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Cuide da sua pele

Todos querem deixá-la sempre brilhante e saudável,mas transformar palidez em bronzeado a qualquer preço acelera o envelhecimento e pode provocar o câncer. Nofinal, o que faz a diferença são os bons hábitos.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h32 - Publicado em 31 mar 2006, 22h00

A pele regula a temperatura corporal, percebe a dor e o prazer, produz sebo e atua como uma barreira para micróbios, venenos, radiações e afins. Suas cores e texturas ajudam a nos diferenciar. Sua aparência é um importante parâmetro de beleza. Com 2 m2 de superfície e pesando cerca de 3 kg, ela é o órgão mais volumoso, palpável e visível e, logo depois do cérebro, é a peça mais enigmática de toda a anatomia humana.

Os primeiros sinais da inevitável ação do programa genético que transforma a pele surgem na infância. Nos bebês, ela é lisinha, seca, brilhante. A partir dos 2 anos de idade, as glândulas sebáceas começam a funcionar e provocam a oleosidade. A pele umedece com o suor. Na adolescência, o pêlo fica mais forte, espesso e pigmentado, principalmente no couro cabeludo, nas axilas, na virilha e na face dos garotos. Aparecem sinais, manchas e acne. À medida que envelhecemos, ocorrem mudanças significativas também nos principais ingredientes da firmeza e da elasticidade, o colágeno e a elastina. Só que, como o sistema genético varia entre as pessoas, acontece o que parece injusto: algumas peles enrugam antes do que outras. Além disso, as lesões cutâneas demoram mais para sarar em pessoas mais velhas porque há a queda de produção de sebo protetor e de irrigação sanguínea.

Preocupação estética

Os atuais padrões de beleza que exigem pele saudável, macia, jovem e reluzente ajudam a lotar os consultórios dos dermatologistas, sobretudo de pessoas interessadas em prevenir ou combater o envelhecimento. “A procura tem aumentado principalmente por causa da preocupação com a aparência”, afirma a dermatologista Denise Steiner, presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A pele é potencialmente reagente às agressões externas, entre elas a poluição e os cosméticos inadequados, sem falar no estresse. Segundo Denise, as enfermidades mais freqüentes que atingem os brasileiros atualmente são as dermatites, inflamações da pele que podem provocar irritação, descamação, coceira e queda de pêlos e de cabelos. “E alguns tipos são provocados pelo uso de drogas”, alerta a médica.

Não é raro sentir na pele aflições do organismo e da mente. Quando a psique está alterada, podem surgir ou ficar mais agressivos problemas como dermatite, acne, psoríase, queda de cabelo e lúpus eritematoso. Pessoas ansiosas, depressivas e estressadas somatizam seus transtornos na pele. E quase todas as doenças deixam um sinal dérmico que pode ser reconhecido por médicos.

Mestre e doutor em dermatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Luis Fernando Tovo chama a atenção para as inflamações endêmicas que apresentam uma alta incidência nos lugares mais pobres do Brasil. “A lepra, ou hanseníase, é uma doença de grande importância epidemiológica que não está controlada por aqui”, diz. Segundo ele, na rede pública e nos hospitais-escola, lugares normalmente procurados pela faixa mais carente da população, há muitos registros de micose profunda, como leishmaniose e pênfigo (fogo-selvagem). “Essas doenças têm um componente imunológico importante. As pessoas carentes que moram em regiões tropicais estão mais sujeitas, mas não são as únicas que correm o risco de desenvolvê-las.”

Não existe milagre

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O crescente interesse pelo cuidado com a pele estimula a indústria oportunista de produtos e terapias que prometem milagres. É fácil encontrar em qualquer farmácia ou loja online a mais nova promessa contra queda de cabelos, rugas e acne. “As novidades sem compromisso com a ciência surgem todos os dias. A mídia explora, a indústria responde e o consumidor vai atrás”, afirma Denise Steiner. “Recebemos muitas queixas de procedimentos malfeitos, principalmente por não-dermatologistas, como peelings que deixam manchas e preenchimentos de vincos que acabam provocando inflamações.”

