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Diário de uma mãe sincera

Inigualável. Inesquecível. A realização de um sonho. A gravidez é tudo isso. Mas também tem um lado que só as grávidas conhecem - e não é nenhum conto de fadas. Veja o que realmente acontece nos 9 meses mais importantes que existem

Por Gisela Blanco
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 2 fev 2013, 22h00

Nas telas do cinema e da TV, as grávidas estão sempre em estado sublime, belas, felizes. Na vida real, não é bem assim. Na verdade, ela é muito mais punk: uma revolução de hormônios em que o corpo se deforma, a coluna dói, as pernas incham, o estômago se revira, a barriga coça e, a certa altura, até respirar fica mais difícil. A gravidez, esse processo tão central na vida, vem se tornando uma coisa cada vez mais misteriosa à medida que as mulheres escolhem ter cada vez menos filhos, e mais tarde. Saem de cena as longas conversas com as avós e entram as informações nem sempre confiáveis espalhadas pela internet, prestes a serem lidas por desesperados pais e mães de primeira viagem – como eu, que recentemente tive meu primeiro filho. Esse processo teve vários momentos que eu não imaginava, e que certamente vão surpreender você. Das descobertas iniciais à temida hora do parto, confira a seguir o relato de uma mãe sincera.

Primeiro mês

Antes da surpresa

Um dia, sem saber, acordei com um protótipo de ser humano dentro de mim. No primeiro mês, a maioria das gestantes ainda não sabe que está grávida. Era meu caso. Fiquei grávida aos 25 anos em uma época em que a maior parte das mulheres que eu conheço adia esse momento para depois dos 30, sabendo que eventuais problemas de fertilidade podem ser contornados pela medicina. Ao contrário da minha avó, não fui treinada para ser mãe. Mas, graças às conquistas da geração anterior, para estudar e trabalhar. Por isso, sabia quase nada sobre uma gravidez de verdade. Nem desconfiava que o meu corpo estava prestes a sofrer um golpe de estado dos hormônios e passaria por uma revolução.

31,3% das brasileiras têm filho depois dos 30 anos

Durante a gravidez a barriga cresce em média 1 cm por semana, medida da base do osso pubiano até o umbigo.

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Tamanho da barriga – 4 cm

Segundo mês

Hora da hipocondria

Por insistência do meu marido, fiz um teste daqueles que se compram na farmácia. Eles reconhecem na urina o hCG, hormônio típico da gravidez. Positivo! Engraçado como a natureza prepara as mulheres para a notícia: aumenta os níveis de hormônios (além do hCG, progesterona e estrogênio), que junto com os clássicos enjoos causam depressão, irritação, sono e cansaço. Meu estado era esse, e não para menos: o organismo da gestante em repouso trabalha mais do que o de uma mulher normal escalando uma montanha. Em apenas 3 meses eu fabricaria a placenta, um órgão inteiro, parecido com o fígado. Meu metabolismo estava acelerado. E meu sistema imunológico, mais fraco – mecanismo natural para garantir que ele não expulse o feto lá de dentro. Afinal, o bebê é um corpo estranho, com identidade genética própria, como um órgão transplantado. Eu começava também a virar uma hipocondríaca virtual: pesquisava tudo o que sentia na internet. Mas o alívio veio com a primeira ultrassonografia. Estava tudo ótimo. E aí finalmente a ficha caiu. Apertei a mão do meu marido. Seríamos pais. Choramos. Pronto, aí estava o momento bonitinho que eu via nos filmes. Interrompido pela dura realidade: um baita enjoo.

Na gravidez, o volume de sangue no corpo aumenta 30%

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E os batimentos cardíacos sobem de 60 para 80 por minuto, em média.

Tamanho da barriga – 8 cm

Terceiro mês

A hora de contar

Os médicos recomendam esperar até o fim deste mês para contar por aí a novidade, pois 30% das gestações terminam espontaneamente neste período. É claro que eu não aguentei esperar. Mas era só dizer que estava grávida para que as pessoas se lembrassem de histórias terríveis, como a da vizinha que morreu junto com o bebê. Difícil saber o que leva as pessoas a contar essas coisas, mas talvez contribuísse o fato de que eu ainda não parecia grávida. O embrião pesa cerca de 4 gramas e é do tamanho de uma uva. Irônico ser um dos momentos em que as filas exclusivas para gestantes são mais necessárias – no terceiro mês, os enjoos duram dia e noite.

