Conversa Salva-Vidas
Para um diagnóstico perfeito é necessário que haja uma boa relação médico-paciente.
Arthur Beltrame Ribeiro
As origens da Medicina se confundem com as do próprio homem. Ao que sabemos, os primeiros médicos eram “divindades” – deles se esperava que conseguissem afastas os espíritos causadores das doenças. Ao homem primitivo não ocorria que as doenças pudessem ser conseqüência de problemas do corpo, da matéria. Desde essa remota fase até os dias de hoje, houve, obviamente, uma enorme mudança, que foi fundamentalmente determinada pelo uso sistemático de informações e pela aplicação de princípios de metodologia científica. O resultado é a Medicina moderna, tão cheia de máquinas complexas e cirurgias assombrosas.
O primeiro grande passo desta fantástica revolução foi simples conversa – a conversa do paciente com o médico, as perguntas, queixas etc. Enfim, a anamnese, no jargão clínico. Pessoas vão ao médico em busca de ajuda para os mais variados problemas. O ponto de partida dessa ajuda é o diálogo em que o paciente conta o que sente, com a exatidão que lhe for possível, e responde às perguntas do médico. Fica evidente que tais conversas representam a depuração de milhares de memórias de conversas entre médicos e pacientes ao longo do tempo. Os clínicos com os quais começou a era moderna da Medicina passaram a registrar sistematicamente suas observações. Galeano, o grande médico grego do século II da era cristã, escreveu 180 livros sobre suas experiências no convívio com doentes de muitos lugares.
O registro sistemático da relação entre o que o paciente sentia e o tipo de doença que manifestava foi nos ensinando a evolução natural das moléstias. Graças a esse trabalho de observação, tanto o que o paciente conta como aquilo que o médico pergunta estão codificados em um roteiro para facilitar o diagnóstico. Basicamente, as conversas com o médico dizem respeito aos sintomas – sentimentos subjetivos (não visíveis ou palpáveis) que os pacientes descrevem. Um sintoma muito comum é a dor. Mas muitas vezes não basta relatar, pura e simplesmente, o sintoma. O médico precisa de outras informações para formular a hipótese diagnóstica.
Por exemplo, se a queixa for dor de cabeça, é preciso saber a freqüência, o tipo (se é em pontada, aperto, pulsátil etc.), os fatores que a fazem melhorar ou piorar e assim por diante. É com estas características que o médico forma uma idéia mais apurada do que está ocorrendo. Uma dor de cabeça muito esporádica certamente pode ser menos alarmante do que outra muito freqüente. Uma dor pulsátil pode ser de origem vascular. Após saber da queixa atual, o médico procura conhecer o tempo transcorrido desde o seu aparecimento até o dia da consulta, para depois perguntar do passado médico do paciente e de sua família, até finalmente rever, ainda com perguntas, cada um dos sistemas do organismo (respiratório, gástrico etc.)
Há portanto, um roteiro que pretende em última análise detectar todos os sintomas e suas possíveis origens, muitas vezes não valorizadas pelo paciente.
Não é incomum no consultório surpreender-se um paciente que refere estar emagrecendo, mas não relata espontaneamente que está urinando muito e também se alimentando muito. A pergunta do médico esclarece ao próprio paciente o que está ocorrendo com ele. Ao ouvir que o paciente estava emagrecendo, o médico lembrou a possibilidade de diabetes mellitus. Nesta doença, o paciente não produz insulina, um hormônio vital para o aproveitamento do açúcar. Como o açúcar não é etabolizado, o paciente perde peso, enquanto aumenta a fome e o volume de urina (porque o açúcar sai na urina). Como estes sintomas podem aparecer lentamente, o paciente não os percebe e portanto não os relata. A memória médica de muitos pacientes com diabete, porém, tornou fácil o diagnóstico.