Diante de todo e qualquer problema de pele, o profissional capacitado para diagnosticar e tratar é o dermatologista. Na ânsia de encontrar a solução definitiva para o que não tem cura ou cujo tratamento não oferece resultados imediatos, muitas pessoas acabam caindo na armadilha dos charlatães. Na melhor das hipóteses, os produtos não mostram eficácia maior do que um placebo (substância inerte que tem um efeito sugestivo ou psicológico). Na pior, as conseqüências são desastrosas. Altos também são os riscos de se submeter aos cuidados de quem não é especialista ou mesmo se automedicar.

“Um creme com corticóide pode trazer conseqüências graves para a pele – desde a formação de estrias e a atrofia de pele até a chamada síndrome de Cushing, caracterizada pela supressão da glândula renal”, diz a dermatologista Flávia Martelli, que atua como voluntária do Departamento de Dermatologia da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo. Para ela, um dos papéis do médico é baixar a expectativa do paciente, que normalmente chega ao consultório bastante iludido, e mostrar a real perspectiva do tratamento, estético ou não. “Muitas pessoas querem a cura do vitiligo”, diz Flávia. “Essa doença pode apenas ser controlada.”

A ocorrência de certas enfermidades tem aumentado significativamente nas últimas décadas. A dermatite atópica, uma doença crônica que causa inflamação e ardor na pele, além de lesões e coceiras, é uma delas. É conhecida também como eczema infantil, pois entre 90 e 100% dos casos se manifestam antes dos 5 anos de idade. Um terço dos pacientes vai além do processo inflamatório cutâneo e desenvolve rinite e asma. Suas causas ainda não são bem conhecidas, mas os cientistas sabem que o problema afeta em sua maioria pessoas que apresentam um histórico de alergia na família. Nos últimos 20 anos, o problema só tem aumentado, especialmente em países desenvolvidos, devido à presença de diversos poluentes industriais e substâncias nocivas nos alimentos, assim como às mudanças de hábitos de vida, entre eles o uso de roupas sintéticas e o abuso de sabonetes de higiene corporal.

O maior perigo

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Mas o que realmente vem tirando o sono dos dermatologistas é o câncer de pele. O apelo estético do bronzeado, associado à diminuição da camada de ozônio – o gás atmosférico que filtra as radiações solares nocivas –, tem provocado o aumento da incidência dos tumores, além de provocar envelhecimento precoce, eritemas, discromias (alterações da pigmentação) e alergias solares. Fora as causas genéticas e hereditárias, o fator de risco mais importante é a exposição ao sol sem nenhum tipo de proteção, sobretudo na infância e na adolescência, período em que as radiações solares causam alterações no DNA dos melanócitos, as células pigmentadas da pele que produzem a melanina. Por isso, os cuidados são fundamentais desde cedo, assim como na escovação dos dentes. Estima-se que uma em cada 100 crianças hoje em dia vai desenvolver o melanoma (tumor) na idade adulta.

“O câncer de pele tem aumentado nos últimos anos especialmente entre as pessoas que têm de 30 a 40 anos”, diz Denise Steiner. “Pessoas claras de pele, olhos e cabelos são as mais sensíveis. Os mais velhos, com histórico de trabalho ao ar livre também.” A dermatologista explica ainda que feridas e caroços avermelhados que não cicatrizam podem caracterizar carcinomas basocelular ou espinocelular, essencialmente ligados à exposição solar. Já as pintas pretas, irregulares em termos de cor e nas bordas, podem representar o melanoma, o tipo mais agressivo. “Qualquer parte do corpo pode ser afetada, mas áreas expostas correm mais riscos que as outras.”

