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Carta ao leitor: outros terraplanismos

Se defendessem só a platitude do planeta estava ótimo. Mas o buraco é bem mais embaixo.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 jul 2019, 16h11 - Publicado em 1 jul 2019, 17h22

Uma nova descoberta é como uma foto consTrangedora: não dá para “desver”. A ciência evolui em linha reta. Cada conhecimento adquirido a leva a outro. Isaac Newton usou as teorias de Johannes Kepler para criar a Lei da Gravitação Universal. Einstein partiu das descobertas de Newton para formular a Relatividade Geral, que explica a gravidade de forma ainda mais profunda. A ciência é uma obra permanentemente em construção.

E também é autolimpante. Propostas que não sejam sustentadas por evidências acabam no lixo, ficam de fora do bonde da evolução do conhecimento. Eratóstenes calculou a circunferência da Terra no século 2 a.C., enquanto algumas partes do Velho Testamento ainda eram escritas.

Com a ajuda de uma vara, o grego mediu o ângulo com que o Sol incide em duas cidades distantes ao meio-dia da mesma época do ano. Viu que dava uma diferença de 7 graus. Sabendo que as cidades ficavam a 800 quilômetros uma da outra, ele concluiu que a circunferência da Terra deveria ser 50 vezes isso (360/7 = 50, afinal). Dava 40 mil quilômetros. Eratóstenes acertou.

Eratostenes
(jpl/Getty Images)

Essa foi só a primeira prova sobre a esfericidade do planeta. Dali em diante, procurar evidências de que a Terra seria plana passou a ser perda de tempo – e, depois das Grandes Navegações e das viagens espaciais, insanidade absoluta.

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Mesmo assim, ideias que não fazem sentido seguem inabaláveis entre nós. Ok, o terraplanismo é uma excentricidade tão bisonha que nem conta. O curandeirismo, por outro lado, é algo tão fantasioso quanto a eventual platitude da Terra, e está com tudo. Tanto que o SUS gasta R$ 17 bilhões por ano para custear “tratamentos” de cromoterapia, aromaterapia, bioenergética, imposição de mãos, florais e outros terraplanismos terapêuticos. A ciência já provou e comprovou que a eficácia desses métodos é zero.

Trata-se de pajelança – igual outra modalidade oferecida pelo SUS, a homeopatia, que consiste em remédios feitos de água pura, ou de açúcar puro, no caso das bolinhas. Mesmo assim, gasta-se meio Bolsa Família em dinheiro público nesses tratamentos. Dinheiro que poderia estar indo para a medicina de verdade, e salvando vidas.

Outras obtusidades do nosso tempo são ainda mais danosas. Os movimentos antivacina, que vêm ganhando popularidade nas metrópoles planeta afora, está trazendo de volta doenças que não existiam mais. E a negação das mudanças climáticas, tão em voga no primeiro escalão da política global, pode ter consequências ainda piores.

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Entenda tudo isso melhor na reportagem de capa aqui da SUPER de julho. E evite a escuridão.

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