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Como a lavagem cerebral funciona

Faltam dados exatos, mas avanços da neurobiologia começam a dar pistas

Por Carolina Canossa
Atualizado em 22 fev 2024, 10h23 - Publicado em 21 jul 2016, 16h40

lavagem-cerebral8

ilustra Cezar Berje

edição Felipe van Deursen

Imagine perder o controle de seus pensamentos e virar uma espécie de robô que age da forma desejada por um político, um religioso ou uma empresa. Esqueça, porém, a imagem de alguém alterando seu cérebro com choques, cirurgias ou pílulas. Não há fórmula mágica na lavagem cerebral. “Trata-se de uma aplicação de técnicas psicológicas comuns, mas em um nível muito extremo e coercitivo”, diz Kathleen Taylor, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autora de Brainwashing – The Science of Thought Control (“Lavagem cerebral, a ciência do controle do pensamento”, sem edição no Brasil). O conceito de lavagem cerebral remete a um termo do mandarim, “hsi-nao“, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração. Ele surgiu nos anos 1950, quando o jornalista norte-americano Edward Hunter buscava uma explicação para a súbita mudança de comportamento de soldados de seu país. Eles haviam sido reféns de chineses e norte-coreanos na Guerra da Coreia e, ao voltarem aos EUA, tornaram-se comunistas ferrenhos.

LEIA A REPORTAGEM “CÉREBROS DOMADOS”

– Seis casos famosos de lavagem cerebral

– Como funciona a lavagem cerebral forçada

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– Como funciona a lavagem cerebral de grupos

– Como funciona a lavagem cerebral soft

 

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Como o cérebro é condicionado?

Faltam dados exatos, mas avanços da neurobiologia começam a dar pistas

Mirar no alvo

O córtex pré-frontal é a área do cérebro responsável pelo lado racional. Assim, a manipulação deve se encarregar de fazer essa região trabalhar o menos possível, deixando a maior parte das escolhas a cargo de áreas responsáveis pelo subconsciente

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No seu quadrado

O cérebro é bom em dividir comportamentos diferentes em áreas distintas (trabalho, família…). Quanto mais fraca uma área, mais vulnerável à lavagem. Isso explica por que um nazista podia obedecer as ordens de matança e depois ir para casa e ficar com a família

Somos ratos

Sempre que escuta determinada música você se lembra de uma paisagem? É assim que a reconstrução da identidade individual funciona. O torturador é mal quando quer confissões e bom quando vai doutrinar

Palavras-chave

Conceitos abstratos, com diferentes interpretações, como “justiça”, vão para o cérebro com forte carga de emoção, ficando bem fixados. Por isso, manipuladores gostam de usá-los. Já argumentos racionais, baseados em informações, têm pouco impacto nas pessoas

No limite

Normalmente, o cérebro filtra as informações que chegam ao córtex. Mas esse controle fica mais frouxo durante um momento de estresse. É por isso que a pessoa que quer dominar mentalmente tenta exaurir sua vítima ao máximo, causando medo e cansaço

Para mais informações…

Não é possível saber com maior exatidão como essas técnicas atuam no organismo, pois questões éticas proíbem esse tipo de pesquisa. Além disso, a tecnologia disponível não permitiria tal acompanhamento de maneira detalhada

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Não seja uma vítima

Proteção completa, só isolando-se 100% do mundo. Mas certas precauções já ajudam

Cuide da saúde

Gente saudável tem maior senso de controle sobre si. Quem vive numa montanha-russa de muito estresse, pouco sono, álcool e drogas abaixa a guarda. E fica mais exposto às influências

Cultive a experiência

Pessoas mais velhas tendem a acumular mais lições de vida e perceber melhor certas armadilhas dos manipuladores. Elas também têm menos necessidade de fazer parte do “efeito manada” e, apegadas a fatos que já conheceram antes, são mais difíceis de serem convencidas

Estimule a criatividade

Pessoas com grande capacidade imaginativa possuem mais conexões cerebrais. Assim, analisam melhor tudo o que acontece ao seu redor

Apegue-se

É uma ótima forma de não se deixar levar pela “onda” que será imposta em uma tentativa de reprogramação. Quando você sentir que está sendo levado por uma série de argumentos, vai se lembrar do que realmente importa. Família, amigos, valores etc. são escudos nessas horas

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Pare e pense

Desenvolva essa capacidade. Só assim você vai conseguir diferenciar ideias nas quais realmente acredita daquelas em que é apenas massa de manobra

Tenha uma educação diversificada

Cada novo conhecimento fortalece o córtex pré-frontal, o grande tomador de decisões do cérebro. E, quanto mais diversificada e plural for a sua cultura, menos chances você terá de ser vítima da manipulação que leva ao fanatismo ignorante

Tome cuidado em momentos difíceis

Pessoas que tiveram a vida sacudida por acontecimentos grandes (e em geral trágicos), como a morte de um parente, perda do emprego ou uma separação, ficam mais suscetíveis, pois estão em busca de uma válvula de escape

Ajude quem precisa

Conhece alguma pessoa que possa estar passando por essa situação? “Primeiro, afaste-a do ambiente ou do agente coercivo. Ouça o que ela tem a dizer e a respeite e, se for o caso, procure ajuda profissional”, explica Kathleen Taylor

 

CONSULTORIA Kathleen Taylor, psicóloga e especialista em neurociência da Universidade de Oxford (Reino Unido) FONTES Livros Brainwashing, de Kathleen Taylor, Dark Psychology 101, de Michael Pace, Banned Mind Control Techniques Unleashed, de Daniel Smith, Thought Reform and the Psychology of Totalism, de Robert Lifton, e The Search of Manchurian Candidate, de John D. Marks

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