O comportamento de uma pessoa diante do sol durante a juventude influencia significativamente suas chances de desenvolver o câncer, pois os danos são cumulativos. Os raios ultravioleta B e UVB são os principais responsáveis pelas mutações genéticas. Os UVA, emitidos inclusive nas cabines de bronzeamento artificial, também são perigosos. “Há 30 anos, o conhecimento sobre fotoproteção (proteção à luz) era pequeno e a disponibilidade de filtros solares no mercado também”, afirma o dermatologista Luis Fernando Tovo. Segundo ele, pessoas que se expõem ao sol ou que já desenvolveram algum tipo de câncer de pele devem continuar a se proteger com filtros químicos e também por meio de roupas e chapéus. Já existem até tecidos com fotoproteção incorporada às fibras.

Dados da mais recente Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele, promovida pela SBD no fim de 2005, mostram que os brasileiros ainda não estão conscientes da importância da proteção adequada. Das 34,9 mil pessoas de vários estados do país que participaram da iniciativa, se submetendo a exames e entrevistas e aprendendo como se proteger, somente 24,8% afirmaram tomar sol com protetor solar. A estatística é alarmante, pois, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), esse tipo de tumor é o de maior incidência no Brasil atualmente.

Os dermatologistas, é claro, não querem que as pessoas parem de tomar sol. “Ele é antidepressivo, combate a osteoporose e participa da síntese de vitaminas importantes para o crescimento infantil”, diz Tovo. Hábitos saudáveis de exposição ao sol e a visita ao dermatologista ao menos uma vez na vida são essenciais. Quem tem sarda deve ter cada pinta avaliada pelo médico, que também pode orientar sobre como identificar anormalidades na pele. O surgimento de sinais ou a mudança no formato, nas bordas, na cor e no tamanho dos já existentes são motivos suficientes para procurar um especialista.

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“O tratamento é cirúrgico, muitas vezes pouco invasivo e com bons resultados na maioria dos casos”, explica o médico. A detecção precoce não é suficiente para diminuir a ocorrência do melanoma, mas reduz a mortalidade. Os oncologistas estimam que tumores em estágios iniciais sejam curáveis entre 90 e 95% dos casos. No entanto, apenas 2% dos pacientes com câncer avançado sobrevivem por dez anos após a intervenção cirúrgica.

Na Austrália, a população respondeu muito bem às campanhas e aderiu ao comportamento seguro diante do sol. O país deixou o topo do ranking de maior incidência de câncer de pele no mundo e hoje é o único que consegue frear o avanço da doença. É uma receita que o Brasil também pode seguir. n

Adaptação Viviane Zandonadi

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O banho de sol seguro

As principais recomendaçõesdos dermatologistas para evitarfuturos problemas

A não ser que o médico o proíba expressamente, tomar sol é muito bom para a saúde. Basta ter prudência e seguir estas recomendações.

• Nenhuma criança ou adulto pode se expor ao sol sem um filtro solar que detenha as radiações UVB e/ou UVA.

• Evite a exposição nos períodos de maior intensidade (entre 10h e 16h e, no horário de verão, das 11h às 17h).

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• Vinte minutos antes de se expor ao sol, aplique uma camada generosa e uniforme de protetor solar com fator de proteção adequado. A pele deve estar seca. Remova antes qualquer cosmético perfumado.

• Utilize acessórios como viseira, boné, chapéu, camiseta e guarda-sol ou sombrinha.

• Exponha-se ao sol progressivamente. Tome cuidado com rosto, colo e pescoço.

• Não use o protetor solar para prolongar o tempo de exposição.

• Renove a aplicação do protetor a cada uma ou duas horas e depois de entrar na água. Após a exposição solar, tome banho e hidrate bem o corpo todo e o rosto.

Para as crianças

• Não deixe que crianças menores de 3 anos tomem sol.

• Proteja-as sempre com camiseta, boné e protetor solar (com fator mínimo 15 e máximo 30, para os que têm pele e olhos claros). Siga essas recomendações inclusive na sombra e em dias nublados.

• Faça com que as crianças bebam água com freqüência.

As camadas da pele

Ela se divide em três partes com funções específicas: epiderme, derme e uma faixa de gordura subcutânea. Observe na figura abaixo as três camadas e conheça o papel desempenhado por cada uma delas.

