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Caça aos Nazistas, parte 3: A pena do Corvo Negro

Walter Rauff admitiu matar mais de 100 mil, mas foi protegido pela ditadura chilena

Por Luiz Romero
Atualizado em 11 mar 2024, 08h51 - Publicado em 5 jan 2016, 17h25
Nazistas

ILUSTRA Renato Faccini

1. Walter Rauff nasceu em Köthen, na Alemanha, em 1906. Começou sua carreira na Marinha, mas foi dispensado por comportamento considerado impróprio para a época – supostamente, teria cometido adultério. Mas logo conseguiu ingressar na SS,a polícia secreta alemã, aos 31 anos. Quatro anos depois, realizou sua grande contribuição para o Terceiro Reich: uma arma de execução em massa

2. Essa arma era o Corvo Negro: um pequeno caminhão adaptado para enviar a fumaça do escapamento para o compartimento de carga, matando por asfixia as pessoas trancadas lá dentro. Em 1941, Rauff participou da construção de diversas dessas “máquinas de matar”, criadas originalmente pelos soviéticos. Algumas vinham disfarçadas com o símbolo da Cruz Vermelha na lataria

3. O próprio Rauff assinou um relatório em que assumia ter “processado” (ou seja, matado) quase 100 mil pessoas nesses veículos. Estimativas de historiadores elevam o total a250 mil. Em 1942, Rauff ainda ajudou aplanejar o extermínio de judeus na Palestina, como parte do plano de Hitler de espalhar o nazismo também fora da Europa. Mas essa missão acabou sendo cancelada

4. No encerramento da 2ª Guerra Mundial, ele já era coronel e participava da ocupação alemã no norte da Itália. Foi preso por soldados aliados em um centro para prisioneiros de guerra em Rimini, na costa italiana, mas conseguiu escapar. Escondeu-se em um monastério em Roma e, ajudado pelo bispo austríaco Alois Hudal, até conseguiu emprego como professor em uma escola católica

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5. Hudal ajudou diversos oficiais nazistas a fugir da Europa – vários deles, para a América Latina. Rauff foi para Quito, no Equador, em 1949. Depois, passou por Buenos Aires, onde liderou um grupo anticomunista, e, enfim, parou no Chile, em 1958. Ali, trabalhou criando e vendendo gado. Mas, alguns anos depois, algo muito estranho aconteceu

6. Em 1958, Rauff foi recrutado para trabalhar como espião pelo próprio governo da Alemanha!A inteligência alemã procurava alguém confiável (e com vivência num país hispânico) para viajar a Cuba e espionar Fidel Castro. Mas, mesmo se apresentando com o nome de Enrico Gomez, ele não foi liberado para entrar na ilha e a missão nunca se completou

7. Logo após o fracasso em Cuba,a Justiça alemã emitiu um pedido de extradição para Rauff. Ele chegou a ser preso no Chile, em 1962, mas foi solto pela Suprema Corte, que decidiu que seu crime havia prescrito. Mas um detalhe ficou em segredo por décadas: como recompensa pelo trabalho como espião,a própria Alemanha cobriu os gastos legais com o processo de extradição

8. Sua situação melhorou ainda mais após 1973, quando começou a ditadura de Augusto Pinochet. O Chile recusou novos pedidos de extradição e Rauff foi viver no litoral no extremo sul do país, administrando hospedarias e restaurantes. Seus últimos dias foram num bairro de classe alta de Santiago, onde morreu de ataque do coração, em 1984… sem nunca ter sido condenado

Mapa-Nazistas
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Rota de fuga

1. Itália (Rimini)

2. Itália (Roma)

3. Equador

4. Argentina

5. Chile

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CAÇADORES DE NAZISTAS

Quatro pessoas que se especializaram em levar oficiais fugitivos à Justiça

Elliot Welles

Sobrevivente do Holocausto, seu primeiro caso resolvido foi localizar o responsável pela morte de sua própria mãe. Conseguiu levá-lo a julgamento em 1976, mas ele só foi condenado a três anos. Desde então, já localizou figurões como Josef Schwammberger, que havia chefiado campos de trabalho forçado na Cracóvia, na Polônia

Beate e Serge Klarsfeld

Ela é alemã e protestante; ele é francês, judeu e teve familiares mortos no Holocausto. Uniram-se nos anos 60 e, entre as décadas de 70 e 80, acharam dois famosos agentes do serviço secreto nazista, Klaus Barbie e Kurt Lischka, que depois foram presos

Eli Rosenbaum

Nasceu nos EUA uma década após a 2ª Guerra Mundial, mas, mesmo assim, dedicou sua vida à causa. Formado em direito em Harvard, desde 1995 já localizou mais de 100 pessoas ligadas ao partido nazista. Acusou até mesmo Kurt Waldheim, chefe das Nações Unidas entre 1972 e 1981, que nunca foi julgado e chegou a ser eleito presidente da Áustria em 1986

ESTA É A SEGUNDA PARTE DA MATÉRIACAÇA AOS NAZISTAS. CONFIRA AS OUTRAS:

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Parte 1: O exílio do Doutor Morte no Egito

Parte 2: A vida boa de Herbert Cukurs no Rio de Janeiro

Parte 4: O carrasco condenado por uma coincidência

FONTESSitesBBC,Opera Mundi,Reuters,Enciclopédia Britannica,Buzzfeed,Memorial do Holocausto,Simon Wisenthal Archive,Simon Wiesenthal Center, blogherbertcukurs.blogspot.com; livrosThe Execution of the Hangman of Riga, de Anton Kuenzle,The Real Odessa, de Uki Goñi,The Eternal Nazi, de Nicholas Kulish e Souad Mekhennet,Hunting Eichmann, de Neal Bascomb,Eichmann in Jerusalem, de Hannah Arendt,Eichmann Before Jerusalem, de Bettina Stangneth, eHunting Evil, de Guy Walters; jornaisThe New York Times,Haaretz,Times of Israel,The Jerusalem Post,O Globo,Corriere della Sera,The Guardian,The Telegraph,Chicago TribuneeThe Jewish Chronicle, revistasTime,Spiegel,Foreign Affairs,Vice,The Atlantic,New StatesmaneSalon

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