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Sarampo apaga memória imunológica do organismo, revela estudo

Infecção do vírus faz o corpo “esquecer” a imunidade desenvolvida a outras doenças.

Por Maria Clara Rossini
1 nov 2019, 18h25

O sarampo é uma doença perigosa por si só – e para não passar por ela, já vale a pena se vacinar. Mas uma nova pesquisa indica que o buraco é mais embaixo. Bem mais embaixo. Além da própria infecção, o sarampo pode fazer o corpo “esquecer” a melhor maneira de combater outras doenças, comprometendo o sistema imune a longo prazo.

Boa parte da “agilidade” do sistema imunológico vem da maneira como ele funciona. Da primeira vez em que nosso corpo entra em contato com um vírus, ele fica mais suscetível a uma infecção, pois não sabe reconhecer aquele patógeno, nem possui uma estratégia de combate preparada para ele. Aí, a detecção do problema é mais lenta, e a defesa do corpo também, já que ela testa diversas estratégias até encontrar uma que mate o vírus da melhor maneira.

Felizmente, depois desse primeiro encontro, alguns dos anticorpos combatentes se tornam “células de memória”. Eles se lembram daquele vírus e, assim que o organismo encontra o problema novamente, sabem reconhecê-lo e agir contra ele.

Aí é que vem o novo problema do sarampo. O estudo que o descobriu teve a participação de crianças holandesas que não foram vacinadas contra o sarampo. Primeiro, os pesquisadores colocaram amostras de sangue delas em contato com pedacinhos de agentes infeccioso de várias doenças diferentes. Toda vez que havia uma resposta imediata, era sinal de que aquela já era uma doença conhecida das defesas do corpo, e de havia memória imunológica para elas.

Em 2013, um surto de sarampo atingiu a Holanda e muitas crianças não vacinadas contraíram a doença. 77 delas tinham participado da parte 1 do estudo, e voltaram para um segundo tempo, no qual os mesmo testes imunológicos foram refeitos.

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Foi aí que os pesquisadores perceberam que, de ter sarampo, as crianças perderam, em média, 20% daquelas respostas imunológicas a outras doenças. No pior dos casos, a queda foi de 70% nas respostas imunológicas adquiridas.

Sem a memória imunológica acumulada por anos, as crianças ficam vulneráveis a doenças que já tiveram no passado, como se voltassem a ser bebês. “É como retroceder o sistema imune no tempo, tornando ele mais inexperiente”, diz Michael Mina, virologista e autor do estudo.

Nesse mesmo período, os cientistas analisaram o sangue de outros 100 adultos e crianças vacinadas – e que não contraíram sarampo. Nenhum deles apresentou baixa na imunidade.

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Qual a diferença, então, para os organismos afetados pelo sarampo? Segundo o estudo, o problema ocorre porque o sarampo infecta células B que já estavam programadas para reconhecer outras doenças – as tais células de memória. Como essa variedade de células é “apagada”, no final da infecção só sobram células de memória capazes de reconhecer sarampo em si. Daquele ponto para trás, é como se o sistema imune sofresse de amnésia.

O sarampo também diminui a variedade das células B não-específicas, ou seja, que ainda não foram “treinadas” para reconhecer um patógeno específico. Elas ficam localizadas na medula óssea e servem para combater infecções desconhecidas. Aí, a própria resposta imunológica inicial, por tentativa e erro, acaba ficando mais lenta. É uma catástrofe imunológica total.

Para se proteger dela, é claro, a melhor estratégia é a vacinação. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os casos de sarampo aumentaram mais de 300% no primeiro trimestre de 2019. De acordo com o órgão, o crescimento se deu em grupos de pessoas não vacinadas e pela falta de cobertura da segunda dose da vacina. E você, já tomou a sua?

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