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O que é esporotricose, micose perigosa para gatos que também pega humanos

Esse fungo subcutâneo, em alta no Brasil, não causa grandes complicações em nós. Nos bichanos, porém, é letal sem tratamento.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 18 out 2023, 23h42 - Publicado em 18 out 2023, 20h24

Casos de esporotricose estão ficando mais comuns em alguns estados do Brasil, o que levou o infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) a classificar a zoonose como “descontrolada” à Folha.

Faz aproximadamente uma década que as ocorrências estão em alta, mas como a doença não é de notificação compulsória como a covid-19, por exemplo muitos dos casos não são informados ao Ministério da Saúde, o que significa que qualquer pico recente de casos da doença pode ser disfarçado por subnotificação.

A esporotricose humana  é um tipo de micose subcutânea (ou seja, que se espalha por debaixo da pele). Ela dá as caras quando um fungo do gênero Sporothrix entra no organismo geralmente depois do paciente ser perfurado pelos espinhos de um vegetal que contêm o fungo em sua superfície, ou pelas garras de um animal infectado. 

O aumento de casos atual está fortemente relacionado à transmissão de animais para humanos os vetores mais comuns são gatos domésticos. Os costumes exploratórios dos bichanos podem expô-los ao fungo nas ruas e na natureza. Uma vez infectados, eles podem repassá-lo a nós de muitas formas: arranhões, mordidas ou o contato acidental com uma ferida na pele do tutor. 

Em gatos, a doença é contagiosa e letal. Em humanos, porém, é benigna. Não causa complicações graves, não é transmissível de pessoa para pessoa e o SUS oferece antifúngicos. A maior preocupação é com quem tem problemas no sistema imunológico, já que aí o organismo não consegue combater o fungo por conta própria.

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O principal responsável pela esporotricose atualmente é o Sporothrix brasiliensis 90% dos casos são gerados por essa espécie. Ele foi inicialmente descrito no Sul e Sudeste do Brasil, mas rapidamente se espalhou para os outros estados e países da América do Sul.

O fungo tem duas fases em seu ciclo de vida. Durante o período conhecido como micelial, ele usa suas hifas uma rede de filamentos finíssimos que absorvem nutrientes para se fixar na natureza. Geralmente as hifas se ramificam e prosperam em solo rico em matéria orgânica, e assim acabam se esgueirando em arbustos e árvores (daí o risco de infecção quando alguém se corta em uma planta espinhenta).

Imagem do fungo Sporothrix schenckii, causador da esporotricose.
Eu sua fase micelial, o fungo fica alojado no solo ou na superfície de arbustos e espinhos. (Universidade de Adelaide - Austrália/Reprodução)

A forma micelial ocorre em temperatura ambiente, ao redor dos 25 °C. Quando ela sobe para uns 37 °C, o fungo pode se desenvolver para a forma leveduriforme, em que é o estágio de vida em que ele é capaz de parasitar seres humanos e animais.

Ao nos cortarmos com espinhos ou lascas contaminados, o Sporothrix acessa o nosso corpo ainda no estágio micelial. Mas é justamente nosso calorzinho natural (e o calor dos gatos também, é claro) que engatilha sua passagem para a fase levedura e o torna perigoso. 

Organismos fúngicos Sporotrichum schenckii, em fase de levedura, também conhecidos como Sporothrix schenckii.
Quando encontram um hospedeiro, os parasitas usam o calor do corpo para se desenvolver e chegar na fase levedural. (Domínio Publico/Reprodução)

Sintomas

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Os sintomas costumam ser feridas na pele. Inicialmente similares a picadas de insetos, elas não cicatrizam rápido e aumentam de tamanho. Também são comuns bolinhas vermelhas, parecidas com espinhas, com um pontinho de pus no centro. Elas formam uma úlcera que pode aumentar.

Feridas de esporotricose linfocutânea no braço.
Em humanos, as feridas costumam aparecer nos braços e mãos, que são as regiões do corpo em que costuma ocorrer o primeiro contato com o fungo. (Fichman V, Valle ACFd, de Macedo PM, Freitas DFS, Oliveira MMEd, Almeida-Paes R, et al. (2018) Cryosurgery for the treatment of cutaneous sporotrichosis in four pregnant women./Reprodução)

As feridas aparecem na região em que rolou a contaminação. No caso da transmissão por via felina, naturalmente, mãos, pés e rosto estão mais suscetíveis a lambidas, mordidas e arranhões dos bichanos. 

Em gatos, as feridas podem ser confundidas com machucados normais. Por causa disso, o diagnóstico correto pode vir tarde. São aberturas profundas, que não cicatrizam, e é fácil confundi-las com simples ferimentos de briga com outros gatos.

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É importantíssimo levar seu Frajola ao veterinário se um problema assim se manifestar principalmente quando o dito-cujo passa muito tempo na rua (e nem precisa dizer o óbvio: o ideal mesmo é evitar que o pet saia para passear desacompanhado).

Existe tratamento. Como a doença, para eles, é letal, o ideal é começar o mais rápido possível. O fungo pode afetar o sistema linfático e comprometer os olhos e vias respiratórias. A doença evolui especialmente rápido se o bichano já tiver histórico de problemas de saúde, então fique atento. 

Prevenção

A principal forma de se prevenir é evitar contato com o fungo. Se for mexer com plantas ou com o solo em trabalhos rurais, use luvas e calçados. Evite contato com gatos de rua, e, se possível, cuide para que seu bichano não saia de casa.

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Indivíduos (humanos e felinos) com suspeita de esporotricose devem procurar atendimento médico para diagnóstico e tratamento.

Os donos e veterinários devem cuidar dos animais doentes usando equipamentos de proteção individual (EPI). Também é recomendado que os bichos fiquem isolados em um local seguro, separados do convívio das pessoas da residência.

Os bichanos são tão vítimas da esporotricose quanto nós. Existe cura para a doença, então não abandone seu animal em hipótese alguma. Eles merecem todos os cuidados possíveis, assim como você. E claro: é comum que animais que são vetores de doenças sofram violência. Se um caso desses chegar a seu conhecimento, denuncie.

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