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Como uma favela é urbanizada?

Por Marina Motomura
Atualizado em 22 fev 2024, 11h34 - Publicado em 1 set 2009, 17h17
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A urbanização de uma favela começa com o levantamento dos problemas que afetam a região. Da falta de saneamento básico à ausência de asfalto, os obstáculos variam – até a localização do assentamento pode ser um problema. “As favelas costumam surgir em regiões que outros empreendimentos imobiliários não ocuparam: sob pontes e viadutos, à beira de córregos ou em encostas de morros”, diz Alex Abiko, professor de engenharia civil da USP. A urbanização de favelas no Brasil é recente. Nos anos 60, os moradores eram simplesmente removidos. Depois, por volta dos anos 80, programas do governo passaram a resolver questões pontuais, como redes de água. Hoje, os projetos incluem não só infraestrutura mas também melhora na qualidade de vida. Veja aqui os principais problemas que afetam as favelas e vire a página para entender como elas são urbanizadas.

Cidade sitiada

Falta de infraestrutura, condições precárias de saúde e problemas sociais afetam favelas

LADEIRA ABAIXO

Nas grandes cidades, em geral, os únicos terrenos livres são as áreas de risco, como encostas de morros e barrancos. É justamente nesses vazios urbanos que surgem as favelas. Improvisadas, as moradias à beira de morros correm risco de sofrer solapamento e deslizamentos de terra. Quanto mais inclinado o terreno, maior o risco

CURTO-CIRCUITO

Muitas favelas não têm redes de energia elétrica oficiais e recorrem a gatos para desviar energia. As ligações clandestinas, feitas com material velho e inadequado, são perigosas: podem provocar desde choques em quem passar perto de um fio desencapado a incêndios e curtos-circuitos

SEM DOCUMENTO

Quem mora na favela não tem CEP. Entre becos e vielas sem nome, os carteiros ficam perdidos e as correspondências não chegam. Para piorar, os moradores não conseguem comprovante de residência, documento necessário para conseguir emprego, por exemplo. Como as moradias são ilegais, sem escritura, os moradores correm o risco de despejo o tempo todo

E A CHUVA LEVOU

Sem valetas ou canaletas, a água da chuva não tem por onde escorrer. Quando chove, a água pode empoçar e virar ninho para o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. A água pluvial arrasta o que está no caminho, além de transformar as ruas de terra batida em lamaçal

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ERA DAS TREVAS

Sem postes de iluminação pública, a população fica desprotegida da violência durante as noites. Afinal, fica mais fácil para ladrões e traficantes sumir no escuro… Só sobra a iluminação vinda de dentro das residências

QUESTÃO DE SAÚDE

Como os barracos ficam colados uns aos outros, a luz do Sol não entra. A umidade aumenta, prato cheio para o crescimento de fungos, que podem causar doenças. Isso sem falar nos males causados pela falta de saneamento básico, como cólera, disenteria e esquistossomose

BECO SEM SAÍDA

A densidade demográfica é alta – há muita gente por metro quadrado. Sem espaço livre, falta lugar para ruas – no máximo, há becos e vielas. Isso impede não só o acesso de carros mas também a entrada de serviços importantes, como caminhões de lixo e ambulâncias

ENTRANDO PELO CANO

Improvisadas, as casas não estão ligadas à rede de água nem à rede de esgoto oficial da cidade. Os moradores dão um jeitinho, fazendo gatos que roubam água de casas vizinhas ou da própria prefeitura, e despejam o esgoto a céu aberto, principal problema ambiental do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

*FONTES – URBANIZAÇÃO DE FAVELAS EM FOCO: EXPERIÊNCIAS DE SEIS CIDADES; URBANIZAÇÃO DE FAVELAS – A EXPERIÊNCIA DE SÃO PAULO

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Ô de casa

Pesquisa* mostra quem são os moradores das favelas de SP

Gênero

56% dos chefes de família são homens

Educação

12% dos chefes de família concluíram o 3º ano do ensino médio

3% têm curso superior

Renda

38% dos moradores ganham entre um e dois salários mínimos

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4% declaram renda superior a cinco salários mínimos

