Olimpíadas: qual a melhor idade para cada tipo de esporte?
O pico de desempenho dos atletas muda a depender da exigência de cada esporte, descubra se você ainda tem tempo de subir ao pódio
Durante os Jogos Olímpicos de Paris, muita gente percebeu a diferença das idades dos atletas de cada modalidade. Por exemplo: no skate street feminino, categoria em que a brasileira Rayssa Leal conquistou o bronze, a idade média das atletas é 17 anos. Já entre os competidores do hipismo, a idade média é 39 anos.
As duas modalidades são exceções: o skate park tem a competidora mais jovem da edição, a chinesa Zheng Haohao, de 11 anos. No hipismo está a atleta mais velha de Paris 2024, a australiana Mary Hanna, de 69 anos.
Mas segundo um estudo realizado em 2021 pelo Arc Centre of Excellence in Population Ageing Research (CEPAR), 66% dos atletas das Olimpíadas de Tóquio estavam na faixa de 20 anos, e apenas 10% tinham mais de 30 anos.
Essa tendência de as Olimpíadas serem dominadas por jovens adultos levanta uma questão: qual idade marca o pico do desempenho de um atleta?
Como as exigências de cada esporte variam, existem muitas respostas para essa pergunta.
Qual a idade ideal para esportes de resistência?
Em Paris, o pódio do triatlo masculino tem atletas de 26 e 28 anos. Nos 400 metros da natação feminina, por exemplo, as atletas vencedoras têm entre 17 e 27 anos. Para os esportes de resistência, o pico do desempenho geralmente é entre 20 e 30 anos.
Uma importante razão por trás disso é a capacidade aeróbica: a quantidade máxima de oxigênio que o corpo consegue usar a cada minuto de exercício intenso.
Essa capacidade, também conhecida como VO2 max, é medida como a quantidade máxima de mililitros de oxigênio que o corpo pode usar por minuto por quilograma de peso corporal (mL/min/kg). Os melhores atletas de resistência atingem bem os 80 e até os 90, em comparação com a média de 30 ml/min/kg de um não atleta.
Vários fatores podem influenciar a diminuição da capacidade aeróbica. Um deles é diminuição da frequência cardíaca máxima e da quantidade de sangue bombeado por batida. Isso tem a ver com a diminuição da eficiência das válvulas e dos músculos que empurram o sangue de volta para o coração, assim como pelo enrijecimento das fibras musculares do coração e das paredes das artérias.
Qual a idade ideal para esportes de velocidade?
Em 2009, a cinco dias de completar 23 anos, Usain Bolt quebrou o seu próprio recorde mundial e correu 100 metros em incríveis 9,58 segundos. Nos Jogos de Paris, os vencedores dos 100 metros rasos masculino e feminino têm 27 e 23 anos, respectivamente.
Segundo um estudo de cinesiologia (o estudo do movimento do corpo humano) de 2021, a idade média para o pico de desempenho anaeróbico foi de cerca de 23 anos, em comparação com 26 anos para eventos aeróbicos.
Os pesquisadores definem os eventos aeróbicos como aqueles que duram mais de cinco minutos, como maratonas, em que os músculos recebem oxigênio suficiente para usar gorduras e carboidratos como combustível principal.
Já os eventos anaeróbicos são os que duram menos de dois minutos. Nesses casos, há falta de oxigênio e o corpo queima a glicose armazenada localmente nos músculos. Esse suprimento se esgota rapidamente. Existem ainda eventos mistos, que duram entre dois e cinco minutos.
Pessoas com menos de 30 anos geralmente prevalecem no sprint graças a seus músculos. Os velocistas têm uma abundância de fibras musculares de contração rápida, que geram contrações musculares curtas e vigorosas.
Essas fibras, que se cansam rapidamente, começam a se deteriorar aos 30 anos. Enquanto isso, as fibras musculares de contração lenta são muito mais resistentes à fadiga, e sua quantidade permanece praticamente constante durante toda a vida.
Outro aspecto importante para essas competições é a velocidade dos reflexos. Pesquisas sugerem que o tempo de reação atinge o pico aos 24 anos e diminui cerca de quatro a dez milissegundos por ano, pelo menos em não atletas.
