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Adeus, Zé Gotinha? Entenda a substituição da vacina oral contra poliomielite

A partir deste mês, versões injetáveis substituirão as gotinhas. Entenda mais sobre a pólio, a mudança do esquema vacinal e o destino do seu personagem-símbolo.

Por Manuela Mourão
5 nov 2024, 17h00

Desde segunda-feira (4), o Ministério da Saúde iniciou a substituição da vacina oral poliomielite (VOP), popularmente conhecida como a “vacina da gotinha”, por sua versão injetável, a VIP (vacina inativada poliomielite). A nova ordem visa aumentar ainda mais a eficácia do imunizante, principalmente após as baixas na vacinação que vêm sendo registradas no Brasil desde 2016.

O esquema vacinal era feito, antigamente, com 4 doses orais, ministradas entre os dois, quatro, seis e 15 meses do bebê. Em 2016, porém, foi ajustado para cinco doses: três primeiras injetáveis e as últimas duas, gotinhas. 

Agora, o novo calendário prevê quatro doses feitas exclusivamente com a VIP. A nova atualização fica assim:

  • 2 meses – 1ª dose
  • 4 meses – 2ª dose
  • 6 meses – 3ª dose
  • 15 meses – dose de reforço

A nova política marca também o fim das campanhas de vacinação anuais com a gotinha em crianças de 1 a 5 anos. Mas, o diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Eder Gatti, afirma que o mascote histórico, Zé Gotinha, não vai sumir, “pelo contrário, ele continua firme e forte na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e na promoção do PNI”, explica em comunicado do Ministério. “Ele ajuda a promover não só o SUS, mas promover a vida, promover a vacinação”, completa.

“O personagem, criado inicialmente para promover a conscientização sobre a vacinação contra a poliomielite, continuará nas campanhas de vacinação, agora também alertando sobre outras doenças preveníveis, como o sarampo. Ele se tornou um símbolo importante na promoção da imunização, ajudando na educação e no combate às notícias falsas”, afirma o órgão em outra nota.

Além disso, Gatti diz que a troca não é inédita. Países da Europa e os Estados Unidos já aplicam a vacina unicamente injetável na população, e que o Ministério da Saúde está seguindo a tendência mundial.

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O que é poliomielite?

A poliomielite, ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda, causada pelo poliovírus selvagem, que atua invadindo o sistema nervoso, infectando a medula e o cérebro, e pode causar a perda de movimento em pernas e braços e deixar sequelas por toda a vida. Em alguns casos pode ser mortal.

Sua transmissão ocorre por contato direto com fezes ou secreções orais de pessoas infectadas. Fatores como falta de saneamento, más condições habitacionais e higiene inadequada aumentam o risco de contágio. Embora seja mais comum em crianças, a doença também pode afetar adultos não imunizados. 

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Até os anos 1980, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença deixava, ao menos, mil crianças paralisadas ao redor do mundo por dia. Mas essa realidade mudou – em grande parte, graças às vacinas.

A origem da gotinha

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Nesse cenário alarmante, vários profissionais da saúde correram contra o tempo para criar um imunizante que lutasse contra o pólio. 

Jonas Salk criou a primeira vacina contra a poliomielite em 1952, usando o poliovírus inativado. Sua aplicação em três doses garante 99% de proteção. Em 1968, Albert Sabin lançou a vacina oral, feita com vírus atenuado, que se multiplicava no intestino sem causar a doença (mas garantindo a imunização). Essa vacina tinha a vantagem de ser administrada em gotas e ainda podia imunizar outras pessoas que entrassem em contato com o vírus excretado no esgoto.

A vacina Sabin foi preferida por ser mais barata, fácil de administrar e eficaz, sendo adotada em muitos países, incluindo o Brasil.

No Brasil, devido à intensificação da vacinação, não há registros de paralisia infantil desde 1990, e alcançou seus 47 anos de sucesso no uso das gotinhas. Assim, o país foi certificado como livre da circulação do poliovírus selvagem.

Hoje em dia, a poliomielite é endêmica do Afeganistão e Paquistão, com 5 casos registrados em 2021.

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Em casos muito raros, o vírus atenuado pode sofrer mutações e causar poliomielite por vírus derivado da vacina (VDPV). Um tipo do vírus derivado da vacina oral pode representar risco de infecção quando é excretado nas fezes. Embora não seja o poliovírus selvagem, o VDPV é altamente perigoso em áreas com baixa vacinação ou afetadas por desastres naturais e conflitos, que comprometem o saneamento e favorecem sua propagação.

Por que mudar?

Desde 2016 as taxas de vacinação estão em baixa no país. Em 2022, a cobertura vacinal foi de 77,20%. Em 2023, subiu para 86,55% – mas ainda longe do ideal mínimo de 95%.

Por isso, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, incluiu o Brasil na lista de nações que correm o risco de lidarem com a reintrodução do vírus já que, quanto menos pessoas vacinadas, mais chance da doença se espalhar. 

“Para eliminar esse risco [da reintrodução do vírus no país], a OMS pediu aos países, que pudessem, para trocar a vacina oral pela inativada injetável. E o Brasil decidiu fazer isso neste momento”, explica Rosana Richtmann, infectologista e consultora de vacinas do Alta Diagnóstico, para a Viva Bem UOL.

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É segura?

Sim. A vacina injetável contra a poliomielite é segura e eficaz, e já vem sendo utilizada há anos junto com a vacina oral. Além disso, seus efeitos adversos são mais leves, com dor e vermelhidão no local da aplicação, em vez de sintomas intestinais como diarreia, que podem ocorrer com a vacina oral. O fato de precisar de uma dose a menos também pode ajudar a ampliar a cobertura vacinal (quanto mais doses, mais difícil é fazer com que todas as pessoas preencham toda a cartelinha).

Por que vacinar?

A vacinação é a única forma de prevenir a poliomielite e evitar o retorno da circulação. Todas as crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas de acordo com o esquema de vacinação de rotina e nas campanhas nacionais anuais.

Por que existem algumas vacinas orais e outras injetáveis?

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A principal diferença entre as vacinas orais e injetáveis é a forma de contágio das doenças que combatem, de acordo com a Fiocruz. A vacina oral é indicada para doenças transmitidas por água ou alimentos contaminados. Ela utiliza vírus atenuado, que, ao ser ingerido, segue o mesmo trajeto do vírus selvagem, estimulando o organismo a produzir anticorpos sobretudo em áreas sensíveis, como boca, estômago e intestino.

Outras vacinas administradas oralmente no Brasil incluem as contra o rotavírus, cólera e febre tifoide. O rotavírus é prevenido em duas doses orais para crianças, enquanto a vacina contra a cólera é indicada para populações em áreas endêmicas ou em situações de crise. A vacina oral contra a febre tifoide é recomendada em casos específicos, como para trabalhadores ou pessoas em áreas endêmicas, devido à sua imunidade de curta duração.

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