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Humanos passam mais vírus para animais do que eles passam para nós

Em 64% das trocas de doenças entre humanos e animais, somos nós os culpados. Antroponoses contaminam à vida selvagem – e podem nos afetar mais tarde.

Por Leo Caparroz
25 mar 2024, 19h00

Várias doenças infecciosas são causadas por vírus que circulam em animais. Quando estes vírus passam dos animais para os humanos, um processo chamado de zoonose, podem causar surtos de doenças – foi o que aconteceu com a Ebola, a gripe aviária e a Covid-19. 

Por causa do enorme impacto das doenças zoonóticas na saúde pública, os seres humanos geralmente são considerados apenas vítimas, e não fontes – a transmissão de vírus de humanos para animais recebe muito menos atenção.

Talvez a mamãe pombo devesse estar mais preocupada de o filhote dela tocar numa criança e pegar uma doença do que a sua mãe humana do contrário. Uma análise dos 60 mil genomas de vírus descobriu que, em 64% das vezes, são os humanos que infectam outros animais – e não o contrário.

É isso o que descobriu um novo estudo feito por pesquisadores da University College London, no Reino Unido, e publicado no periódico científico Nature Ecology & Evolution. Analisando o histórico dos vírus, a equipe de cientistas contabilizou as vezes em que eles saltaram de uma espécie para a outra – e quantas vezes os humanos estavam envolvidos.

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Os pesquisadores tiveram acesso a um banco de dados global de vírus sequenciados para estudar. Eram cerca de 12 milhões de sequências genéticas, mas muitas estão incompletas ou não têm dados de quando foram coletadas ou quais as espécies hospedeiras – o que era essencial para a pesquisa.

Por isso, os cientistas deram uma filtrada nas amostras, reduzindo o número para 60 mil sequências com qualidade aprovada e dados completinhos. 

Partindo disso, eles criaram reconstruíram os históricos evolutivos dos vírus selecionados. Com essas “árvores genealógicas” de 32 famílias virais, eles identificaram 3 mil saltos entre espécies. 

Dos 599 saltos que envolviam pessoas, 64% foram pulos de humanos para animais, chamados de antroponoses.

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Parando para pensar, é uma estatística que faz sentido. O Homo sapiens é uma das espécies mais bem distribuídas ao redor do globo, com uma população imensa. Um vírus que se espalha entre humanos tem muito mais oportunidades de pular para um animal do que um vírus que circule especificamente em uma espécie não humana, que fica limitado a uma região.

Antroponoses são extremamente prejudiciais para os animais – assim como as zoonoses são para a gente. Além de serem uma ameaça em potencial para a conservação da espécie, podem causar problemas aos seres humanos. Um exemplo são os abates em massa de pássaros infectados com H5N1, o que compromete a segurança alimentar da população.

“Além disso, se um vírus transportado por seres humanos infectar uma nova espécie animal, o vírus poderá continuar a prosperar mesmo se for erradicado entre pessoas, ou mesmo desenvolver novas adaptações antes de acabar por infectar novamente os humanos”, afirma Cedric Tan, principal autor do estudo, em um comunicado.

“Compreender como e por que os vírus evoluem para se espalhar por diferentes hospedeiros pode nos ajudar a descobrir como novas doenças virais surgem em humanos e animais.”

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