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Maior inseto do mundo pode ser extinto por causa da indústria de chocolate

70% do cacau do mundo vêm das lavouras da África Ocidental – que estão destruindo o habitat dos besouros-golias em ritmo acelerado.

Por Bela Lobato
7 mar 2025, 16h00

Embora não haja um ranking oficial dos maiores insetos do mundo, as seis espécies do grupo Goliathus são fortes candidatas. As suas larvas podem pesar mais de 100 gramas e medir mais de 11 centímetros. 

Eles também são muito fortes: levantam 850 vezes o próprio peso. Os adultos possuem um grande par de asas para voar atrás de parceiros ou alimentos, e os machos têm um chifre em forma de Y na cabeça para lutar uns com os outros.

As espécies de Goliathus são essenciais para os seus ecossistemas: enquanto larvas, ajudam a reciclar os nutrientes na floresta, eliminando detritos de plantas e animais. Já os adultos dependem da seiva de árvores específicas da floresta tropical e funcionam como bioindicadores de um ambiente saudável.

Fotografia do inseto Goliathus goliatus.
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Só tem um grande problema: os besouros-gorilas estão desaparecendo. Acontece que eles são nativos das florestas tropicais da África Ocidental – a mesma região que produz mais de 70% do cacau do mundo. Novas pesquisas apontam que pelo menos uma das espécies foi quase exterminada pela produção de cacau e, em menor escala, pelo comércio internacional de insetos secos.

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A descoberta foi publicada na revista African Journal of Ecology em fevereiro. A espécie Goliathus cacicus foi a mais afetada e perdeu quase 80% de sua população na Costa do Marfim, em grande parte devido ao desmatamento para plantações de cacau. Outra espécie, Goliathus regius, sofreu um declínio de 40% em seu habitat natural. 

A equipe de pesquisadores que conduziu o estudo não tinha o besouro como seu alvo inicial. Eles estudavam o impacto das lavouras de cacau na conservação de espécies de répteis – e aí, perceberam que os riscos provavelmente eram os mesmos para os insetos gigantes.

“A equipe, então, iniciou campanhas intensivas de entrevistas pessoais nas comunidades para descobrir se a população local havia notado menos besouros-golias. Essa população local incluía caçadores, fazendeiros, coletores de caracóis e cogumelos e coletores de madeira e outros materiais florestais”, disse Luca Luiselli, professor de ecologia e principal autor do estudo, em texto no site The Conversation.

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“Quando eles confirmaram nossos temores, decidimos lançar um projeto de pesquisa aprofundada. Isso mostra que o conhecimento ecológico tradicional é muito valioso para orientar as decisões de pesquisa”, acrescenta.

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Segundo o estudo, assinado por 24 pesquisadores, ações de conservação são urgentes para interromper o desmatamento e encontrar soluções sustentáveis para impedir o desaparecimento dos besouros-golias. Eles defendem que a preservação das espécies precisa ser coordenada em um plano de ação com cientistas, agências governamentais e organizações sem fins lucrativos da África Ocidental – e reforçam a importância de reservas naturais e parques nacionais para limitar a expansão das lavouras de cacau.

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Mercado desequilibrado

O setor de chocolate movimenta US$ 130 bilhões por ano. Mas embora o mercado seja completamente dependente do cultivo de cacau para o fornecimento do ingrediente principal do chocolate, muitos produtores de cacau na África Ocidental ganham menos de US$ 1 (R$ 5,76) por dia – valor abaixo da linha da pobreza determinada pelo Banco Mundial para países de baixa renda, que é de US$ 2,15 por dia (R$12,39).

Em média, quando uma barra de chocolate é comprada no supermercado, apenas 6% do valor é direcionado aos agricultores do cacau. 

Segundo a Rainforest Alliance, organização não-governamental que trabalha com a certificação de lavouras de cacau sustentável na região, “essa pobreza esmagadora pode levar as famílias de produtores de cacau a manterem seus filhos fora da escola para que ajudem na agricultura familiar ou a se deslocarem para áreas florestais protegidas em busca de terras mais férteis.”

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Como parte de um possível plano de ação contra esse problema, Luiselli também recomenda campanhas de conscientização nas comunidades locais para incentivar as pessoas a proteger esses besouros. “Por exemplo, seria muito importante criar ‘florestas certificadas’ onde as comunidades locais pudessem colher e vender um número limitado de besouros para ganhar a vida, ao mesmo tempo em que ajudam a conservar a floresta e geram renda com o ecoturismo do besouro-golias.”


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