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Um quinto dos medicamentos na África é falsificado ou está abaixo do padrão, segundo estudo

Segundo a ONU, o problema resulta em 500 mil mortes que poderiam ser evitadas anualmente.

Por Bela Lobato
6 ago 2024, 16h00

Uma pesquisa recente mostrou que 22% dos medicamentos distribuídos na África pode estar abaixo do padrão ou ser falsificado.  Os medicamentos antibióticos, antimaláricos, anti-helmínticos (para vermes) e antiprotozoários são as categorias mais afetadas – o que pode resultar em tratamentos falhos, aumento da resistência bacteriana e mortes que poderiam ser evitadas.

O estudo, publicado no mês de julho na revista Journal of Pharmaceutical Policy and Practice, foi realizado por pesquisadores da Universidade Bahir Dar, na Etiópia. A equipe revisou os resultados de 27 estudos e descobriu que, das 7.508 amostras de medicamentos incluídas, 1.639 foram reprovadas em pelo menos um teste de qualidade, mostrando que estão abaixo do padrão ou são falsificados.

Segundo estimativas de 2023 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, meio milhão de mortes evitáveis ocorrem anualmente na África Subsaariana por conta de medicamentos falsificados e abaixo do padrão.

Os “medicamentos abaixo do padrão” referem-se àqueles que são autorizados, mas não atendem aos padrões de qualidade. Já os “medicamentos falsificados” são aqueles que deliberadamente deturpam sua identidade, composição ou origem.

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No caso dos antibióticos, o problema é ainda mais alarmante. Isso porque as orientações para esses medicamentos precisam ser seguidas à risca para evitar o surgimento de superbactérias. Se o paciente usar a dosagem ou a frequência errada de um antibiótico, as variáveis mais resistentes da bactéria no organismo podem sobreviver. Isso, além de não curar o paciente do problema inicial, pode fazer com que o quadro se agrave.

Atualmente, a resistência bacteriana causa 700 mil mortes por ano. Um relatório do Reino Unido sobre o tema, lançado em 2014, estima que  esse número pode chegar a 10 milhões de mortes anuais em 2050, superando doenças como o câncer (8,2 milhões).

De acordo com o estudo, o Malawi, país vizinho de Moçambique, tem a maior proporção de medicamentos abaixo do padrão e falsificados. 

A principal causa dessa crise é a complexidade da cadeia de suprimento de medicamentos para países de baixa e média renda. O número limitado de fornecedores e a fragmentação dessa distribuição facilita que outros intermediários se infiltrem na cadeia de suprimentos, inserindo medicamentos de baixa qualidade ou falsificados.

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O problema chamou a atenção da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2013. Pouco depois, em 2017, a OMS constatou que cerca de 10% dos produtos médicos mundiais não eram confiáveis, sendo que 42% dos relatos de medicamentos abaixo do padrão e falsificados vinham da África. 21% vinha das Américas e 21% da Europa.

“Incidentes recentes de medicamentos líquidos orais contaminados demonstraram que precisamos de uma abordagem conjunta de várias partes interessadas para prevenir, detectar e responder a produtos abaixo do padrão e falsificados. Para isso, é fundamental aumentar a conscientização do público sobre o escopo, a escala e os possíveis danos que esses produtos causam”, um porta-voz da OMS disse ao The Guardian.

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