As reações de uma pessoa de 34 anos podem ser até 100 milissegundos mais lentas do que eram uma década antes – nas corridas, isso pode ser a diferença entre a vitória e a derrota. Essa queda decorre de alterações nas fibras nervosas que diminuem a velocidade com que elas conduzem os sinais.
Por fim, é importante considerar que esportes explosivos são agressivos para o corpo e frequentemente causam lesões que terminam cedo as carreiras dos atletas. No caso das modalidades de velocidade, os riscos são maiores para o tendão de Aquiles, na parte inferior da perna, e nos músculos isquiotibiais, na parte superior da perna.
Qual a idade ideal para esportes dinâmicos, como a ginástica?
Um estudo de 2016 analisou as idades e os desempenhos dos atletas nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Segundo os autores, a idade média de um ginasta artístico masculino bem-sucedido era de 24 anos, em comparação com 19 anos para as ginastas femininas.
De acordo com o CEPAR, essa disparidade entre homens e mulheres pode refletir diferenças na fisiologia e nas taxas de maturação, bem como diferenças nos tipos de eventos em que eles competem.
Já se foi o tempo em que acreditava-se que para a ginástica era de que “quanto mais jovem melhor”, já que as meninas seriam mais flexíveis e destemidas antes da puberdade. Hoje, atletas mais velhas também se destacam: Jade Barbosa, atleta da equipe brasileira, tem 33 anos. Simone Biles, a melhor ginasta do mundo, tem 27.
A mudança foi generalizada na modalidade: cientistas apontam que hoje os regimes de treinamento e recuperação das ginastas são mais científicos e cuidadosos. Assim, suas carreiras podem ser mais saudáveis e longevas. Além disso, a idade mínima para competir na ginástica artística nas Olimpíadas subiu para 16 anos.
Qual a idade ideal para esportes de precisão?
As modalidades de precisão são as ideias para competidores mais velhos se destacarem. Isso porque geralmente são práticas menos dependentes dos atributos físicos e que se beneficiam da experiência e da calma. O estudo de 2016 feito a partir de dados das Olimpíadas de Londres aponta que a idade média de um atirador olímpico medalhista de ouro era de 33 anos.
O participante mais velho da história das Olimpíadas competiu em 1920 em uma modalidade de tiro. Oscar Swahn, da Suécia, tinha 60 anos quando ganhou sua primeira medalha, e participou pela última vez em 1920, aos 72 anos.
Foi em uma dessas categorias, a de tiro com pistola de ar 10m misto que o turco Yusuf Dikec, de 51 anos, se destacou e garantiu, além da medalha de prata, uma chuva de memes nas redes sociais.
Com uma das mãos no bolso, o semblante tranquilo e sem nenhum equipamento além de um óculos de grau, Dikec parece um cara qualquer. Quando os internautas descobriram seu perfil no Instagram, em que posta fotos bem-humoradas com gatos e sua filha de nove anos, o sucesso foi ainda maior.
Yusuf Dikec is a cat person! pic.twitter.com/AHueuXbl2k
— Punch Cat (@PunchingCat) August 1, 2024
Desde que você ainda tenha uma boa visão – ou, caso contrário, bons óculos – não há motivo para não continuar a se destacar nos esportes de precisão mesmo em idades mais avançadas.
Qual a idade ideal para o hipismo?
A categoria se destaca por ter atletas bem mais velhos do que a média dos jogos. Na verdade, o hipismo costuma ter o participante mais velho dos Jogos na maioria das edições das Olimpíadas. O cavaleiro mais velho foi o austríaco Arthur von Pongracz, de 72 anos, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936, enquanto a amazona mais jovem foi a brasileira Luiza Almeida, de 16 anos, nos Jogos Olímpicos de Verão de 2008.
Atualmente não há idade limite, mas há idade mínima: os competidores humanos devem ter mais de 18 anos, e os cavalos, mais de oito.
Segundo especialistas, o esporte se beneficia da experiência e prática intensa dos atletas com seus animais. As carreiras dos cavaleiros e amazonas são longas, e é comum que os competidores mais jovens narrem o prazer de competir ao lado de seus ídolos de infância.
Em alguns esportes, os atletas podem até mesmo atingir seu auge em idades mais avançadas: Nick Skelton, da Grã-Bretanha, ganhou duas medalhas de ouro no hipismo aos 54 e 58 anos de idade, respectivamente. Em algumas poucas modalidades, a idade é apenas um número.