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Náusea pode ser bom. Segundo a Universidade da Carolina do Norte, mulheres que sofrem enjoo no início da gravidez têm 3 vezes menos chance de sofrer aborto espontâneo

Tamanho da barriga – 12 cm

Quarto mês

Voltei a ser bonita

A barriga passou de pancinha de chope a uma autêntica barriga de grávida. O marido começou a me achar linda (e o melhor: dizia isso todo dia). As pessoas me davam lugar no ônibus e nas filas. Agora a coisa começou a ficar boa. Mas nem tanto: meu útero crescia rápido – de 9 cm até o fim da gravidez chegaria a uns 40 cm de diâmetro, 20 vezes seu tamanho original – e eu já sentia as dores dos ossos pélvicos se abrindo para a passagem do bebê. Era um festival de sensações esquisitas: pontadas no quadril, pressão no ventre (como se alguém me empurrasse para trás) e muita coceira no abdome, sinal de que a pele se esticava. Tenho 1,60 m de altura e meu peso ideal é 50 kg. Os médicos recomendam que se ganhe apenas 9 kg durante a gravidez. Mas até o fim eu engordaria 15 kg. Desesperada, segui todos os conselhos para evitar estrias, varizes, flacidez. Usei hidratantes para gestantes, entrei na hidroginástica, comprei meias antivarizes (um verdadeiro instrumento de tortura). E no fim descobri que o que pesa mais é a genética. Como minha mãe não tem estrias, respirei aliviada. No ultrassom deste mês, descobri que o feto na minha barriga era um menino.

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Grávidas não precisam comer por 2. A média de calorias recomendada durante a gestação é cerca de 2 mil, o mesmo de uma pessoa normal.

O feto já pesa 35 vezes mais do que no mês anterior.

Tamanho da barriga – 16 cm

Quinto mês

Mãe? eu?

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Era maio. Dia das Mães à vista e, além de ganhar presentes, claro, o que eu mais queria era de fato me sentir uma. A ligação emocional com o bebê na barriga não acontece de repente. Aquele desenho do ultrassom ainda era muito abstrato. Meu marido também não se via ainda como pai. Nesta época, li o livro O Conflito, a Mulher e a Mãe, da filósofa francesa Elisabeth Badinter. Ela não acredita em instinto materno e diz que, para os seres humanos, a gestação envolve transformações psicológicas e sociais nada fáceis. Pensamos, logo nos preocupamos. Em não ter mais tempo para nós, não poder trabalhar como antes, ter que alimentar e educar uma criança e ainda guardar dinheiro para comprar um videogame no Natal. O que me tranquilizou foi justamente um jogo: Guitar Hero, que ganhei do meu pai. Receber um brinquedo significava que eu ainda era filha também. Podia contar com outras pessoas e continuar fazendo as coisas de que gosto. Eu seria mãe, mas ainda era eu. Aproveitei e me inscrevi com meu marido num curso para novos pais.

A ocitocina é o hormônio que, após o parto, ajuda na ligação emocional com o bebê. Também é chamado de hormônio do amor e associado à sensação de prazer

40% é o quanto a concentração desse hormônio aumenta após o orgasmo.

Tamanho da barriga – 20 cm

Sexto mês

A ioga que salva

A barriga andava tão grande que pegar qualquer coisa no chão virou um baita contorcionismo. Além disso, meu senso de equilíbrio estava louco: com o crescimento do útero, o umbigo muda de posição a cada mês e, com ele, o centro de gravidade do corpo. Para compensar, sem perceber, a mulher joga a cabeça e a parte superior do tronco para trás. Fica toda torta, andando como pato. As articulações também ficam mais frouxas por culpa da progesterona, que relaxa o corpo. Resultado: mais chances de tombos (um dos motivos por que grávidas precisam se sentar no ônibus). A coluna também sofre: a essa altura eu já estava carregando o equivalente a um saco de arroz de 5 kg. Por tudo isso, resolvi sair da frente do computador e entrar numa aula de ioga para grávidas. Aprendi técnicas de equilíbrio e novas formas de me abaixar e levantar. Ir ao chão, só me agachando e nunca inclinando para a frente. Levantar da cama, só de lado e apoiando as mãos no colchão. Aprendi posições novas para dormir. Consegui manter alguma agilidade, pegar todos os objetos que caíam e até fazer faxina até o último mês de gravidez.

A progesterona relaxa o corpo durante a gestação. Sem ela, o útero poderia expulsar o feto (como o que acontece no trabalho de parto)

Tamanho da barriga – 24 cm

Sétimo mês

Ai, minhas costelas

A reta final é uma época de exames chatos. Como a curva glicêmica, para detectar a diabetes gestacional. Para medir a capacidade do meu corpo de processar glicose, me fizeram tomar 200 ml de glicose pura. É rosa e mais doce do que o pior refrigerante que você puder imaginar. Apesar do sofrimento, passei na prova. Estranho saber, mas nessa fase o bebê já está tão completo que havia unhas e cabelos dentro da minha barriga. Ele passava o dia nadando em líquido amniótico (também bebia o líquido, que é doce, fazia xixi lá dentro e depois bebia de novo). Rodopiava, chutava, socava. Eu sentia cada um daqueles movimentos, e era bem divertido. A não ser quando ele chutava minhas costelas com tanta violência que me dava um susto. Ou quando passava a noite inteira zanzando dentro de mim enquanto eu tentava dormir. Aliás, de todas as dezenas de conselhos que as grávidas ouvem sem pedir, um dos mais frequentes é dormir muito (porque depois que o bebê nascer…) Mas como? Além dos chutes, eu também acordava 3 a 4 vezes por noite para ir ao banheiro.

