Doentes ou diferentes?
Saiba por que ativistas do mundo todo promovem o orgulho de serem portadores de necessidades especiais
Marcelo Cabral
A maioria das pessoas ditas normais não costuma ver motivo para alguém vangloriar-se de possuir uma necessidade especial. Mas vários movimentos que promovem o orgulho e o direito de ser autista, surdo ou mudo estão se espalhando pelo mundo – para surpresa de muitos médicos. Via internet, os ativistas congregam os portadores de deficiências e divulgam suas polêmicas idéias (a principal delas é que eles não são doentes, mas apenas diferentes). Confira a seguir os grupos mais numerosos.
Loucura
Os movimentos que pregam o Orgulho Louco nasceram na esteira das manifestações dos direitos civis nos EUA no fim da década de 1960. O mais numeroso é o MindFreedom (www.mindfreedom.org), que promove paradas no dia da Queda da Bastilha (14 de julho). A data foi escolhida porque em 1789, quando uma multidão invadiu a fortaleza francesa, soltou duas pessoas presas justamente por terem deficiências mentais. Em vez de loucos, muitos ativistas preferem ser chamados de “sobreviventes da psiquiatria”.
O que dizem os médicos: Os distúrbios mentais podem ser detectados por exames e devem ser tratados.
A resposta dos ativistas: Tudo não passa de atitudes diferentes do padrão socialmente aceito. A solução (e só para os casos mais graves) são as chamadas terapias alternativas.
Autismo
O movimento Aspies for Freedom (Autistas pela Liberdade, https://www.aspiesforfreedom.org) tem por objetivo “celebrar a neurodiversidade” e promove manifestações anuais no Dia do Orgulho Autista, 18 de junho. Seus integrantes garantem que diversas pessoas diagnosticadas com o chamado autismo de alta funcionalidade, que tem uma ação mais branda sobre o organismo, são profissionais reconhecidos.
O que dizem os médicos: O autismo impede o portador de se relacionar com o mundo.
A resposta dos ativistas: A busca por uma cura para o autismo é uma forma de limpeza étnica. Ele só pode ser considerado uma doença do cérebro se a cor negra também for considerada uma doença de pele.
Surdez
Você já ouviu falar em Cultura Surda? Pois é assim que os ativistas classificam os hábitos e a etiqueta das pessoas que não ouvem (www.aslinfo.com). “O principal fator de desenvolvimento dessa cultura é a linguagem de sinais”, afirma José Guilherme Magnani, professor de antropologia da USP. “Trata-se de uma língua igual a qualquer outra, com sintaxe e morfologia.” Por isso, muitos militantes são contra os aparelhos de surdez e outros tratamentos que descaracterizam essa manifestação cultural.
O que dizem os médicos: A surdez pode ser tratada com aparelhos específicos para recuperar a audição.
A resposta dos ativistas: A surdez é uma característica que deu origem a uma série de hábitos que só podem ser classificados como “culturais”. Sua principal forma de expressão é a linguagem de sinais.