Outras vezes, as perguntas podem parecer incoerentes, mas são absolutamente lógicas. Por exemplo, um paciente que está com o coração fraco pode sentir falta de ar ao fazer esforço: ao procurar o médico é logo inquirido sobre se tem acordado à noite para urinar. A relação, obscura para os leigos, é óbvia para os médicos: um coração enfraquecido não tem força para aspirar o sangue dos membros inferiores durante o dia, porque o paciente está em pé. À noite, com o paciente deitado, o retorno é fácil e o excesso de água retirado das pernas obriga o rim a funcionar mais – e lá vai o nosso paciente ser acordado pelo excesso de urina.
Após a conversa sobre a queixa atual é necessário conhecer o passado médico do paciente. Às vezes, a moléstia pode ser a manifestação tardia de outras que ocorreram no passado. Por exemplo, pode-se ter ido uma nefrite (inflamação nos rins) na infância e apresentar hipertensão arterial (pressão alta) muitos anos depois. A história familiar é igualmente essencial porque pode sugerir que o paciente está predisposto a algum tipo de doença. Há muitas moléstias que incidem em famílias inteiras.
Finalmente, na história clínica há ainda um aspecto muito importante: a necessidade de o paciente sentir-se à vontade com o médico. Quando confia nele, fornece também elementos de sua vida emocional, que, como sabemos, tão importante papel desempenha nas moléstias. Às vezes, o paciente fica inibido em falar de sentimentos que não compreende, ou dos quais tem vergonha por achar que senti-los resulta de falta de vontade. Nessa área é necessário que haja uma boa relação médico-paciente. Isso é vital ao exercício da profissão e facilita o auxílio ao paciente. Converse com seu médico.
Filhos pagam pelas mães
Pela primeira vez, cientistas conseguiram confirmar uma antiga suspeita: existe uma relação direta entre consumo de álcool durante a gravidez e o desenvolvimento mental dos filhos. Pesquisadores americanos trabalhando com uma amostra de 421 mães e seus filhos, verificaram que, aos 4 anos, as crianças cujas mães tinham o costume de tomar pelo menos três drinques por dia na gestação ficavam cerca de cinco pontos abaixo da média em testes de inteligência específicos para a idade. Os pesquisadores tiveram o cuidado de levar em conta nada menos de trinta outros fatores que também poderiam influir no Q.I. das crianças, desde o nível de educação dos pais até nutrição pré-natal, raça e sexo. Para os autores do estudo, os resultados não querem dizer que, se três doses são demais, duas não irão prejudicar a inteligência dos filhos. Diz a psicóloga Ann Streissguth, que dirigiu a pesquisa: “O ideal é não ingerir álcool nenhum durante a gravidez”.
Como o cigarro ataca
Embora a relação entre cigarro e câncer seja uma certeza consagrada em Medicina, ainda não se sabe exatamente como o fumo provoca o câncer no pulmão. Uma boa pista, no entanto, surgiu recentemente: pesquisadores ingleses descobriram que as substâncias causadoras de câncer contidas na fumaça do cigarro se ligam ao material genético nas células do pulmão. Daí resultariam mutações capazes de desenvolver-se como tumores. Aparentemente, a quantidade de material genético afetada varia de acordo com o número de cigarros consumidos e com o tempo em que a pessoa é viciada: mais fumo, mais dano. Os pesquisadores verificaram também que as células do pulmão de pessoas que deixaram de fumar tornar a ficar iguais às células de não-fumantes depois de aproximadamente cinco anos.
Bom coração deve dançar
Batimentos cardíacos perfeitamente regulares são um sinal inequívoco de boa saúde, certo? Errado, respondem pesquisadores americanos. Segundo um estudo recente, o batimento de um coração sadio deve ser algo errático e não seguir um padrão rigorosamente previsível. Um pouco de desordem ajudaria igualmente a outros órgãos e sistemas fisiológicos, incluído o cérebro e o sistema nervoso. Numa pesquisa com trinta pacientes moribundos, os cientistas notaram que horas antes da morte os intervalos entre as batidas tornavam-se praticamente idênticos. “O coração saudável dança”, comparou um dos médicos. “O órgão em via de morrer consegue apenas marchar.” A descoberta ainda não tem aplicação prática. Mas, futuramente, a análise de eletrocardiogramas que leve em conta a dança do coração poderá permitir diagnósticos mais precisos.