Não há evidências de que Covid-19 seja uma doença sazonal, alerta OMS
Diferentemente da gripe, a Covid-19 não parece se fortalecer no inverno e perder força no verão. Isso indica que medidas de contenção devem ser contínuas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, nesta segunda-feira (10), que não há evidências de que a Covid-19 seja uma doença com comportamento sazonal. Em coletiva de imprensa, representantes da entidade reforçaram que medidas de prevenção como distanciamento social, uso de máscaras e a proibição de aglomerações devem continuar mesmo em países que já controlaram a fase mais aguda da pandemia. A afirmação vem em meio a especulações de que estações do ano mais quentes pudessem ter uma influência na pandemia, enfraquecendo a transmissão do vírus.
Doenças sazonais são aquelas que se espalham mais em determinadas épocas do ano. Várias infecções respiratórias entram nessa classificação – é o caso da gripe, por exemplo, que é bem mais presente no inverno. Isso porque, em temperaturas mais frias e secas, o vírus responsável fica mais ativo, e também porque os humanos tendem a se aglomerar em ambientes fechados e com pouca circulação de ar, o que facilita a transmissão.
A Covid-19, porém, não parece seguir esse padrão, segundo a OMS. Especulações recentes de que a doença poderia ser sazonal se baseiam no fato de países da Europa, como Itália e Espanha, terem controlado a curva de casos agora, época de verão no Hemisfério Norte. O aumento desenfreado, por outro lado, coincidiu com o inverno e no início da primavera.
Mas o clima, no caso do coronavírus, não tem muita parte nessa história. Essa mudança se deve mais às medidas de controle adotadas por esses países do que pelo clima, segundo a OMS. “Se você parar de pressionar o vírus, ele vai se recuperar. O que temos a dizer aos países da Europa é isso: mantenham a pressão”, disse Mike Ryan, diretor executivo do programa de emergências da OMS.
Alguns países do Hemisfério Norte, que passam atualmente pelo verão, ainda enfrentam situações preocupantes, como é o caso dos Estados Unidos, que lidera tanto em casos como em mortes no ranking mundial. O Brasil enfrenta a doença no inverno, mas não há provas de que, quando as temperaturas aumentarem, a doença perderá força naturalmente.
Maria Van Kerkhove, líder do grupo de resposta à Covid-19 da ONU, lembrou também que a enorme maioria da população mundial ainda é suscetível à infecção, e portanto o vírus não desapareceu magicamente. O diretor da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ressaltou a importância de países manterem programas de controle para surtos locais que apareçam em seus territórios. As falas foram vistas como avisos principalmente para nações que já conseguiram controlar as piores fases da crise e já estão em grande parte reabrindo a economia, porém enfrentam o risco iminente de novas ondas caso não adotem medidas essenciais.
Uma dessas medidas é a testagem em massa da população, que, segundo especialistas, é a melhor maneira de rastrear novos casos e impedir que novos surtos tomem proporções maiores. Países como China, Coreia do Sul e Alemanha estão adotando essa estratégia – que, de início, parece ter bons resultados. Outra medida vista como eficiente é a imposição de lockdowns locais e temporários em regiões que apresentem surtos esporádicos da doença para impedir que o vírus se espalhe pelo resto do país. Até na Nova Zelândia, centro das atenções no mundo após anunciar que ficou mais de 100 dias sem transmissão do vírus em seu território, novos casos foram identificados recentemente. O governo estabeleceu um lockdown em Auckland, cidade mais populosa do país, para investigar os novos casos.
Curiosamente, mesmo não sendo uma doença sazonal, a Covid-19 acabou indiretamente enfraquecendo a “temporada da gripe” do inverno do hemisfério norte, graças às medidas de quarentena voltadas ao coronavírus. Os números de novos casos de infecção por Influenza, o vírus da gripe, caíram drasticamente já em abril, quando o normal é acontecer apenas em maio. E, em números brutos, os casos de gripe diagnosticados laboratorialmente também foram menores, segundo a plataforma FluNet, da OMS.