Em ponto de bala no esporte
Com superatletas em vários esportes, o Brasil está mais forte do que nunca e pode bater seu recorde de medalhas
Cristiana Felippe
A melhor participação brasileira na história das Olimpíadas. Essa é a expectativa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para Sydney-2000. “A qualidade e o crescimento do esporte brasileiro são indiscutíveis”, diz o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman. “Espero que os resultados gerais possam provar essa ascensão.”
O otimismo de Nuzman vem da última Olimpíada, em Atlanta, quando batemos o recorde de medalhas – quinze ao todo, entre elas três de ouro. Apesar da distância que separa o Brasil das grandes potências esportivas mundiais, a evolução é inegável. O país conquistou, numa única Olimpíada, um terço de todas as medalhas olímpicas de sua História. De lá para cá, todos os resultados vêm confirmando que o Brasil está realmente mais forte nos campos, nas quadras, nas pistas e nas piscinas. Há brasileiros entre os melhores do mundo em várias modalidades. Temos tradição nos esportes coletivos mais populares, como o futebol, o vôlei – de quadra e de praia – e o basquete, e também em outros, mais elitistas, como a vela e o hipismo. E o tênis, a natação e o atletismo podem render boas surpresas. A delegação brasileira terá, neste ano, um glamouroso toque feminino. O número de mulheres é 50% maior do que na Olimpíada passada. Conheça agora quem são os destaques entre os cerca de 210 atletas brasileiros que vão a Sydney. Por estes você não vai torcer em vão.
Vento a favor
Campeão olímpico e mundial, o paulistano só não leva o ouro na classe Laser se der uma tremenda zebra
Se juntarmos dez brasileiros para assistir a uma prova de iatismo, já será um sucesso de público. Definitivamente, os barquinhos não fazem a nossa cabeça. Quanta ingratidão! O esporte é o maior ganhador de medalhas de ouro da história olímpica brasileira: quatro, ao todo. E em Sydney devem rolar mais. A dupla Torben Grael e Marcelo Ferreira, ao lado de Robert Scheidt, todos medalhistas em Atlanta-96, prometem repetir a dose.
“O importante é chegar sempre confiante em um bom resultado”, diz Grael, que vai competir ao lado de Ferreira na classe Star. Robert Scheidt é mais favorito ainda, bicho-papão da classe Laser e atual campeão olímpico e mundial. Paulistano, descendente de alemães, ele pratica a vela desde criança, com o incentivo do pai. Aos 16 anos tornou-se o mais jovem tricampeão mundial de sua classe.
Além dos quatro ouros, o Brasil ainda tem mais seis medalhas no iatismo, sendo uma de prata e cinco de bronze. Com essa turma a gente pode contar.Adriana e Shelda – Favorito Vôlei de Praia
Vôlei de praia
Não tem pra ninguém. Essas garotas valem ouro
Em Atlanta-96, o Brasil fez dobradinha no vôlei de praia feminino, ganhando ouro e prata. Em Sydney, novamente o país é favorito. Será uma grande surpresa se a dupla tricampeã mundial Adriana Behar (mais à esquerda), de 30 anos, e Shelda Bedê, de 26, e, não levar o título. O retrospecto é de arrepiar os adversários: dos 104 jogos oficiais disputados no ano passado, elas perderam apenas quatro. No masculino, a dupla Emanuel e Loiola também tem boas chances.Rodrigo Pessoa – Favorito Hipismo
Upa, upa, upa!
Bronze em Atlanta, mauricinho nascido na França é a estrela da prova individual de saltos
Ele nasceu na França, mora na Bélgica e quer trazer o ouro para o… Brasil! É isso mesmo. Esse mauricinho de 27 anos, Rodrigo Pessoa, líder do ranking mundial, é o favorito ao primeiro lugar na prova individual de saltos do hipismo. Rodrigo, que tem cidadania brasileira, já possui um bronze olímpico, conquistado em Atlanta-96 no salto por equipes. “Hoje estou com muito mais experiência”, diz à SUPER. “Além disso, tenho um cavalo bem mais seguro do que em Atlanta.”Alex – Favorito Futebol
O título que falta
Aos 23 anos, é a estrela da seleção de futebol, que (incrível!) nunca ganhou o ouro olímpico
O ouro nos Jogos Olímpicos é o único título que o futebol brasileiro não tem. Por isso, o técnico Wanderley Luxemburgo quer entrar para a História e aposta tudo nos garotos que ganharam o torneio Pré-Olímpico, no início do ano. Um dos destaques é o meia Alex. Em Sydney, ele deve formar com Ronaldinho Gaúcho uma dupla infernal. A seleção feminina também tem boas chances de medalha. Foi quarto lugar em Atlanta-96 e terceiro na Copa do Mundo dos Estados Unidos, realizada este ano.Claudinei Quirino – Favorito Atletismo
De azarão a fera
Beneficiado pelas contusões dos dversários, o velocista pode beliscar o ouro
Até o dia 23 de julho, o corredor Claudinei Quirino era apenas um azarão para os 200 metros rasos em Sydney. Chegar ao pódio já seria lucro. Afinal, ia ter que encarar os supercampeões Michael Johnson e Maurice Greene, dos EUA, favoritíssimos ao ouro. Nesse dia, porém, os dois americanos se machucaram durante as seletivas e acabaram perdendo a vaga para a prova. Azar deles, sorte nossa. Claudinei passou a ter chances até de vencer a corrida, já que, no Mundial de Sevilha deste ano, foi o segundo colocado – atrás apenas de Johnson. “Farei tudo por uma medalha”, promete o atleta, que foi criado num orfanato e só descobriu seu talento aos 20 anos.Gustavo Kuerten
O número 1
Aos 23 anos, Guga pode trazer a primeira medalha do tênis brasileiro em Olimpíadas
O tenista Gustavo Kuerten é, hoje, o maior atleta brasileiro. Neste ano, ele já foi o líder da Corrida dos Campeões – o novo ranking mundial – e conquistou o bicampeonato de Roland Garros, um dos quatro maiores torneios do planeta. Aos 23 anos, Guga se tornou a mais grata revelação das quadras brasileiras desde a longínqua Maria Esther Bueno, ganhadora de vários títulos na década de 60.
