Ela apareceu há cerca de 9 mil anos, criada por povos nômades que ocuparam a Finlândia na pré-história. “A sauna é um símbolo de nosso país e até hoje é o primeiro cômodo que um finlandês ergue quando vai fazer uma casa. Atualmente existem 2,2 milhões de saunas para 5,2 milhões de habitantes”, afirma o antropólogo Juha Pentikäinen, da Universidade de Helsinque, na Finlândia. O tipo mais tradicional, a chamada savu sauna (“sauna de fumaça”), era uma construção escavada no pé de um morro, formando uma espécie de caverna subterrânea. Para os pioneiros finlandeses, a sauna era considerada um lugar sagrado, onde se purificavam o corpo e o espírito. Lá ocorriam rituais de curanderia, partos e até casamentos! Como em um cerimonial religioso, também havia regras rígidas: era proibido fazer barulho, fofocar ou falar mal de alguém. A invenção finlandesa deu origem ao tipo que hoje conhecemos como sauna seca. O banho de vapor ou sauna úmida surgiu bem depois, na Grécia antiga.
Mas foram os turcos que mais avançaram nessa técnica, aquecendo caldeirões de bronze cheios de água em grandes salões de mármore com teto côncavo, desenvolvendo o chamado banho turco. Entre todos esses povos, a sauna era muito popular por seu suposto poder curativo. Ainda no século 4 a.C., o grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, afirmava que a temperatura alta podia tratar qualquer doença. “É um grande exagero, mas de fato a sauna úmida funciona como uma inalação, facilitando a secreção dos pulmões e a limpeza do nariz”, diz o otorrinolaringologista João Ferreira de Mello Jr., do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Mas quem tem problemas cardíacos ou alguém na família que sofra dessas complicações deve evitar o hobby. “A desidratação provocada pelo calor da sauna concentra o sangue e aumenta a probabilidade de entupimento das artérias”, afirma o hematologista Cyrillo Cavalheiro Filho, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Suadouro indígena No sweat lodge, os nativos americanos libertavam a alma do mal
Tribos sioux que ocupavam os Estados Unidos antes da chegada dos colonizadores europeus também tinham uma espécie de sauna rudimentar, o chamado sweat lodge (“tenda de suar”). Uma fogueira cercada de pedras era acessa. Depois essas rochas quentes eram levadas para dentro de uma tenda fechada, considerada um templo de orações onde acontecia um importante ritual de purificação, o inipi. Mitos sagrados dos siouxs que possuíam rica simbologia só podiam ser recitados pelos sacerdotes da tribo nesses locais. A sauna representava o útero da mãe Terra, enquanto a escuridão da tenda era a ignorância humana. As pedras equivaliam ao despertar da vida e o vapor ativava as forças criativas do universo. Em outras ocasiões, a sauna também precedia cerimônias com o peiote, um alucinógeno retirado de certo tipo de cacto. Segundo a crença indígena, o suor da sauna limpava o corpo e o peiote libertava a alma do mal.
Tradição finlandesa Primeiras construções ficavam encravadas em montanhas
CHOQUE TÉRMICO
Alternar o calor da sauna com um banho em algum lago gelado que houvesse por perto era obrigatório. Outra opção era rolar na neve. Os adeptos da tradição acreditam que o contraste de temperatura ajudava a prevenir doenças e beneficiava o sistema circulatório
SAÍDA ESTRATÉGICA
Antes de começar a sauna, era preciso deixar a fumaça formada pela fogueira sair. Esse problema só foi eliminado no século 18, quando apareceram as primeiras saunas com chaminés
CASA AQUECIDA
A sauna tradicional era uma construção de dois andares, feita de madeira e escavada no pé de um morro. Na parte inferior ficava o forno quente e, no andar de cima, as pessoas. No início da ocupação da Escandinávia, o lugar também servia como casa e o cubículo podia abrigar uma família inteira durante o inverno
FORNO DE PEDRAS
Considerado o coração da sauna, o forno de pedras acumulava grande quantidade de calor que depois era liberado aos poucos. A tarefa de fazer uma boa fogueira para aquecer as rochas ficava a cargo das pessoas mais experientes da comunidade e podia demorar um dia inteiro. Durante o banho de calor, ervas colocadas sobre as pedras conferiam um aroma agradável ao ambiente
O ESPÍRITO DA COISA
Para os pioneiros finlandeses, a sauna era um lugar sagrado, onde se purificava o corpo e a alma. Ao jogar água sobre o forno de pedras eles aumentavam a umidade do ar e criavam vapor, que era chamado de löyly, algo como “espírito da sauna”
COMO ADÃO E EVA
O costume era que homens e mulheres freqüentassem o ambiente sem roupa, mas em horários diferentes. Como parte do ritual, os banhistas batiam com galhos e folhas na pele para ativar a circulação sanguínea