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H5N1: EUA vivem grande surto de gripe aviária entre vacas; entenda os riscos.

As autoridades americanas também registaram a primeira pessoa infectada pelo vírus H5N1 proveniente de outro mamífero, o que acende um sinal de alerta.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 4 abr 2024, 18h17 - Publicado em 4 abr 2024, 18h16

O vírus da influenza H5N1, que causa a doença popularmente conhecida como gripe aviária, vem se espalhando e matando diversas espécies de aves por todo o planeta. As agências sanitárias nos EUA, porém, estão acompanhando o surto deste mesmo vírus em um outro tipo de animal: os mamíferos. Mais precisamente, entre vacas.

Segundo as autoridades do país, o vírus já infectou pelo menos 13 rebanhos, espalhados por seis estados (sete no Texas, dois no Kansas, um em Michigan, Novo México, Idaho e Ohio). O H5N1 é relativamente comum em aves, mas é a primeira vez que é detectado em vacas.

Não é só isso: as autoridades americanas também registraram uma infecção humana do vírus que provavelmente veio do contato direto com as vacas. De acordo com o Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o paciente está sendo tratado com antivirais, e o único sintoma apresentado foi conjuntivite. É a primeira vez que um humano contrai a doença por ter contato com outro mamífero.

O que é o vírus H5N1?

Primeiro: ele não é novo. O vírus é o do tipo influenza, assim como o da gripe comum, e foi detectado pela primeira vez lá em 1996, em Gansos, no sul da China. E também não é a primeira vez que o vírus aviário foi detectado em mamíferos. Apesar de raro, ela já apareceu em leões marinhos no Peru e no Chile, em elefantes marinhos na Argentina e em raposas no Canadá, França e outros países. 

Até agora, as vacas não estavam entre o grupo dos animais com alto risco de serem contagiadas – mesmo assim, aconteceu. 

“As vacas não estavam no topo da lista de animais que [poderiam] ser infectados. Mas os ursos polares provavelmente não estavam no topo da lista há alguns anos e vimos uma série de infecções de ursos polares,” disse, em entrevista ao Science News, Andrew Pekosz, virologista da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.

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Em humanos, a infecção também não é nova. Os primeiros casos começaram em 1997, em Hong Kong. De lá pra cá, de todos os episódios registrados ao redor do mundo, um fator era comum em todos os contágios: as pessoas só foram infectadas através do contato direto com aves. Não há, até hoje, registro de casos transmitidos entre humanos. A única maneira de se infectar é contato direto com os animais doentes – aves ou, agora sabemos, vacas. 

Em humanos, o vírus causa uma gripe que pode variar de fraca até grave. Em casos críticos, pode levar a pneumonia e, consequentemente, à morte.

Como as vacas foram infectadas?

Os cientistas ainda não tem certeza, mas acreditam que a transmissão provavelmente aconteceu por meio do contato com aves migratórias infectadas. Esses animais excretam o vírus por secreções (como fezes e saliva), e podem ter infectado assim a água ou a comida das vacas. 

O vírus está infectando principalmente as vacas mais velhas, que apresentam sintomas de perda de apetite, febre e uma queda na produção do leite. Felizmente, apesar de letal para aves, ainda não foi registrado nenhum caso de óbito entre os bovinos em decorrência do vírus.

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As vacas infectadas estão se recuperando bem da infecção, o que levou as autoridades americanas a descartarem a possibilidade de matar os rebanhos afetados (esse é um procedimento comum adotado quando a infecção acontece em aves de corte – sacrificar geral para impedir o espalhamento do vírus).

Ainda não se sabe também se o contágio está ocorrendo de forma individual, com cada vaca ingerindo alimento ou bebida contaminada, ou se o vírus está se disseminando de vaca para vaca. Essa segunda possibilidade é considerada mais difícil, mas as autoridades não descartam que ela esteja ocorrendo. 

“A verdadeira questão neste momento é se existe uma fonte comum de infecção de todas estas vacas ou se há transmissão entre as vacas nas explorações. Houve alguns relatos de movimentação de algumas dessas vacas para outras fazendas e detecção de vacas infectadas nessas outras fazendas. Se houve transmissão de vaca para vaca, isso seria bastante preocupante para nós”, comenta Pekosz.

Se essa hipótese se confirmar, pode significar que o vírus está se adaptando ao organismo da vaca e, assim, se espalhando com mais facilidade de um indivíduo para o outro. Nesse cenário, o mecanismo propiciaria ao vírus a possibilidade de mais mutações, tornando-o assim mais perigoso para humanos.

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O H5N1 em humanos

Mas calma. Seguindo a dica do Guia do Mochileiro das Galáxias, não é preciso entrar em pânico. Apesar dessa ser a primeira vez que o vírus foi detectado passando de uma vaca para humano, já houve um segundo caso em humano nos EUA, detectado no Colorado em 2022.

Em ambos os casos, os pacientes foram infectados pelo contato prolongado com animais sem proteção (com aves no ano passado, e com os bovinos no caso atual). A infecção recente é, aliás, uma exceção: das 12 pessoas sintomáticas que trabalhavam com essas vacas, somente uma testou positivo para a presença do vírus.

Na amostra analisada, o vírus apresentava uma mutação que aparentemente facilitou que pulasse para o humano. Mas, para que isso se torne algo comum, é necessário um caminho evolutivo complexo.

Apesar de, no passado, amostras mostrarem que o vírus tenha apresentado algumas mutações de adaptação para humanos, especialistas afirmam que ainda são poucas mutações acumuladas – e, para que ele ganhe a capacidade definitiva de se transmitir de humanos para humanos, ainda haveria um longo caminho.

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Essas mesmas mutações que são observadas nas amostras atuais já foram observadas antes, e, mesmo assim, esses vírus não evoluíram para se disseminar entre as pessoas. De qualquer forma, Pekosz afirma que esses são alguns dos sinais de alerta.  

“Esse vírus continua sendo uma das principais prioridades em termos de vírus a serem observados porque continua mostrando os sinais que esperamos ver de um vírus que está fazendo o salto para os humanos.”

As autoridades americanas também ressaltam que ainda é seguro beber o leite ou consumir outros laticínios. Os processos de produção desses alimentos, como a pasteurização do leite, elimina potenciais patógenos contidos no leite.

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