Questões preexistentes de saúde provocam um terço das mortes nas rodovias
Distúrbios mentais, problemas respiratórios e de circulação estão associados à responsabilidade nos acidentes, segundo pesquisa de médicos do trânsito.
Você dirige com bastante frequência? Se sim, vale a pena fazer um check-up de quando em quando para conferir como está sua saúde. Porque, dependendo da (má) condição dela, você pode se tornar um risco à segurança no trânsito.
Um terço dos mortos e feridos nas rodovias monitoradas pela Polícia Rodoviária Federal, nos primeiros sete meses de 2022, foi vítima de um acidente provocado por algum problema no organismo. Alguma condição preexistente de saúde que causou comprometimento motor ou de raciocínio, deficiência visual, distúrbios de sono ou mesmo déficit de atenção, seja permanente ou circunstancial. Ou seja, perdas cognitivas ou de movimento em que sua capacidade de dirigir fica perigosamente prejudicada.
É o que constatou um levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Esse estudo apontou que, entre janeiro e julho, cerca de 13 mil acidentes de trânsito em rodovias brasileiras tiveram como causa principal ou secundária a condição de saúde dos motoristas. Essa quantidade de colisões, capotamentos e outros desastres teve como resultado 881 mortos e quase 14 mil feridos.
Para Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas voltadas para a segurança nas ruas e estradas. Ele considera que todo motorista deve realizar, periodicamente, um exame de aptidão física e mental, “um mecanismo decisivo para a redução da mortalidade no trânsito”.
Faz sentido. Um estudo da Associação para o Avanço da Medicina Automotiva, dos Estados Unidos, examinou a relação entre a culpa em uma batida de trânsito e o motorista ter uma questão de saúde preexistente. A pesquisa revelou, por exemplo, que indivíduos de até 39 anos, que têm algum tipo de distúrbio mental, são culpados em 82,4% dos acidentes em que se envolvem. Nessa mesma faixa de idade, pessoas com dificuldades respiratórias são culpadas em 75,3% das vezes. Quem tem problemas circulatórios, em 71,5%.
É gente que pode ter um mal súbito e perder repentinamente o controle sobre o carro. Ou não: ir aos poucos deixando de ter esse comando, sem perceber.
“Diversos fatores podem comprometer o tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo do condutor”, alerta Flavio Adura, diretor científico da Abramet. Para ele, dependendo da gravidade da condição do motorista, deveria ser proibido que pegasse as chaves do carro (como já acontece com aqueles que consumiram bebida alcoólica antes de ir para o automóvel). “É muito importante afastar da direção condutores que possuem problemas de saúde que interfiram na direção veicular segura”, afirma.