O que é um filme noir?
Aprenda a identificar um filme noir - histórias cheias de suspense e traição, com um estilo visual e narrativo que marcou as décadas de 40 e 50
Até hoje os especialistas não chegaram a um consenso se o noir é um gênero (como drama, comédia, suspense) ou um estilo de filmagem. A classificação foi cunhada em 1946 pelo crítico francês Nino Frank para se referir a um tipo de longa-metragem de suspense que estava em voga nos anos 1940, com ambientação urbana, temática criminal e anti-heróis.
O visual costumava ter fortes influências da corrente cinematográfica conhecida como expressionismo alemão e da técnica de claro/escuro do pintor barroco Caravaggio (daí a escolha do termo “noir“, que significa “preto” em francês). Porém, esse termo (e o prestígio dos filmes noir) só se consolidou na década de 1970. Especialistas classificam como noir mais de 300 títulos produzidos entre 1940 e 1958.
1) CADA FALA É UM TIRO
Os roteiros costumavam ter alguns “vícios”. Os diálogos eram rápidos, com frases precisas e incisivas. Ao mesmo tempo, permitiam a citação de passagens poéticas ou dramáticas. Flashbacks, como os de Fuga do Passado (1947), eram frequentes, ajudando a caracterizar personagens assombrados pelo que fizeram ou a provar que o presente não é bem o que parece ser.
2) DARKÓPOLIS
As tramas tinham um forte componente urbano e adoravam mostrar a cidade como um lugar opressor, perigoso e capaz de corromper os homens de bem – vide Fúria Sanguinária (1949). Cenas à noite e chuvosas reforçavam a ideia. Problemas sociais eram temas recorrentes – as histórias eram recheadas de crimes, investigações policiais, figuras marginalizadas, álcool e cigarro.
3) DO BEM OU DO MAL?
Os protagonistas costumam ter objetivos dúbios, cínicos e até cruéis. O herói nem sempre salva e, às vezes, é até violento. A suposta vítima não é tão indefesa. E o interesse amoroso pode ser a vilã da trama. São as famosas “femme fatales” (“mulheres fatais”, em francês), que abusam da sensualidade para manipular os homens, como Rita Hayworth em Gilda (1946).
4) PRETO NO BRANCO
Outra característica era a iluminação de três pontos. Havia uma fonte de luz para estabelecer o escuro (sombras), outra para o claro (contraste com o negro) e outra para criar um gradiente de cinza, regulada para criar a “atmosfera” da cena. Com frequência, os personagens eram banhados por longas sombras lineares, projetadas de barras da prisão, escadas ou venezianas nas janelas.
5) UMA AULA DE CINEMA
Em seu auge, nos anos 40, o noir era considerado um subgênero menor, sensacionalista. Ainda assim, vários clássicos surgiram nessa época, como O Falcão Maltês (1941), Pacto de Sangue (1944), À Beira do Abismo (1946), Crepúsculo dos Deuses (1950) e A Marca da Maldade (1958), reunindo talentos como o astro Humphrey Bogart e os diretores Orson Welles e Billy Wilder.
6) DESEQUILIBRADO
O clima perturbador era reforçado com truques visuais, como os enquadramentos inusitados. Muitas vezes, eles eram “inclinados” (o chamado “ângulo holandês”). Nas cenas mais abertas, a composição dos elementos era assimétrica (uma herança do expressionismo alemão, bem aproveitada em A Morte num Beijo, de 1955). Já os close-ups eram bem fechados, intensos e desalinhados.
VERSÕES MODERNAS
Os “neo noir” ganharam força a partir da Guerra Fria. Confira 10 boas sugestões:
- Sob o Domínio do Mal (1962)
- Chinatown (1974)
- Taxi Driver (1976)
- Blade Runner: O Caçador de Androides (1982)
- Instinto Selvagem (1992)
- Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995)
- Los Angeles – Cidade Proibida (1997)
- Amnésia (2000)
- Sin City – Cidade do Pecado (2005)
- Drive (2011)
FONTES Livros The Film Noir Encyclopedia, de Alain Silver, The Dark Side of the Screen: Film Noir, de Foster Hirsch, Into the Dark (Turner Classic Movies): The Hidden World of Film Noir, 1941-1950, de Mark A. Vieira; documentário Film Noir: Bringing Darkness to Light (2011)