Todos os anos acontecem entre 70 a 100 ataques de tubarão no mundo inteiro, resultando em cerca de cinco a 15 vítimas fatais. Boa parte das investidas ocorre perto da costa, normalmente em bancos de areia, que são os locais onde os tubarões costumam se alimentar. Embora a maioria dos ataques aconteçam a milhares de quilômetros do Brasil – nas praias da Austrália, da Flórida e da África do Sul -, nós não estamos livres do perigo. O recorde brasileiro foi em 1994, quando 14 pessoas foram mordidas pelo predador, a maioria no Nordeste.
Apesar dessas investidas, o homem não é uma presa natural dos tubarões – eles preferem tartarugas-marinhas, peixes e focas. “O animal fica intimidado com o tamanho do homem”, afirma o biólogo Otto Bismarck Gadig, representante brasileiro no Arquivo Internacional de Ataques de Tubarão, da Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos, e sobrevivente de um encontro com um gralha-branca oceânico, espécie que costuma viver em alto-mar. “Por sorte, vi o animal quando ele ainda estava longe, nadando na minha direção”, diz Gadig. “Eu estava próximo do barco e consegui subir antes de ele me atacar.”
Segundo Gadig, qualquer animal acima de 2 metros já representa um grande perigo para o homem, embora as três espécies responsáveis pela maioria dos ataques sejam o tubarão-branco (vilão do clássico Tubarão, de Steven Spielberg), o cabeça-chata e o tigre – esses dois últimos, autores de boa parte das investidas no Brasil. Cada um tem características próprias e um modo diferente de atacar. Veja, a seguir, o que fazer para evitar ser abocanhado por uma dessas feras e como se defender se o ataque for inevitável.
Para quem costuma se aventurar longe da praia, como surfistas e mergulhadores, a empresa australiana SeaChange acaba de lançar um dispositivo eletrônico, chamado Shark Shield, que funciona como repelente de tubarões.
O contra-ataque Pode parecer loucura tentar lutar contra um tubarão mas, na iminência de um ataque, a melhor – e única – coisa a fazer é reagir
OS PONTOS FRACOS DA FERA
Ao ser atacado, tente bater com força na cabeça do bicho. Use o que tiver em mãos: câmera fotográfica, arpão, cilindro de oxigênio ou os próprios dedos. Tente acertar nos olhos, no nariz ou nas fendas branquiais (guelras), perto da barbatana lateral. Essas são as três partes mais vulneráveis do animal
BATE E REBATE
Os três pontos devem ser acertados com golpes rápidos e repetidos. Como predadores, os tubarões tendem a desistir do ataque se percebem que sua vantagem sobre a vítima é relativa. Ao bater no agressor, você estará enviando a mensagem de que não é tão indefeso quanto ele esperava
Evite banhar-se em locais onde já foi notada a presença do animal. No Brasil, a principal área de risco são as praias da região metropolitana de Recife.
Permaneça em grupo, pois os tubarões preferem atacar pessoas sozinhas.
Não se afaste muito da praia – no caso de um ataque, a distância tornará difícil o socorro.
Evite entrar na água ao entardecer ou à noite, quando a maioria dos tubarões está procurando alimento.
Não entre no mar se estiver sangrando ou menstruada. O olfato ultradesenvolvido do animal percebe a presença de sangue a centenas de metros de distância.
Evite jóias ou bijuterias muito brilhantes. Elas atraem o animal.
Evite trechos do mar usados por barcos de pesca, porque restos de peixe jogados fora também chamam tubarões.
Saiba que, ao avistar um tubarão, você já foi percebido há algum tempo por ele. Avalie, então, se dá para fugir, nadando de volta para o barco. Mas é bom saber que muitos tubarões nadam rápido, a cerca de 70 km/h. Se for tentar a fuga, evite dar as costas para o animal.
Se não der para fugir, tente permanecer abaixo do bicho, pois os tubarões costumam atacar de baixo para cima ou no mesmo nível. Raramente eles se curvam para baixo para dar um bote.
CABEÇA-CHATA (Carcharhinus leucas)
Freqüenta toda a costa brasileira e já foi encontrado até no rio Amazonas, a 4 000 quilômetros do mar. Vive em áreas próximas de estuários e costuma alimentar-se durante o crepúsculo. Provavelmente é o responsável pela maioria dos ataques a surfistas em Pernambuco, junto com o tubarão tigre. Estudiosos especulam que sua ferocidade está associada à alta taxa de testosterona em seu organismo, embora isso não esteja comprovado.
3,5 metros
TIGRE (Galeocerdo cuvier)
Vive em águas tropicais e é considerado uma das espécies mais agressivas. Presente em todo o litoral brasileiro, tem hábitos alimentares crepusculares, assim como o cabeça-chata. Na sua dieta, dá preferência a peixes, animais marinhos vertebrados e pequenos tubarões. Durante o ataque, atua com extrema agilidade e rapidez. Na primeira investida morde forte para identificar a presa, balançando a cabeça de um lado para outro.
6 metros
TUBARÃO BRANCO (Carcharodon carcharias)
A mais agressiva de todas as espécies, é encontrado em águas temperadas e subtropicais. Sua presença já foi registrada no litoral brasileiro. Tem, em média, 6 metros. Predador diurno, sua dieta varia conforme a idade: quando jovem, alimenta-se de peixes; adulto (com 3 metros ou mais), prefere mamíferos marinhos. Ao atacar, ele normalmente dá uma primeira mordida para deixar a presa sangrando até morrer. Só depois termina sua refeição.
6 metros
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