Ao fim deste mês, o feto já está pesando mais de 1,5 kg

As grávidas fazem mais xixi por 2 motivos: aumenta a quantidade de líquidos em circulação no corpo e o útero pressiona a bexiga.

Tamanho da barriga – 28 cm

Oitavo mês

Lotação esgotada

Entrei um dia em uma farmácia e a atendente me perguntou se eu esperava gêmeos. A barriga já estava tão grande que era difícil acreditar que ainda poderia crescer mais. E olha que o bebê, que agora já tinha cerca de 1,5 kg, ainda dobraria de peso. De tão grande e apertado lá dentro, de vez em quando dava para ver um pezinho meio Alien se arrastando sob a pele da minha barriga. Era ao mesmo tempo assustador e muito engraçado. O bebê já estava de cabeça para baixo e o útero agora era tão grande que pressionava o diafragma, e respirar parecia mais difícil. Com retenção de líquidos, meu corpo estava inchado. Ao fim do dia, meus pés pareciam pantufas. Eu contava os dias para o fim da gestação e não aguentava mais de curiosidade para ver que cara o bebê lá dentro tinha. Também já sentia que teria saudade daquela barriga – afinal, àquela altura eu já tinha aprendido a conviver com ela. E era perfeita para apoiar o balde de pipocas durante um filme.

Uma das crendices mais comuns, tentar adivinhar o sexo do bebê pelo formato da barriga é um método sem comprovação científica.

Tamanho da barriga – 32 cm

Nono mês

O fim e o início

Meu marido passou a gestação inteira repetindo a teoria que leu no livro Eu, Primata, do cientista holandês Frans de Waal: durante a evolução, quando viramos bípedes, ganhou o páreo quem tinha a bacia mais chata e gastava menos energia ao andar. A bacia arredondada ficou para trás. Por isso nascer ficou tão difícil e doloroso para nós. Ainda bem que pelo menos evoluímos o bastante para inventar a anestesia. Por isso decidi encarar o parto normal – e na metade do processo eu tomaria a bendita injeção. Meus amigos fizeram um bolão para ver quem acertava o dia. Ninguém ganhou. Esperei o máximo possível, e nada. Ao fim de 42 semanas, ou 10 meses, foi preciso induzir o trabalho de parto. Os médicos injetam ocitocina direto na veia, o que leva às dolorosas e temidas contrações. O processo todo durou umas 12 horas. As contrações iam ficando cada vez mais próximas e doloridas, como se alguém apertasse a minha barriga pelo lado de dentro. Mas ainda era um clima tranquilo. Meu marido ficou o tempo todo ao meu lado fingindo superbem que não estava nervoso. Eu caminhava pelo corredor do hospital, fazia exercícios de ioga. Chegamos até a começar a assistir um episódio da série de comédia The Office no notebook que eu, precavida, tinha levado comigo. Até a hora que a bolsa estourou. Veio um aguaceiro e eu comecei a sentir as dores mais fortes da minha vida.

– Estou quebrando no meio!, eu gritava para o meu marido e para as enfermeiras. “Chama o médico! Anestesistaaa!”

Mas quando o médico enfim chegou, me examinou e viu que eu não tinha dilatação nenhuma (a abertura do útero pela qual o bebê tem que passar). Tivemos que partir para o plano B: cesariana. Depois de uns 20 minutos de cirurgia, tiraram o bebê lá de dentro. Meu marido se acabava de chorar. Já o bebê só começou com o corte do cordão umbilical – perdeu a fonte de oxigênio que vinha de mim e passou a usar os próprios pulmões. Estávamos desconectados. Ele ganhava o mundo. E eu, um filho. Que agora seria meu companheiro em tantas outras descobertas como mãe. Mas essa é outra história.

Na cesariana, é feito um corte de cerca de 10 cm que atravessa 7 camadas de tecido até chegar ao útero.

Por isso há mais riscos de infecções para a mãe e bebê e a recuperação pós-parto é mais demorada.

Em 2010, as cesarianas foram 52% dos partos no Brasil. A média recomendada pela OMS é de 15%.

Tamanho da barriga – 36 cm

O nascimento

O bebê pesa em média de 2,5 a 3,5 kg e nasce com uma reserva de glicose para 3 dias, tempo que o leite materno leva para surgir (antes disso vem o chamado colostro, um líquido carregado de anticorpos). Com a dieta, a criança sai do hospital 10% mais leve.

Para saber mais

Mãe Geek

https://www.maegeek.com

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