A camisinha de US$ 100 mil
Homem mais rico do mundo quer revolucionar os preservativos - e torná-los mais resistentes, práticos e agradáveis de usar
Thais Harari
A camisinha salvou a humanidade. Sem ela, o mundo provavelmente estaria devastado pela aids. Mas os preservativos estão longe de ser maravilhas de engenharia. Se baseiam em tecnologias antigas (a camisinha de látex foi criada na década de 1920) e têm seus problemas: são meio difíceis de colocar, tiram um pouco da sensibilidade e, se usados de modo incorreto, podem se romper. Por isso, muita gente ainda se recusa a usar. Mas e se existisse uma camisinha que fosse indestrutível, tivesse textura idêntica à da pele e pudesse ser colocada em menos de meio segundo? Já pensou? Bill Gates pensou. Sua fundação selecionou 11 projetos de camisinha futurista e doou US$ 100 mil para o desenvolvimento de cada um. Além disso, há várias empresas tentando reinventar os preservativos por conta própria. Conheça as inovações mais interessantes – e veja quais poderão chegar ao mercado nos próximos anos.
Em spray
É como se fosse um lava-rápido. O homem coloca o membro ereto dentro de um tubo plástico com pequenos esguichos e recebe uma ducha de látex líquido. Cerca de dois minutos mais tarde, a borracha terá secado e o preservativo, feito sob medida, estará pronto para ser usado. A camisinha em spray foi criada por Jan Vinzenz Krause, do Institute for Condom Consultancy (Instituto de Consultoria em Preservativos), na Alemanha. Mas, além de ser bizarro introduzir o pênis numa máquina, esperar o látex ficar duro pode acabar amolecendo outra coisa.
Mais forte que o aço
O grafeno é um material incrível. Ele é feito de carbono e tem apenas um átomo de espessura, ou seja, é quase um milhão de vezes mais fino do que um cabelo. É extremamente flexível, mas 300 vezes mais forte do que o aço. Em suma: a matéria-prima perfeita para fazer uma supercamisinha. Pelo menos na cabeça de Aravind Vijayaraghavan e sua equipe na Universidade de Manchester, na Inglaterra, uma das que receberam a doação de Bill Gates. O grafeno ainda é muito caro e difícil de produzir. Por isso, os cientistas estão desenvolvendo uma camisinha híbrida, que mistura o látex tradicional com uma pequena quantidade de grafeno. “Queremos produzir um material mais fino, resistente, elástico, seguro e, talvez o mais importante, capaz de proporcionar mais prazer”, diz Vijayaraghavan. Isso porque, como o grafeno é muito forte, seria possível fabricar camisinhas extremamente finas. De todos os projetos financiados por Gates, este é o que parece mais promissor – e também mais desafiador, pelas dificuldades envolvidas na produção do material.
Como a própria pele
Talvez não seja preciso inventar um material para fazer camisinhas melhores. Que tal usar o que a natureza criou? Essa é a ideia da Apex Medical Technologies, uma empresa especializada em material médico – que está desenvolvendo um preservativo feito com fibras de colágeno. A vantagem? Ela teria textura quase idêntica à da pele. O colágeno seria obtido nos tendões de bois. “No processo de produção de carne, algumas partes do animal, como os tendões, têm pouco valor comercial e costumam ser jogadas fora”, explica Mark McGlothlin, presidente da empresa. O colágeno é uma proteína que dá sustentação aos tecidos, e é um dos principais responsáveis pelas características físicas da pele, como a textura. Ao contrário do látex, ele é bem eficiente na transmissão de calor. Durante o sexo, a camisinha de colágeno ficaria com a mesma temperatura da pele – e o casal mal sentiria sua presença. A empresa não informa uma data de lançamento. Mas, como o colágeno é bem conhecido pela ciência (e já usado em diversos produtos, como alimentos e cosméticos), a camisinha feita com ele é uma das maiores candidatas a virar um produto de verdade.
Mais rápida do que piscar
As equipes de cientistas selecionadas pela fundação Bill & Melinda Gates não são as únicas empenhadas em reinventar a camisinha. Uma pequena empresa americana, a Origami Condoms, tem trabalhado no desenvolvimento de um preservativo masculino que se destaca pelo design nada convencional. Diferente do tradicional modelo de látex, enrolado sobre si mesmo, esse é dobrado. Seu formato lembra o de uma sanfona: tem a mesma estrutura cilíndrica de um preservativo comum, mas possui pequenas pregas. Durante a relação, essas pregas são esticadas e contraídas de acordo com a movimentação. Para garantir que seus preservativos não rasguem, a empresa optou por produzi-los em silicone, material mais flexível e resistente do que o látex. Graças a essas características, a camisinha origami é incrivelmente rápida. “Testes feitos com consumidores mostraram que ela pode ser colocada em apenas 0,028 segundo”, explica Danny Resnic, fundador da empresa e criador do preservativo. A desvantagem do modelo fica por conta do tamanho. Enquanto uma camisinha comum de látex cabe em qualquer carteira, a origami é bem menos discreta – sua embalagem tem o tamanho de uma bola de golfe. O preservativo ultrarrápido está aguardando a aprovação do governo americano, e deve chegar ao mercado no início de 2015.
Feita com sacos de lixo
O Conselho de Saúde da Família da Califórnia (California Family Health Council), uma ONG americana, quer produzir camisinhas feitas de polietileno, o mesmo plástico usado em saquinhos de supermercado e sacos de lixo. Ele é barato, 80% mais fino que o látex e suporta temperaturas mais altas – que são um problema para a camisinha tradicional. Um preservativo deixado dentro do porta-luvas de um carro sob o sol, onde a temperatura pode chegar a 60 graus, se deteriora rapidamente. “Se essa situação [o sol] se repetir por duas horas, em dois dias diferentes, o preservativo de látex inicia um processo de degradação”, explica Mauro Cesar Terence, engenheiro de materiais da Universidade Mackenzie. O látex resseca e pode arrebentar durante o sexo. Com o polietileno, isso não aconteceria.
Mas a grande vantagem do material é que ele não aperta o pênis – apenas se gruda ao membro. Mais ou menos como aqueles filmes plásticos usados na cozinha. “Eles aderem naturalmente aos alimentos, sem qualquer tipo de cola”, diz Ron Frezieres, um dos criadores da camisinha de polietileno, que tem alças laterais para ajudar na colocação. O primeiro protótipo deve ficar pronto no ano que vem.
Imagem: thinkstocphotos.com