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O que são as “drogas digitais” em forma de áudio, da plataforma iDoser

As batidas binaurais estão ganhando adeptos entre o público jovem – mas não há evidências de que gerem efeitos alucinógenos como prometem.

Por Luisa Costa
13 abr 2022, 18h32

Um  influencer do TikTok viraliza compartilhando um fato inusitado com seus seguidores: segundo ele, algumas “doses” de áudios específicos poderiam oferecer efeitos relaxantes ou psicodélicos, típicos de drogas alucinógenas. A promessa (falsa) vem de sites e plataformas online, como a i-Doser, que comercializa os sons chamados popularmente de “drogas digitais” ou “drogas sonoras”.

O nome, por si só, já é enganoso: não se trata, claro, de quaisquer substância química que possa provocar alterações em nosso organismo e levar a estados de excitação ou relaxamento. Os sons vendidos não são entorpecentes e se baseiam em uma ilusão auditiva chamada batida binaural.

Como funciona

A ideia é que os áudios sejam reproduzidos em fones de ouvido. Então, em cada lado do fone, são tocados sons de frequências ligeiramente diferentes que geram a percepção de um terceiro som para o ouvinte – uma frequência intermediária, que está entre as duas tocadas.

Esse efeito é conhecido desde o século 19, mas recentemente tem sido usado para, supostamente, promover relaxamento, aumentar a concentração, reduzir estresse e ansiedade ou gerar efeitos alucinógenos aos ouvintes.

A propaganda da iDoser diz que “as possibilidades são infinitas” – e relatos de alguns usuário dizem que os áudios são o mais perto que se pode chegar dos efeitos de entorpecentes sem de fato consumi-los. Sons do tipo também estão disponíveis no YouTube, e o assunto ficou em alta no TikTok com adolescentes ensinando a utilizar a plataforma para ficar “loucão” sem usar drogas.

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Acontece que as tais “doses” podem até ser experiências auditivas incomuns, mas não há evidências científicas de que as batidas binaurais possam mesmo simular os efeitos de drogas que se promete ou impactar humor e desempenho cognitivo do ouvinte. O que talvez role é um efeito placebo: os adolescentes escutam os sons já querendo entrar em outro estado mental, e isso faz com que eles de fato se sintam mais relaxados. Só que isso não tem nada a ver com qualquer alteração química ou de ondas no cérebro.

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Como a busca pelas “drogas digitais” aumentou entre os jovens, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um comunicado alertando sobre os danos auditivos que a exposição prolongada às batidas – reproduzidas em fones de ouvido e potencialmente em volume alto – pode causar. 

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Segundo a SBP, ruídos altos, agudos e constantes podem gerar desde um estado de neurotização a lesões irreversíveis no aparelho auditivo, principalmente em crianças e adolescentes, que são mais vulneráveis. É claro: isso vale não só para os sons vendidos como “drogas”, mas qualquer barulho muito alto

O comunicado também lembra que “a estimulação exagerada e contínua [da audição] pode ocasionar a perda da neuroplasticidade e assim, afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável”.

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