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Mulheres que mudaram a história: Maria Quitéria

A primeira mulher a fazer parte do Exército brasileiro começou a lutar disfarçada de homem. Acabou comandando um batalhão feminino

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 22 fev 2024, 10h07 - Publicado em 2 mar 2018, 12h44

O que foi: Soldado
Onde viveu: Brasil
Quando nasceu e morreu: 1792-1853

O fazendeiro Gonçalo de Almeida estava possesso. Sua filha havia desaparecido fazia duas semanas e ele tinha uma ideia de onde estava: no meio de uma guerra. Ele a encontrou num acampamento militar, disfarçada de homem, o soldado Medeiros.

Surpreso, o comandante, major José Antônio da Silva e Castro, não fazia ideia de que um de seus guerreiros era na verdade Maria Quitéria de Jesus Medeiros.

E ele não liberou a moça. Maria Quitéria era um soldado bom demais para voltar para os afazeres domésticos. Quitéria se viu liberada para adaptar o fardamento: colocou um saiote por cima das roupas e um penacho no capacete. Seu exemplo ficou tão famoso que outras mulheres se apresentaram para lutar.

SOLDADO PORRETA

Nascida em Feira de Santana, Bahia, ela já tinha 30 anos quando se tornou o primeiro soldado mulher do Brasil. Tinha um namorado, mas ainda estava solteira em 7 de setembro de 1822, quando, em São Paulo, o filho do rei português declarou a Independência do Brasil.

O Rio de Janeiro, a capital do novo país, entrou em festa, mas os portugueses reagiram em várias outras cidades. Estavam dispostos a manter enclaves lusitanos. Rapidamente, controlaram Salvador. Mas os adeptos de Lisboa não conseguiram dominar o interior. Feira de Santana se tornou um dos centros da resistência pela Independência.

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Maria Quitéria ficou empolgada quando a vila recebeu a proposta de enviar homens para aderir. Mas seu pai a proibiu de pegar em armas. Foi quando ela se disfarçou e fugiu com a farda do cunhado.

Entrou para o regimento de artilharia, depois foi transferida para o Batalhão dos Voluntários do Príncipe. Lutou nas batalhas de Ilha de Maré, de Pituba e de Itapuã. Participou, com água na altura do peito, da batalha da foz do rio Paraguaçu, na entrada da Baía de Todos os Santos.

APOSENTADA SIMPLES

Em 2 de julho de 1823, a Bahia se tornou definitivamente parte do Brasil. A história da soldado mulher foi devidamente reconhecida pelo Exército, que concedeu a ela o título de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, que ela recebeu no Rio de Janeiro, das mãos do imperador. Dom Pedro I também deu a ela uma carta para o pai, pedindo que ele perdoasse a desobediência da filha.

Maria é hoje patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército brasileiro, e todos os estabelecimentos militares do Brasil têm um quadro com seu retrato. Mas ela viveu em silêncio por três décadas.

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Voltou para casa, casou-se com o antigo namorado, o agricultor Gabriel Pereira de Brito. Teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. Quando ficou viúva, mudou-se para Salvador. Morreu em 1853. Estava cega e vivia do soldo militar.

SEUS MAIORES ACERTOS

  • Desobedeceu o pai – Não era fácil fugir do controle de um homem, seja do pai, ou do marido. Se não tivesse sido reconhecida, ela apanharia muito
  • Foi feminina – Colocar adereços na roupa militar podia fazer dela um alvo prioritário para os inimigos. Maria Quitéria não se importou e decorou a farda
  • Lutou com coragem – Em 1822, a decisão mais óbvia do comandante seria liberar a moça. Mas ela lutava tão bem que ele teve o bom senso de mantê-la

SEUS MAIORES FRACASSOS

  • Não se valorizou – Apesar dos elogios públicos do imperador, Quitéria não conseguiu nem mesmo o direito a uma pensão do pai quando ele morreu. Ela teria direito ao dinheiro, mas optou por não brigar por ele. Discreta, morreu desconhecida entre os vizinhos
  • Correu riscos – A soldado colocou a posição da tropa em perigo quando invadiu um acampamento à noite para fazer reféns. A ação poderia provocar a morte de muitos de seus colegas de farda.Mas deu certo, e ela retornou para o acampamento levando reféns portugueses

 

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Dica de livro
Mais informações em Independência do Brasil na Bahia (Luís Henrique Dias Tavares, editora EDUFBA)

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