PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

O que foi a Guerrilha do Araguaia?

Durante sete anos, quase cem guerrilheiros tentaram combater a ditadura no improviso

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 14 dez 2018, 17h00 - Publicado em 14 dez 2018, 16h53

Foi a maior tentativa do Partido Comunista do Brasil de instaurar um movimento comunista rural no País. O PCdoB se inspirou na Grande Marcha na China, em que 100 mil combatentes caminharam por 10 mil quilômetros em apoio a Mao Tsé-tung, em 1934.

O plano era mobilizar os camponeses da região do Araguaia, na divisa dos Estados do Pará, Maranhão e do atual Tocantins, e marchar até Brasília para tomar o poder.

Em 1967, depois de passarem por um treinamento na China, os primeiros membros chegaram ao Araguaia. Cinco anos depois, o Exército iniciou o combate aos guerrilheiros, na maior mobilização de tropas brasileiras desde a 2ª Guerra Mundial.

Guerra aberta

Guerrilha do Araguaia
(Kiko Mauriz/Mundo Estranho)

1. Os “paulistas”

O Araguaia foi escolhido por ser isolado e marcado por conflitos de terra. Os militantes chegaram aos poucos, compraram lotes e montaram comércios nas vilas ao redor de Xambioá (GO, atual TO) e Marabá (PA).

Os camponeses desconfiaram dos jovens, chamados de “paulistas” porque vinham, em geral, do Sul e do Sudeste. Mas os forasteiros os conquistaram por serem prestativos.

Continua após a publicidade

2. Treinamento militar

Os militantes faziam incursões no mato, onde aprendiam a sobreviver carregando apenas munição e um pacote de sal. Jovens universitários urbanos, eles aprenderam a encontrar o lugar mais seguro para dormir na selva e a caçar porcos-do-mato para comer.

Também aproveitavam para mapear a área e encontrar esconderijos, onde guardariam suas armas e se protegeriam quando necessário.

3. Aulas de política

A região tinha 6.500 km2 (pouco mais de quatro vezes o município de São Paulo) e só 20 mil moradores, que viviam na pobreza. Os jovens instalaram salas de aula, onde alfabetizavam crianças e adultos e transmitiam noções de política (com um viés totalmente socialista).

Os padres da região, muitos deles missionários franceses inconformados com a miséria local, passaram a simpatizar com os guerrilheiros.

Continua após a publicidade

4. A reação

No início de 1972, parecia que tudo ia bem. O PCdoB estimava que, com mais dois anos de treinamento, poderia deflagrar uma revolta armada. Acontece que, meses antes, dois jovens fugiram do Araguaia. Uma era Lúcia Martins, que estava doente e grávida.

Ela foi presa em São Paulo e torturada. Acredita-se que Lúcia tenha sido a primeira pessoa a revelar ao Exército o que acontecia no Araguaia.

5. Fiasco na mata

Em abril de 1972, tropas do Exército começaram a chegar a Xambioá e Marabá. A Operação Papagaio contou com 3.200 homens e uso de helicópteros e até napalm (arma incendiária que os EUA estavam usando na Guerra do Vietnã).

Os militares tinham mais recursos, só que não conheciam a região. Prenderam alguns militantes, como o futuro deputado José Genoino, mataram outros, mas sofreram mais baixas que os guerrilheiros. Em outubro, recuaram.

Continua após a publicidade

6. O massacre meticuloso

Em abril de 1973, uma segunda operação teve início. Dessa vez, eram menos agentes, mas eles conseguiram se infiltrar na região.Aos poucos, prenderam e torturaram camponeses suspeitos de serem aliados dos guerrilheiros.

A partir de outubro, começaram a entrar na mata, em grupos pequenos, bem informados e bem armados. A ordem era não deixar nenhum guerrilheiro vivo.

7. Fim melancólico

Em outubro de 1974, a última militante encontrada na região, Walkiria Afonso Costa, foi presa e morta. Era o fim de uma ação em que o Exército decapitou guerrilheiros e queimou seus corpos. Muitos foram jogados vivos de cima de helicópteros. Estima-se que morreram 20 militares, 67 guerrilheiros e 31 camponeses.

As Forças Armadas negam até hoje as atrocidades, mas as descobertas de ossadas, os documentos e os depoimentos de ex-militares mostram que a guerrilha foi exterminada de maneira cruel.

Fontes: Documentários Camponeses do Araguaia – A Guerrilha Vista por Dentro, de Vandré Fernandes, e Soldados do Araguaia, de Belisario Franca; site Comissão Nacional da Verdade; livros Os Protagonistas do Araguaia, de Patricia Sposito Mechi, Operação Araguaia, de Tais de Morais e Eumano Silva, e A Lei da Selva, de Hugo Studa.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.