Cambridge abre vaga para naturalista viajante com salário de R$ 27 mil
A vaga rara busca aventureiros para coletar espécimes de plantas mundo afora, seguindo os passos de Charles Darwin.
Uma descrição de vaga que parece saída de uma biografia de um cientista do século 19: a Universidade de Cambridge abriu uma vaga para naturalista-viajante (OK, esse não é o nome oficial — é “botânico expedicionário” —, mas é uma descrição bem adequada à realidade).
As atribuições envolvem quatro viagens anuais para coletar plantas ao redor do mundo, bem como a preparação antes das viagens e a organização dos espécimes obtidos após o retorno. Faz alguns séculos desde a última vez que uma instituição britânica ofereceu uma vaga como essa.
“Estamos procurando alguém realmente excepcionalmente enérgico, experiente e pronto para contribuir com a nossa missão de expandir nossas coleções botânicas e nosso alcance.”, diz a descrição da vaga. “Se você gosta de botânica e horticultura, se desenvolve em ambientes aventureiros e gosta de trabalhar em equipe, queremos te conhecer.”
Na prática, isso também envolve conseguir reconhecer e coletar espécies de todo o mundo, preparar os espécimes coletados, organizar a coleção taxonômica, dar aulas para o ensino superior e lidar com o engajamento da comunidade universitária.
“As expedições de campo são realmente intensas e incrivelmente trabalhosas porque você tem um tempo limitado nesses locais”, disse Samuel Brockington, professor de biologia evolutiva e curador do Jardim Botânico da Universidade de Cambridge (CUBG, na sigla em inglês) em entrevista ao The Guardian.
“Acho que você precisa ter um verdadeiro senso de aventura, gostar de viajar e se sentir confortável trabalhando em culturas diferentes.”
O(a) naturalista terá a oportunidade de participar da conservação e curadoria do CUBG, que inclui mais de oito mil espécies de plantas. É preciso ter visto para viver e trabalhar no Reino Unido, além de falar várias línguas. Para fazer isso tudo, o salário é de até £44.263 por ano, ou R$ 322 mil. Há previsão de cinco anos de duração.
Em 1831, uma vaga como essa foi ocupada por um jovem de 22 anos, Charles Darwin. Naquela época não houve o processo seletivo internacional: Darwin viajou por indicação do professor e fundador do CUBG, John Stevens Henslow. Durante os quatro anos que passou a bordo do navio Beagle, Darwin coletou mais de mil espécies de plantas, que enviou por correio para Henslow e ajudaram a compor o acervo do CUBG.
A motivação da coleção, entretanto, mudou um tanto. Henslow era um teólogo e naturalista, e reunia variadas espécies de plantas de todo o mundo para demonstrar a extensão infinita da criação de Deus. Hoje em dia, a missão do CUBG é ter uma coleção variada para proteger a diversidade botânica frente às mudanças climáticas.
“Por melhores que sejam os nossos horticultores, muitas plantas não sobrevivem a cada ano e, por isso, mantemos a diversidade da coleção trazendo cerca de 500 a mil lotes de plantas por ano”, disse Brockington.