Dá para explodir de tanto comer?
Em princípio, não dá para imitar Dona Redonda, da novela Saramandaia: você chama antes o consagrado Hugo. Mas um caso no Japão, em 2003, desafia os médicos.
Teoricamente, não – pelo menos, isso não está previsto nos livros de medicina.
Mas um caso descrito no periódico científico Legal Medicine em março de 2003 deixou uma pulga atrás da orelha. Legistas da Universidade de Okayama, no Japão, analisaram o corpo de um homem encontrado morto em um banheiro público com dois buracos (um de 14 centímetros e outro de 6 centímetros) no estômago.
Segundo a análise, o homem tinha 49 anos, sofria de problemas gástricos – não tão graves, mas suficientes para produzir úlceras. Como não apresentava marcas de traumas no abdômen e o estômago estava cheio no momento da ruptura, os legistas japoneses levantaram a possibilidade de o estômago ter estourado por ingestão excessiva de comida.
“Eu acredito que o estômago possa se romper espontaneamente, embora isso seja bem raro”, diz o médico japonês Satoru Miyaishi, do Departamento de Medicina Legal da Universidade de Okayama. Entretanto, até que se tenha um estudo mais conclusivo, a maioria dos especialistas continua acreditando que o excesso de comida não é suficiente para provocar uma ruptura.
“As paredes do estômago só podem estourar em caso de um choque, como um acidente de carro”, diz o gastroenterologista Arthur Garrido, da USP. Partindo desse pressuposto, pode-se sugerir que a vítima japonesa tenha sofrido um tombo (leve o suficiente para não deixar marcas no corpo), o que, somado a uma possível rigidez nas paredes estomacais causada por uma úlcera, pode ter sido fatal.
Caso não aconteça nenhum trauma, o estômago enche até um certo limite e, se a pessoa continuar comendo, coloca o excesso para fora chamando o consagrado Hugo.
O volume médio do estômago de um adulto varia entre 1 e 1,5 litro, mas isso não significa que, se você tomar uma garrafa de 2 litros de refrigerante, vai vomitar 0,5 litro. Primeiro, porque as paredes do estômago são elásticas e, segundo, porque o que você come ou bebe não fica apenas no estômago: distribui-se ao longo de todo o sistema digestivo, que, da boca ao ânus, mede mais de 7 metros. “O tubo digestivo como um todo tolera limites muito altos”, conclui o gastroenterologista Milton Costa, da UFRJ.