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Como o corpo humano se decompõe?

É nojento? É. Mas a gente sabe que você quer saber.

Por Julia Moióli
Atualizado em 22 fev 2024, 11h11 - Publicado em 18 abr 2011, 18h50

É um filme de terror de arrepiar os cabelos de qualquer defunto. Depois que a gente passa desta para melhor, nosso corpo perde suas defesas e começa a ser atacado por todos os lados: bactérias, animais e até substâncias produzidas por nós mesmos dão início ao fim. O cadáver vai ficando escuro e inchado, a pele e os órgãos se desfazem e o cérebro vira um caldo. Depois de algum tempo, não sobra quase nada.

A decomposição acontece em duas frentes. A primeira é a mais esquisita: o próprio corpo como a si próprio. “Quando alguém morre, a oxigenação pára de acontecer e o organismo se desequilibra. Minerais como o sódio e o potássio, importantes para o metabolismo, deixam de ser produzidos. Com isso, as células se desestabilizam e passam a digerir o próprio corpo”, diz o fisiologista e professor de medicina legal Marco Aurélio Guimarães, da Universidade de São Paulo (USP).

Ao mesmo tempo, bactérias famintas também entram no banquete. As primeiras a avançarem na carne são as da flora intestinal e da mucosa respiratória, que já vivem no organismo. Para continuarem vivas, essas bactérias invadem os tecidos e os devoram. Depois disso, as bactérias do ambiente deixam o cadáver irreconhecível. O suculento resto fica para insetos e até cães, gatos e urubus.

Em geral, um corpo sepultado leva de um a dois anos para se decompor totalmente, mas esse tempo pode variar dependendo das condições do ambiente e do cadáver – se o morto tomava antibiótico, por exemplo, o processo demora bem mais. No fim, sobram apenas ossos e dentes, que duram milhares de anos a mais que os outros órgãos. Eles são a principal pista para que peritos consigam solucionar mortes violentas.

Vida de morto
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Cadáver vira banquete para bichos e bactérias até ficar só o ossoSUCO PÓSTUMO

A pele passa por uma transformação radical: primeiro, ela perde água e resseca, tornando-se amarela e enrugada. Com o ataque das bactérias, ela fica verde e se dilata. Depois aparecem as bolhas. Quando elas se rompem, é a maior nojeira: a pele começa a soltar líquidos e, por fim, se desmancha

DURO NA QUEDA

O cadáver começa a ficar duro algumas horas depois da morte por causa do acúmulo de cálcio nos músculos. O corpo do morto se contrai e fica com pernas e braços meio dobrados. Para esticá-los, basta dar um puxão — a história de que é preciso quebrar os ossos do morto para deixá-lo reto não passa de lenda

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RESISTÊNCIA MILENAR

No fim da decomposição sobram apenas os ossos e os dentes do cadáver. O segredo é que eles são formados basicamente por minerais, enquanto as bactérias decompositoras se interessam apenas por matéria orgânica. Se o defunto for enterrado em condições normais, longe da umidade e do calor excessivo, esses órgãos podem durar milhares de anos

EREÇÃO EXPLOSIVA

Como a pele da região do pênis é mais frouxa que a de outras partes do corpo, os gases bacterianos se infiltram por ali com mais facilidade. Como resultado, o dito-cujo tem uma falsa ereção. Mas isso não significa que o defunto está animadinho: ele apenas se esticou com a descarga gasosa

PERFUME DE PRESUNTO

Durante a decomposição, as bactérias que consomem o corpo fabricam subprodutos com um odor nada agradável. Substâncias como a putrescina e a cadaverina (credo!) ajudam o corpo a cheirar tão mal. Mas o campeão do fedor é o gás sulfídrico, que, além de tudo, é inflamável

NU COM A MÃO NO BOLSO

Como diz aquela marchinha do Silvio Santos, “do mundo não se leva nada” — nem mesmo as roupas do funeral, que também são uma iguaria muito apreciada pelas bactérias. O algodão e outras fibras naturais vão embora mais rápido, em três ou quatro anos. Já tecidos sintéticos, como náilon e poliéster e outros derivados do plástico, podem durar décadas

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VISTA EMBAÇADA

Como os outros órgãos, os olhos dos mortos também se desidratam. A córnea fica com uma espécie de tela viscosa meio esbranquiçada, parecida com um véu. Mais adiante, quando as bactérias e larvas começam a atuar, os olhos são o prato predileto. Por isso, eles são corroídos rapidinho até sumirem totalmente

MINGAU DE CÉREBRO

As células cerebrais apagam entre 3 e 7 minutos após a morte. Dias depois, quando os gases da decomposição invadem os órgãos, os tecidos do cérebro começam a se desmanchar. A partir daí, a massa cinzenta vai se tornando um líquido viscoso com a consistência de um mingau de cor de argila, que pode escorrer pelas narinas

SANGUE FRIO

Assim que o sangue pára de circular, ele perde oxigênio e fica mais escuro. Em 8 a 12 horas, ele começa a coagular, ficando com a consistência de uma goiabada. No fim, por ação da gravidade, o sangue concentra-se na parte de baixo do corpo, em regiões como as costas, pernas e pés

CRESCIMENTO DO ALÉM

Já ouviu aquele papo de que cabelos, pêlos e unhas crescem depois da morte? É verdade! Eles são feitos de queratina, uma proteína muito resistente. No caso de cabelos e pêlos, a estrutura onde os fios se desenvolvem nem percebe que a irrigação sanguínea acabou. Mas isso só dura 24 horas, quando os fios podem crescer no máximo 0,05 centímetro

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DESTRUIÇÃO INTERNA

Pela ação das bactérias, os órgãos desprendem-se da estrutura do corpo e desmancham. Os que se decompõem mais rápido são os pulmões (que têm tecidos finos), os intestinos (que já possuem bactérias que ajudam na digestão) e o pâncreas (cujas enzimas agem na decomposição). Um dos que mais demoram é o fígado, pois ele é um dos maiores órgãos do corpo humano

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