Com seu jeito simpático e desleixado, ele deflagrou uma onda de popularização do tênis, tradicionalmente um esporte de elite. Hoje, as escolinhas de todo o país vivem um boom de novos praticantes.
“Estou superansioso. Sempre sonhei em jogar nas Olimpíadas e em ver de perto como é essa emoção”, disse à SUPER. “Tenho muito orgulho em defender as cores do Brasil.” Além dos rivais, Guga enfrentará um adversário perigoso em Sydney: o piso da quadra, que vai ser emborrachado. Ele prefere o saibro, onde conquistou seus melhores resultados.Maurren Higa Maggi
Saltando na frente
A brasileira, que deve o nome incomum ao pai beatlemaníaco (Maurreen foi a primeira mulher de Ringo Starr), ganhou ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1999
Superatleta desde criança, quando brilhou nas quadras de vôlei, basquete, ginástica artística e até no xadrez, a paulista Maurren Higa Maggi finalmente se decidiu pelo atletismo. Aos 24 anos, pode conquistar sua primeira medalha olímpica. Ela foi ouro no salto em distância nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-99 e, no campeonato sul-americano do ano passado, cravou 7,26 metros, marca que a colocou entre as dez primeiras do mundo nessa modalidade.Fernando Scherer Gustavo Borges
Os tubarões que se cuidem
Xuxa já tem um bronze em Atlanta-96 e agora quer subir mais alto no pódio Na busca de mais medalhas, o veterano enfrentará os temíveis Popov e Thorpe
A natação brasileira deve agradecer à bronquite. Por causa da doença, Fernando Scherer, o “Xuxa”, começou a nadar aos 10 anos de idade, como forma de tratamento, e não parou mais. Em Sydney, ele dificilmente deixará de trazer pelo menos uma medalha nas provas de velocidade. Xuxa vai disputar os 50 e os 100 m nado livre, os revezamentos 4×100 m e 4×200 m livre e ainda vai nadar borboleta no revezamento 4×100 m medley. “Pretendo conseguir mais uma medalha para o Brasil e continuar nadando até 2004”, promete. Outra esperança é o nadador Gustavo Borges, dono de três medalhas olímpicas (prata e bronze nos 200 m e 100 m livres em Atlanta-96 e prata nos 100 m em Barcelona-92). Mesmo enfrentando feras como o russo Alexander Popov, que tenta o tricampeonato, Borges tem chances de conquistar mais medalhas para a coleção que enche a casa de seus pais em Ituverava (SP).Janeth
A nova rainha
Sem Paula e sem Hortência, ela vai comandar a seleção que foi prata em Atlanta-96
A difícil missão de substituir a rainha Hortência e Magic Paula não amedronta Janeth Arcain, de 31 anos, hoje a nossa principal estrela no basquete. “Para mim é muito gratificante comandar a seleção”, disse à SUPER. “A responsabilidade é grande, mas os desafios me levam à superação.”Leila
Máquina perigosa
A bela Leila nunca passa despercebida – ela lidera as colegas e encanta a torcida
O vôlei brasileiro não é tão favorito quanto a sua versão de praia, mas – com forte tradição nos dois sexos – tem boas chances de chegar ao pódio. Na modalidade feminina, a seleção brasileira conta com a experiência de Leila e de Virna, remanescentes da equipe que conquistou a medalha de bronze em Atlanta-96, para superar as eternas rivais cubanas. No vôlei masculino, o destaque é a dupla Tande e Giovane, campeões olímpicos em Barcelona-92, que voltam às quadras após uma temporada no vôlei de praia.