Material usado

81% das casas são feitas de alvenaria

19% de madeira

Histórico

40% das favelas começaram na década de 1990

3% na década de 1950

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*FONTES – URBANIZAÇÃO DE FAVELAS EM FOCO: EXPERIÊNCIAS DE SEIS CIDADES; URBANIZAÇÃO DE FAVELAS – A EXPERIÊNCIA DE SÃO PAULO

Cidade restaurada

Além de redes de água e luz, área de lazer e geração de emprego dão nova cara à região

A PRAÇA É NOSSA

As famílias que moravam à beira das áreas de risco também são removidas. Para acomodá-las, são erguidos prédios – na horizontal, não há para onde crescer. Praças são construídas nas encostas, cumprindo duas funções: melhoram a qualidade de vida da comunidade, com esporte e lazer, e evitam que as áreas de risco voltem a ser ocupadas por barracos

ÀS CLARAS

Os gatos dão lugar à rede oficial de energia elétrica. A favela também ganha postes de iluminação pública, que, além de aumentar a segurança de quem passa por ali à noite, ajudam o trânsito noturno de veículos e embelezam os novos prédios e praças construídos com a urbanização

DESTINO DA CHUVA

A água da chuva escorre por valetas, grelhas e bueiros, feitos de material durável e sem valor comercial, como concreto. Raramente empregam-se materiais como cobre ou ferro – os metais têm valor comercial e poderiam ser roubados para revenda em sucatas e ferros-velhos

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CHECK-UP

A urbanização também deve acabar com as moradias insalubres – úmidas e sem luz natural. Os barracos de madeira, mais frágeis, são substituídos por construções de alvenaria, que protegem melhor de chuvas e ventos. Com o espaçamento maior entre as casas, elas ganham janelas, o que já melhora a circulação de ar, a umidade e a entrada de luz

LAR, DOCE LAR

A etapa final da urbanização da favela é a regularização fundiária. De uma área ocupada ilegalmente e sujeita a despejos, a favela passa a ser um bairro dentro da lei. Além de uma casa para chamar de sua, os moradores ganham documentos que evitam que eles sejam expulsos de seu imóvel

VIAS DE FATO

As ruas ganham pavimentos permeáveis – os espaços entre os blocos deixam a água passar. Os antigos becos e vielas viram ruas largas, em que passam ambulâncias e caminhões de lixo. O problema é que algumas casas podem ser removidas para abrir espaço

SALVO PELO CANO

Para regularizar o abastecimento de água, as tubulações clandestinas são substituídas por ramificações da rede oficial de água. O esgoto é canalizado, evitando a poluição de córregos e rios. Segundo o IBGE, a mortalidade infantil cai de 44,8 mortes por mil crianças de até 5 anos de idade em residências sem saneamento básico para 26,1 por mil crianças com a medida

DINDIN POR DINDIN

A urbanização melhora a qualidade de vida, mas traz um problema prático: como pagar as contas de água e luz, que antes eram “grátis”? Favelas como a de Sacadura Cabral, em Santo André (SP), criaram programas sociais no entorno, para gerar empregos e renda aos moradores da região

Consultoria – ALEX ABIKO, PROFESSOR DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA USP; ANDERSON KAZUO, ARQUITETO DO INSTITUTO PÓLIS

Censo da laje

Só em São Paulo, há 1 573 favelas

No mundo

1 bilhão de pessoas vivem em favelas, segundo estudo do Banco Mundial

No Brasil

Uma pesquisa do Ministério das Cidades afirma que 12,4 milhões de brasileiros moram em “assentamentos precários”, que incluem favelas e cortiços

Em São Paulo

A cidade de São Paulo tem 1 539 217 moradores de favelas, em um total de 377 236 moradias espalhadas por 1 573 comunidades. Na capital paulista, – 30 802 moradias já haviam passado por projetos de urbanização, favorecendo 125 401 moradores

LEIA MAIS

– Qual foi a primeira favela do Brasil?

– Qual é a maior favela do mundo?

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