A epiderme é a camada exterior, bem fina, e tem função protetora. A parte superior (estrato córneo) contém queratina e é composta de restos de células mortas. Também aí ficam os melanócitos, as células produtoras de melanina. O pigmento colore a pele, protege das radiações e aumenta com a exposição ao sol. Abaixo fica a derme, que é irrigada por numerosos vasos sanguíneos. Eles proporcionam nutrientes e calor e compartilham com a epiderme os receptores táteis e de dor. Outros componentes importantes são os diversos tipos de glândula, como as sebáceas (lubrificam o pêlo) e as sudoríparas (reponsáveis pelo suor). Na parte mais profunda há uma camada de gordura, que ajuda a isolar o corpo do calor e do frio.

Teste

O risco de desenvolver câncer

O questionário a seguir, elaborado por uma equipe de dermatologistas, permite avaliar os riscos de uma pessoa desenvolver câncer de pele. Responda às questões e saiba a qual grupo de risco você pertence.

1. Com que tipo de pele se identifica quando você se expõe ao sol?

Sempre fico vermelho e queimado, mas nunca bronzeado (pele do tipo I) [ ] 50

Primeiro fico rosado, às vezes me queimo e fico um pouco moreno (pele do tipo II) [ ] 30

Primeiro fico vermelho, raramente me queimo e adquiro sempre um bom bronzeado (pele do tipo III) [ ] 20

Nunca me queimo e me bronzeio rápida e intensamente (pele do tipo IV) [ ] 10

2. Com que freqüência se expôs ao sol na infância a na adolescência?

(É possível que tenha de assinalar mais de uma alternativa)

No verão, ia com freqüência a praia, piscina e/ou montanha e me expunha ao sol [ ] 20

Sofria com freqüência queimaduras solares leves [ ] 20

Lembro-me de ter sofrido queimaduras consideráveis várias vezes [ ] 50

Sempre evitei a exposição ao sol, mas, ainda assim, cheguei a sofrer queimaduras leves uma ou outra vez [ ] 10

3. Atualmente, por quanto tempo fica exposto ao sol?

Não suporto o sol, por isso evito sempre [ ] 0

Gosto de me bronzear e tomo banhos de sol [ ] 50

Meus hábitos não correspondem a nenhuma das alternativas anteriores [ ] 20

4. Como é sua pele?

Muito clara, mas sem pintas [ ] 30

Muito clara e com muitas pintas de tamanho e pigmentação variados [ ] 50

Escura, com poucas pintas, todas pequenas [ ] 10

Nenhuma das descrições coincide com a de minha pele [ ] 20

5. Qual é sua idade?

Até 30 anos [ ] 10

De 31 a 50 anos [ ] 30

De 51 a 60 anos [ ] 40

Mais de 60 anos [ ] 50

6. Recentemente, você notou mudanças de coloração, forma e/ou tamanho em alguma pinta de seu corpo?

Sim [ ] 100

Não [ ] 0

Soma parcial [ ] pontos

7. Algum familiar direto, como pais, irmão ou filhos, tem ou teve câncer de pele?

Sim (multiplique por quatro a soma parcial) [ ] pontos

Não (a soma parcial não se altera)

8. No último ano, passou por algum check-up com o dermatologista?

Sim (divida por dois a soma obtida na questão 7)

Não (multiplique por dois a soma obtida na questão 7)

Soma total [ ] pontos

Avaliação

Este teste serve apenas como orientação. Apenas o dermatologista pode informar sobre as reais características de sua pele e os riscos de sofrer algum tipo de câncer.

Menos de 100 pontos

Risco normal. A não ser que perceba a alteração de alguma pinta, basta fazer periodicamente uma auto-avaliação. Você pode pedir ajuda a alguém de confiança.

Mais de 100 pontos

Risco alto. Fique alerta e, uma vez por mês, avalie minuciosamente sua pele ou peça que alguém de sua confiança o faça. A visita ao dermatologista deve ser no mínimo anual.

Mais de 200 pontos

Risco muito elevado. Procure um médico.

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