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O que você precisa saber sobre a primeira vacina contra a malária recomendada pela OMS

O imunizante levou 34 anos para ser desenvolvido – e é o primeiro aprovado para uma doença parasitária.

Por Maria Clara Rossini
7 out 2021, 13h52

Na última quarta-feira (06), a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou o uso em larga escala da primeira vacina aprovada contra a malária, chamada RTS,S/AS01 – ou Mosquirix. A decisão chega após um programa-piloto de vacinação conduzido desde 2019 em três países africanos: Quênia, Malawi e Gana.

A malária é uma doença parasitária que mata meio milhão de pessoas todos os anos, praticamente todos residentes da África Subsaariana. Dentre as vítimas, 260 mil são crianças com menos de cinco anos de idade. 

Segundo Pedro Alonso, diretor do programa de malária da OMS, essa é uma decisão histórica. A primeira vacina contra a malária (e contra qualquer doença parasitária) foi desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline. Ela treina o sistema imune da criança para combater o Plasmodium falciparum, um dos cinco parasitas causadores da malária. O falciparum é o mais letal e é o que predomina na África.

A malária é uma das doenças mais mortais conhecidas – mesmo assim, demorou mais de um século para que uma vacina fosse desenvolvida. O parasita falciparum foi identificado no final do século 19, e o primeiro artigo sobre um imunizante contra ele foi publicado em 1910; os primeiros testes clínicos ocorreram na década de 1940. A RTS,S é a primeira vacina a receber a recomendação da OMS. Abaixo, confira algumas questões cruciais para entendê-la.

Por que demorou tanto?

É mais difícil criar uma vacina contra uma doença parasitária do que contra uma doença viral, como a Covid-19. A maioria das candidatas a vacinas contra a malária nem avançam para os testes clínicos. 

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A razão é que não há um, mas cinco parasitas que causam a doença. Eles são transmitidos por meio da picada da fêmea do mosquito Anopheles (a nova vacina, vale dizer, só funciona contra o Plasmodium falciparum).

Esses parasitas passam por diferentes estágios de desenvolvimento ao longo da vida. Ao entrar na corrente sanguínea da vítima, eles seguem para o fígado, onde irão se reproduzir. Na fase seguinte do ciclo, eles infectam os glóbulos vermelhos, fazendo com que eles se rompam.

Em resumo, o parasita assume vários disfarces dentro do corpo humano. Para desenvolver uma vacina, os cientistas precisam saber qual fase do ciclo querem atacar – o que torna o processo ainda mais desafiador.

A RTS,S gera uma resposta imune contra o primeiro estágio do parasita, antes que ele chegue ao fígado e comece a se reproduzir. A vacina começou a ser desenvolvida em 1987, e os testes clínicos de terceira (e última) fase só terminaram em 2014. No ano seguinte, a vacina recebeu a aprovação da agência regulatória europeia, o que permitiu a elaboração de um projeto-piloto para a aplicação do imunizante no Quênia, Malawi e Gana.

Qual é a eficácia da vacina?

Nos testes clínicos, a vacina apresentou eficácia de 50% contra a malária severa durante o primeiro ano após a aplicação da dose. No entanto, essa eficácia cai para quase zero no quarto ano. O estudo avaliou o número de casos graves, e não mortes. Segundo a médica Mary Hamel, do programa de implementação das vacinas de malária da OMS, metade das mortes por malária derivam dos casos graves. Portanto, a organização espera ver um impacto no número de mortes.

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Uma pesquisa de 2020 estimou que a aplicação da vacina em países com alta incidência de malária poderia prevenir 5,4 milhões de casos e 23 mil mortes de crianças por ano. Além disso, um outro estudo mostrou que a proteção aumenta quando a vacina é tomada em conjunto com outros medicamentos preventivos contra a malária, que já são usados na África durante os meses de maior incidência da doença. Quando as duas foram aplicadas em conjunto, houve uma redução de 70% em mortes e internações.

Ela é segura?

Sim. Mais de 2,3 milhões de doses já foram aplicadas no Quênia, Malawi e Gana, onde a vacina foi incorporada aos programas nacionais de imunização. Ela é aplicada em quatro doses em bebês a partir de cinco meses de idade. 800 mil crianças dos três países já foram imunizadas.

Segundo a OMS, mesmo com a aplicação da vacina, a população não deixou de tomar outras medidas preventivas, como usar redes com inseticida em volta da cama. O ideal é que o máximo de crianças possível tenha acesso a pelo menos um dos mecanismos de proteção: as redes ou a vacina.

Nesse momento, um outro imunizante está sendo desenvolvido pela Universidade de Oxford. Ele já apresentou 77% de eficácia em um teste preliminar com 480 crianças de outro país africno: Burkina Faso. A vacina deve entrar logo em testes de fase 3.

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