Mulheres que mudaram a história: Eva Perón
A esposa do presidente argentino defendeu as causas femininas e as classes menos favorecidas. Ao morrer, aos 33 anos, tinha o status de santa
O que foi: Primeira-dama
Onde viveu: Argentina
Quando nasceu e morreu: 1919-1952
Três milhões de pessoas tomaram as ruas de Buenos Aires. Oito morreram esmagadas, tentando ver o corpo. Mais de 2 mil foram hospitalizadas com ferimentos. Foi preciso importar flores do Chile – as floriculturas da capital argentina foram esvaziadas.
A reação à morte de Eva Perón, em 1952, foi proporcional à sua importância para os argentinos. Evita (como ela pedia para ser chamada) era apenas a primeira-dama do país. Nunca teve cargos políticos. Mas já havia sido declarada, meses antes de morrer, a líder espiritual da nação. Era a mãe dos pobres. Mais do que isso, a mãe do país.
PASSADO APAGADO
Quando conheceu o então ministro Juan Perón, em 1945, Eva estava estabelecida como uma atriz de rádio famosa, com uma rotina financeiramente confortável pela primeira vez na vida. Nascida no vilarejo de Los Toldos, ela era filha da amante do fazendeiro Juan Duarte.
Era comum na época que homens ricos mantivessem mais de uma família. Mas, quando a garota tinha apenas 1 ano, Juan renegou a mãe dela, Juana Ibarguren, e suspendeu qualquer ajuda financeira. Juana teve que costurar para fora para sobreviver.
Quando adulta, Eva fez de tudo para esconder o passado. Chegou a mandar destruir sua certidão de nascimento. Quando, já em 1947, a Time publicou essa história, o governo argentino proibiu a revista de circular no país durante vários meses. Naquele momento, ela já era a primeira-dama. Havia sido amante de Juan Perón a partir da noite em que o conheceu, num baile beneficente. Ele se divorciaria na sequência e os dois se casariam em 1945.
CONTATO COM O POVO
Evita morreria semanas depois de o marido ser reeleito presidente. Ela tinha câncer cervical e não ficava em pé sozinha fazia meses. Chegou a ser submetida a uma lobotomia para amenizar as dores e foi a primeira argentina a receber quimioterapia.
Seu corpo acabaria passando por uma via sacra tenebrosa: foi roubado em 1955, por militares que depuseram Perón da presidência e temiam que as visitas ao túmulo provocassem rebeliões. Antes de ser enterrado no Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, em 1976, foi escondido na Itália. Encontrado por Perón, depois foi mantido na Espanha, onde ele vivia no exílio.
Ao se tornar primeira-dama, a garota pobre de Los Toldos representou o marido em uma bem-sucedida viagem pela Europa. Defendeu o voto feminino, que de fato acabaria sendo liberado em 1947. Mas, principalmente, criou a Fundação Eva Perón.
À frente da instituição, Evita passou muitas horas por dia conversando com os pobres e beijando as mãos de leprosos. Essa atenção é que consolidou o mito.
SEUS GRANDES ACERTOS
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Fez diplomacia
Viajando sem o marido, Evita conseguiu ser recebida com honras de chefe de Estado na Espanha, na França e no Vaticano -
Apoiou Perón
Ela foi importante para ajudar na mobilização popular que, em 1945, transformou Juan Perón de ex-ministro preso em candidato a presidente -
Ajudou os pobres
Sua fundação construiu hospitais, distribuiu toneladas de roupas e alimentos e investiu na melhoria do ensino público
SEUS GRANDES FRACASSOS
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Desagradou a muitos
O estilo populista do casal irritou boa parte da elite política do país, e ainda hoje historiadores encontram sinais de que parte do dinheiro dos programas assistenciais ia parar na Suíça. Pressionado pela falta de apoio, o presidente acabou sofrendo um golpe de Estado em 1955 -
Pensou em golpe
No fim da vida, Eva se mostrava cada vez mais agressiva. Teria comprado 1.500 metralhadoras para dar início a uma revolução. Podia ser consequência da doença, mas tudo indica que ela estava se preparando para apoiar um golpe do marido
DICA DE FILME
No musical Evita, de 1996, a cantora Madonna interpreta Eva e Antonio Banderas é Juan Perón