou com pessoas infectadas (no caso de já haver um vírus humano). O país precisará de mais unidades capazes de diagnosticar rapidamente a doença. Hoje, só hospitais no Rio e em São Paulo conseguiriam fazer isso
GRIPE ESPANHOLA
POPULAÇÃO MUNDIAL – 2 bilhões (20% em áreas urbanas)
INFECTADOS – 400 milhões tiveram sintomas da doença
NÚMERO DE MORTOS – 50 milhões
GRIPE AVIÁRIA
POPULAÇÃO MUNDIAL – 6,5 bilhões (50% em áreas urbanas)
INFECTADOS – 1,3 bilhão de pessoas*
NÚMERO DE MORTOS – 64 (números atuais)** de 2 milhões a 7 milhões* (com transmissão entre pessoas)**
* Estimativas da Organização Mundial da Saúde caso uma mutação crie um vírus transmissível entre pessoas
** Até o dia 10/11, data de fechamento desta reportagem
Se pegarem o bicho…
Num presente otimista, matança de aves pode conter a doença
Hoje, a doença ainda não é transmitida entre humanos. Para impedir a epidemia, os países terão de isolar o vírus entre as aves e prevenir o contágio humano, sufocando a doença na Ásia e no Leste Europeu. As medidas de combate incluem vacinação de aves sadias, sacrifício das penosas doentes e isolamento de áreas com humanos atingidos