Quais estados brasileiros já tentaram ser independentes?
Aconteceram pelo menos três rebeliões separatistas no século 19, todas incentivadas pela elite
Antes de cravar uma resposta definitiva, é importante levar em conta as interpretações sobre diferentes movimentos revoltosos ocorridos no Brasil. Um exemplo é a Revolução Constitucionalista de 1932. Para alguns especialistas, o movimento pretendia separar o estado de São Paulo do restante do país. Outros defendem que ele foi, essencialmente, uma revolta em defesa da Constituição, desrespeitada durante a ditadura de Getúlio Vargas. Há também o meio termo: de que o movimento era uma forma de aplicar pressão política, mas que não pretendia, de fato, separar o país.
Como não há consenso sobre o caráter desse movimento, decidimos desconsiderá-lo da nossa lista. Também deixamos de fora todas as tretas ocorridas antes da Independência do Brasil. “É só a partir da autonomia política conquistada em 1822 que se pode falar de movimentos de separação de províncias ou estados”, diz o historiador Antônio Celso Ferreira, da Unesp.
Tirando essas polêmicas, a maioria dos pesquisadores concorda que pelo menos três movimentos tiveram objetivo separatista. Essas revoltas, que a gente explica direitinho abaixo, aconteceram durante o século 19. Diferentemente do que ocorreu em outras partes do mundo, os separatistas daqui não tinham fortes motivações religiosas, étnicas ou culturais. “Eles costumavam se preocupar quando o poder do imperador atrapalhava seus interesses econômicos ou políticos nas regiões que dominavam”, diz o historiador José Carlos Barreiro, também da Unesp.
Essas elites só sossegaram quando perceberam o que estava acontecendo em países como Haiti e Venezuela, onde, aí sim, quem se rebelava contra o poder central eram os escravos ou camadas mais pobres da população. Para não incentivar a ideia de uma revolta popular, os líderes regionais não só desencanaram das rebeliões separatistas na segunda metade do século 19 como passaram a apoiar medidas para fortalecer a autoridade imperial.
País despedaçado
Aconteceram pelo menos três rebeliões separatistas no século 19
CABANAGEM
Deflagrado em: Província do Grão-Pará
Quando: 1835 a 1840
Estopim: Em 1833, os regentes que governavam o país nomearam o novo presidente da província do Pará, Lobo de Souza, contra as elites locais. O nome foi inspirado nos cabanos, que eram pessoas que moravam em casas de palha. As elites aproveitaram a insatisfação popular com as precárias condições de vida e atiçaram a rebelião para diminuir a influência do Império. O levante, que também atingiu a região do Amapá, acabou sufocado por divergências internas e pela intensa repressão.
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
Deflagrada em: Província de Pernambuco
Quando: 1824
Estopim: A primeira Constituição, imposta em 1824 por d. Pedro I, limitava a autonomia das províncias. Insatisfeitas com o governo central, lideranças locais principalmente padres, fazendeiros e comerciantes organizaram levantes para isolar o estado, propondo formar a chamada Confederação do Equador, porque Pernambuco ficava próximo à linha do Equador. A rebelião se espalhou por outros estados do Nordeste Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará mas foi derrotada pelo Império. Seu principal líder, frei Caneca, foi fuzilado em 1825.
GUERRA DOS FARRAPOS
Deflagrada em: Província de São Pedro do Rio Grande do Sul
Quando: 1835 a 1845
Estopim: Em 1834, os regentes aprovaram um novo aumento de impostos para os gaúchos. Os revoltosos (conhecidos como “farrapos” por causa de seus trajes precários) derrubaram o presidente da província e proclamaram a independência, criando a República Rio-Grandense. Em 1839, ocuparam parte de Santa Catarina, proclamando a República Juliana (ela foi fundada em julho, daí o nome). As duas Repúblicas eram confederadas, ou seja, soberanas e independentes entre si, porém parceiras. Em 1845, o governo central retomou a região.