Pergunta da leitora – Gleice, São Paulo, SP
Ninguém sabe ainda. Isso porque não há sequer consenso sobre os motivos do crec-crec. Enquanto alguns especialistas acreditam que o barulho tenha a ver com uma variação de pressão no líquido que protege as articulações, outros apontam o estiramento dos ligamentos como causa mais provável. Mas nenhuma das duas teorias foi comprovada. Quanto aos danos que o hábito pode causar, um estudo publicado em 2011 concluiu que não há evidências de que um histórico de estalar os dedos com frequência aumente o risco de ter osteoartrite (doença degenerativa das articulações) nas mãos. Mas não custa lembrar que as articulações não fazem barulho naturalmente. Isso só rola quando elas são forçadas com uma flexão ou torção. Assim, estalar os dedos pode não fazer mal, mas com certeza também não faz bem. E ainda pode virar um tique nervoso.
Os médicos que questionam a teoria do líquido sinovial argumentam que, em articulações normais, esse fluido está presente em quantidade muito pequena
As articulações metacarpofalângicas são as mais móveis e, por isso, mais fáceis de estalar
Barulhinho bom
Há duas teorias principais para explicar o estalar: uma envolve gases, a outra envolve um coice
1. As articulações dos dedos são banhadas pelo líquido sinovial, um lubrificante que tem função de proteção e fica contido na cápsula articular, uma membrana composta por ligamentos que envolve nossas articulações. Há gases diluídos nesse fluido viscoso
2a. Quando os dedos são submetidos a alguma tração, a cápsula se estira, reduzindo a pressão na região. Uma teoria diz que, como consequência, os gases formam uma bolha que estoura, causando um estalido. Os gases levariam um tempinho para se diluir novamente e, por isso, não conseguiríamos estalar o mesmo dedo várias vezes na sequência
2b. Outra teoria diz que, ao serem flexionadas ou estendidas com certa força, as articulações dos dedos precisam voltar à sua posição inicial, o que causaria um impacto no revestimento sinovial. Quando isso acontece, os ligamentos sofreriam uma espécie de “coice”, que emitiria o estalido
Consultoria Anderson Monteiro, ortopedista e especialista em cirurgia de mão do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, Claudio Henrique Barbieri, professor do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, João Carlos Nakamoto, médico do núcleo de cirurgia da mão do Hospital Sírio-Libanês, Mauricio Garcia, fisioterapeuta membro do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp, e Walter Yoshinori Fukushima, ortopedista e professor de pós-graduação da Faculdade de Medicina do ABC
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