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Sistema imunológico das mulheres é melhor que o dos homens

E, mesmo com essa vantagem, mulheres estão sendo prejudicadas por pesquisas enviesadas

Por Fábio Marton
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 21 jun 2016, 19h15

É uma coisa que os imunologistas vinham cogitando há algum tempo. Em 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) teve de tirar de circulação às pressas uma vacina contra sarampo que se revelou potencialmente letal – mas apenas para as meninas. Ninguém sabe até hoje o que deu errado, mas foi um primeiro sinal de que mulheres e homens parecem ter um sistema imunológico diferente.

A conclusão de anos de estudos diversos foi publicada numa reunião de microbiologia em Boston (EUA), comentada pela Nature: sim, é diferente. Mulheres em geral respondem de forma mais eficiente a infecções. Num dos painéis, a pesquisadora Katie Flanagan, da Universidade da Tasmânia (Austrália) relatou um caso recente, em que uma vacina contra tuberculose funcionava melhor para as mulheres. Isso porque ela se mostrou capaz de suprimir uma proteína anti-inflamatória apenas para elas. Parece contraditório, mas combater a inflamação, a reação natural do organismo contra uma infecção, pode ser um tiro no pé se isso vem antes de a infecção estar controlada.

As razões, de acordo com os cientistas, podem ser várias: o estrogênio, o hormônio sexual feminino, ativa as células envolvidas em respostas antivirais, enquanto a testosterona, seu par masculino, tem propriedades anti-inflamatórias – o que, como visto acima, nem sempre ajuda.

Outra responsável é a proteína TLR7, produzida num gene localizado no cromossomo X. Ela é responsável por detectar vírus e ativar a reação do organismo. Como as mulheres tem duas versões do cromossomo (meninas são XX e rapazes, XY, lembra do Ensino Médio?), isso significa que elas têm, em geral, um sistema imunológico mais eficiente.

O imunologista Marcus Altfeld, do Instituto Heinrich Pette, em Hamburgo (Alemanha), tem uma hipótese sobre como essa diferença surgiu. Segundo ele, as mulheres desenvolveram essa superioridade imunológica para proteger fetos no útero e bebês pequenos. Mas esse poder vem a um custo: mulheres são mais suscetíveis a desenvolver doenças autoimunes, como reumatismo, lúpus e alergias.

Existe, por fim, uma séria questão política em jogo. Não é o fato de existir uma diferença biológica entre gêneros – o que ativa uma reação alérgica em muitos militantes. O caso é que a maioria dos estudos imunológicos é feita em homens. A justificativa para isso é que o ciclo menstrual e a gravidez podem “atrapalhar os resultados”. A consequência, como demonstra o caso da vacina letal de 1992, é prejudicial às mulheres. “É uma verdade inconveniente”, afirma a imunologista Linde Meyaard, do Centro Médico Universitário em Utretch (Holanda). “As pessoas [os cientistas] não querem saber se o que estudam em um sexo é diferente no outro.”

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