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E se venda de órgãos fosse legalizada?

Se você algum dia precisar de um transplante de órgão, pode começar a rezar: só no Brasil, existem mais de 69 mil pessoas na fila, que não pára de crescer. Mas e se fosse permitido vender órgãos, tirando um lucro da sua vovozinha que morreu – ou até, talvez, colocar no mercado um dos seus […]

Por Pedro Burgos
Atualizado em 31 out 2016, 18h32 - Publicado em 30 abr 2008, 22h00
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  • Se você algum dia precisar de um transplante de órgão, pode começar a rezar: só no Brasil, existem mais de 69 mil pessoas na fila, que não pára de crescer. Mas e se fosse permitido vender órgãos, tirando um lucro da sua vovozinha que morreu – ou até, talvez, colocar no mercado um dos seus próprios rins? “O incentivo financeiro aumentaria a quantidade de transplantes e acabaria com as filas”, diz o economista Gary Becker (que ganhou um Prêmio Nobel por sua análise do comportamento humano), num estudo sobre comércio de órgãos.

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    E existem números que comprovam isso: o Irã, que permite a venda de órgãos, é líder mundial em doações de rim (são 25 doadores por milhão de habitantes, contra 19 dos EUA e 6,2 do Brasil).

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    Mas o arrependimento seria alto: 79% dos iranianos que venderam um de seus rins lamentam a decisão. Além disso, um livre mercado de órgãos “poderia explorar os mais pobres e atrapalhar as doações cadavéricas [provenientes de gente morta]”, acredita Valter Garcia, da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Como resposta, os defensores da idéia propõem a criação de regras para o comércio (veja ao lado).

    Mas, quem sabe, daqui a algumas décadas, essa discussão sobre transplantes poderá ficar obsoleta com a chegada ao mercado de órgãos artificiais. Já existem pesquisas com porcos geneticamente modificados, que poderiam atuar como doadores de órgãos para seres humanos, mas a maior esperança está na “programação” de células-tronco, a matéria-prima de tudo no corpo humano. Quando você nascesse, o hospital coletaria algumas dessas células – que poderiam ser manipuladas, décadas depois, para se transformar em órgãos.

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    Quanto vale o show

    Preços alcançados por alguns órgãos no mercado negro; e o que aconteceria com a liberação

    Fígado – Podem ser doados em vida

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    R$ 175 mil

    É possível doar até metade, pois o órgão se regenera. Mas, após a operação, você terá de maneirar na bebida.

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    Rim – Podem ser doados em vida

    R$ 110 mil

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    Como dá para viver com apenas um rim e a operação é segura, o mercado de doação iria bombar. \

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    Medula óssea – Podem ser doados em vida

    R$ 122 mil

    Mina de ouro, pois dá para doar várias vezes. Basta ter coragem para levar uma agulhada na bacia.

    Córnea – Só podem ser doados por mortos

    R$ 52 mil

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    Vale menos que os outros órgãos, mas também dá um “caldo” – pois quase sempre pode ser aproveitada.

    Coração – Só podem ser doados por mortos

    R$ 226 mil

    Cada vez mais jovens morrem no Brasil – então provavelmente sobrariam corações para transplantes.

    Pulmão – Só podem ser doados por mortos

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    R$ 261 mil

    Com a queda no número de fumantes, há um suprimento cada vez maior de pulmões fresquinhos.

     

    Topa fazer negócio?

    Veja como a coisa iria funcionar

    Os preços mudariam?

    Sim: cairiam muito. Gary Becker afirma que, como seria mais fácil conseguir órgãos, o preço de um rim cairia para US$ 15 mil – quase 80% a menos do que os valores hoje praticados pelas máfias de órgãos (veja no infográfico). No Irã, onde a venda é legal, um rim custa só R$ 6 mil. Mas existe o perigo de que os pobres vendam seus órgãos em situações aviltantes – para sobreviver, pagar dívidas ou deixar uma herança.

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    Quem poderia vender?

    O economista Julio Jorge Elias, co-autor do estudo que defende o comércio, sugere regras. Antes de vender um rim, por exemplo, o doador teria de passar por avaliações médicas e esperar dois meses. E teria suas despesas médicas pagas pelo comprador. Mas a maioria das doações continuaria vindo de gente morta – segundo estatísticas dos EUA, cada cadáver doador rende em média 2,7 órgãos (contra 1 por doador vivo).

    Quem iria controlar?

    Alguém precisaria atuar como “bolsa de órgãos”, coordenando oferta e demanda, juntando doadores e pacientes compatíveis e barrando órgãos infectados. O Canadá já testa uma versão desse sistema, mas sem dinheiro no meio. É um escambo: se você precisa de um rim e arranja um doador, mas ele não é compatível com você, pode “trocar” o órgão dessa pessoa pelo de outra.

    E os ladrões de órgãos?

    “O livre comércio inibiria o mercado negro”, diz Becker. Afinal, por que correr riscos se dá para fazer tudo dentro da lei? Mas continuariam a existir possibilidades perigosas. Regimes totalitários poderiam confiscar órgãos de prisioneiros. E haveria questões familiares. “Será que pessoas gananciosas matariam um parente para pegar os órgãos?”, pergunta o economista Robert Stonebraker, da Universidade de Winthrop (EUA).

    Fonte Bloody Harvest – Revised Report Into Allegations of Organ Harvesting of Falun Gong Practitioners in China, David Matas e David Kilgour, Canadá, 2007.

     

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