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Para não morrer da cura

A quimioterapia mata as células cancerosas. E cura. Mas também mata células sadias e debilita o doente. Agora, um novo remédio protege a parte boa do organismo contra o ataque das drogas anticâncer.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 30 set 1997, 22h00

Lúcia Helena de Oliveira

Na guerra contra o tumor, quase sempre existe um momento de abaixar as armas. É quando o médico se vê obrigado a diminuir as doses ou mesmo interromper a quimioterapia, tratamento com drogas altamente tóxicas para células em ritmo de reprodução acelerado, como é o caso das cancerosas. “A questão é que essa característica não é uma exclusividade delas”, explica o oncologista gaúcho Gilberto Schwartzman, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Certos glóbulos brancos defensores se renovam a cada 8 horas. Como são rápidos, também são arrasados pela terapia anticâncer.”

O sistema imunológico destruído por tabela deixa o doente sujeito a infecções. Chega uma hora em que a queda da imunidade pode comprometer a saúde mais do que o próprio tumor. Xeque-mate. “Sem contar o prejuízo para os rins e outros órgãos vitais”, diz Schwartzman, que, no Brasil, é um dos pioneiros no uso da amifostina, um remédio sintético com incrível poder de salvaguarda. Ele é capaz de poupar a parte sadia do corpo.

O mal detonado

Esta é uma célula cancerosa atingida pela quimioterapia. O tratamento bloqueou seu crescimento e ela explodiu, cometendo um suicídio conhecido por apoptose

Escudo protetor

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O novo remédio forma uma barreira como esta ao redor das células sadias. Ela bloqueia a entrada do remédio quimioterápico, que não sabe distinguir o que deve atacar ou poupar

Da Guerra Fria para a luta contra a doença

A amifostina foi aprovada pelo FDA, órgão que controla os remédios nos Estados Unidos, no início deste ano. Mas sua história começou em 1958. Naquele ano, o Instituto Walther Reed de Pesquisas, em Washington, ligado ao Exército americano, preocupado com a ameaça nuclear da Guerra Fria, passou a buscar substâncias capazes de preservar os soldados de efeitos radioativos. Os cientistas, então, testaram mais de 4 000 compostos e concluíram que, entre todos, a amifostina oferecia a melhor proteção, embora estivesse longe de defender alguém de um desastre atômico.

A pesquisa para o uso da droga em câncer começou há mais de dez anos e até hoje não se sabe tudo sobre sua forma de ação (veja infográfico ao lado). “Uma dúvida é se ela tem um bom efeito na radioterapia, outro recurso comum no combate à doença, quando atacamos a área do tumor com radioatividade”, aponta o médico americano Ronald Bukowski, da Clínica Cleveland. “Estudos indicam que o remédio, injetado antes da terapia, evita que a radiação atinja a vizinhança sadia.” O que se conhece, porém, são os efeitos da droga na quimioterapia. E esses são bastante animadores.

Há, é verdade, efeitos colaterais. “O remédio pode provocar náuseas e até alergias”, reconhece o pediatra paulista Antonio Sérgio Petrilli, da Universidade Federal de São Paulo. “O mais comum, porém, era a queda brusca da pressão sanguínea e essa a gente está controlando.” Para resolver o problema, os médicos hidratam o paciente com uma solução salina antes de aplicar a amifostina e, claro, ficam de olho na pressão.

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Substância aumenta a chance de cura

“As drogas protetoras aumentam as chances de cura”, diz Petrilli, que investiga os tumores ósseos comuns em adolescentes. No Brasil, não se sabe a razão, por melhor que seja a conduta médica só 41% dos jovens se curam. Nos Estados Unidos, a recuperação fica em torno de 70%. “Tentamos acabar com essa diferença aumentando as doses de quimioterápicos”, conta. “Desistimos porque os pacientes tiveram problemas auditivos e imunológicos. Agora, vamos repetir as doses elevadas com a amifostina junto.”

O oncologista Artur Katz, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, não é tão otimista assim com a amifostina. “Uma droga sozinha não faz tanta diferença. Seria o mesmo que ter um remédio capaz de resolver da gripe à Aids. Impossível.” O último ano, porém, foi cheio de conquistas que, juntas, significam um tremendo avanço. Uma delas é o UFT, um remédio oral contra o câncer de intestino. “Ele não é mais eficaz do que as drogas injetáveis”, diz Richard Pazdur, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. “Mas para o paciente é ótimo se tratar em casa engolindo comprimidos.”

Os laboratórios não dão sossego ao câncer. “Muito do que está sendo estudado é para daqui a uns vinte anos”, diz o oncologista paulista Dráuzio Varella (veja infográfico ao lado). “A principal arma, porém, já está ao alcance de todos. É apagar o cigarro, ter uma dieta saudável e fazer exames periódicos.”

Para saber mais

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Tenho Câncer, e Agora?, Claudio Ferrari e Vitoria Herzberg, editado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, São Paulo, 1997.

Um dia bem agitado

Em 24 horas, o tumor pode dobrar de tamanho.

Pedido de força

Ainda milimétrico, o câncer solta moléculas que atraem capilares em sua direção. Ele quer sangue e energia para crescer.

No núcleo do mal

O crescimento desenfreado é disparado no núcleo da célula quando o material genético é duplicado.

Tudo multiplicado

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O DNA envia ordens químicas, na forma de RNA, para que todas as organelas celulares também se multipliquem.

Pela metade

A célula começa a repartir-se, distribuindo fraternalmente todas as suas partes, que já estão em dobro para isso mesmo.

Problema duplicado

No final de 24 horas, aproximadamente, o resultado são duas unidades malignas que continuarão crescendo sem parar.

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Jeito novo de tratar

Para a quimioterapia não destruir o que está bom.

1. O primeiro passo é uma injeção com a droga protetora.

2. Ela penetra em qualquer célula do corpo. Só vai reagir, porém, com enzimas que se concentram mais naquelas que são benignas.

3. A reação resulta em moléculas que formam um escudo. O remédio anticâncer irá bater e voltar. O problema é que o efeito dura pouco.

4. Por isso, sem perda de tempo (15 minutos) começa a quimioterapia.

5. A quimioterapia consiste em remédios que impedem a multiplicação dos genes nas estruturas malignas. Sem isso, elas não podem crescer.

Vizinhança prejudicada

Locais que, sem o remédio, sofrem seqüelas.

PELE – Um dos alvos preferidos da quimioterapia.

RIM – A longo prazo, também acaba destroçado.

DEFESAS – Embora do bem, elas são destruídas por se dividirem depressa.

Os remédios do futuro

O que os cientistas buscam para vencer o mal.

Detalhe diferente

A idéia é ver se, modificando uma parte da molécula do remédio quimioterápico, ela faria efeito apenas no tumor.

Implante genético

O plano é implantar nos genes substâncias capazes de tornar o câncer mais frágil às drogas quimioterápicas.

Levar à morte

Buscam-se drogas capazes de induzir o câncer a se autodestruir. Para isso, é preciso conhecer melhor o suicídio celular.

Sem abastecimento

Outra tentativa é bloquear aquelas moléculas que atraem vasos. Assim, o tumor ficará sem sangue e morrerá de fome.

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