Ele conta com uma boa ajuda materna, mas ainda sim tem um trabalho danado para chegar ao marsúpio, nome da famosa bolsa que a mamãe-canguru tem no ventre. Quando está prestes a parir, a fêmea se deita de costas no chão, com a região pubiana um pouco mais alta do que o resto do corpo.
Assim que nasce, o filhote aproveita a inclinação do corpo da mãe para escorregar rumo à entrada da bolsa. Depois, arrasta-se para dentro dela até estar bem acomodado. O processo todo leva cerca de dez minutos – uma eternidade para o bebê-canguru, que mais parece um vermezinho com seus 2 centímetros de comprimento. “Ao nascer, ele ainda encontra-se em estágio embrionário. Seus olhos estão fechados, ele não tem pêlo algum e suas patas traseiras nem se desenvolveram. O filhote se arrasta apenas com a ajuda das patas dianteiras e tem que ser muito cuidadoso, porque, se cair no chão, sua mãe não o resgatará e ele morrerá”, afirma o zoólogo Mario de Vivo, especialista em mamíferos do Museu de Zoologia da USP. Uma vez dentro da bolsa, o recém-nascido procura o mamilo da mãe para começar a se alimentar. Ao ser abocanhado, o mamilo se dilata e o filhote fica preso nele como se estivesse engatado. Grudado à mãe, e sempre bem alimentado, ele completa seu desenvolvimento em cerca de 200 dias.
Esse tipo de gestação já foi considerado como um processo primitivo na escala evolutiva dos animais. Hoje, porém, os especialistas enxergam nele vantagens para os cangurus. “É apenas uma estratégia reprodutiva diferente. A fêmea fica menos comprometida e, numa situação de escassez de alimento, por exemplo, pode se livrar do filhote e ter uma nova cria num momento mais favorável”, diz Mario.