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Michael Shermer: o exterminador de crenças

De cada 10 pessoas no mundo, 9 têm religião. O historiador da ciência Michael Shermer também já teve uma. Mas hoje se dedica a combatê-las.

Por Rodrigo Rezende
Atualizado em 19 nov 2018, 14h59 - Publicado em 26 set 2013, 22h00

Michael Shermer, 64 anos, foi um cristão praticante quando jovem. Depois, esse professor de história da ciência fundou a Sociedade dos Céticos, uma organização voltada a combater crenças no sobrenatural – o que incluí todas as religiões. A SUPER falou com ele.

De onde vem a tendência humana em crer cegamente?

Acho que há razões biológicas para isso. Provavelmente todos herdamos uma tendência genética a acreditar. Imagine que você está na mesmo hábitat natural de nossos antepassados: uma savana africana. Ouve um ruído estranho e pensa: será que é um tigre? Não há tempo suficiente para julgar se está certo ou errado. Na dúvida, você acredita. Mas já inventamos algo para nos ajudar no julgamento e lutar contra essa tendência natural. Algo chamado ciência.

Que tipo de situação você enfrenta quando questiona a crença das pessoas?

Recentemente um leitor me mostrou uma foto de um OVNI. Olhei para ele e disse: “Cara, isso é uma pipa”. Mas ele continuou a insistir: “Não, eu estava lá. Não era um pipa”. Entrei no Google e, entre milhares de fotos de pipas, mostrei uma exatamente igual àquela. Ele respondeu: “Não, não. Você acha que os alienígenas criariam naves espaciais iguais a pipas? Você está louco?”. É esse tipo de situação que encontro. Às vezes, até me diverte.

A mesma ciência que você usa para desmascarar OVNIs pode ser usada com Deus?

As pessoas supõem que Deus está aqui entre nós. Então é razoável perguntar: “Ok, qual a evidência disso?”. Há quem diga “Bem, ele ajuda pessoas, cura câncer etc”. Nada disso. Quem mede a melhora na saúde de quem ora para se curar, percebe que ela é estatisticamente igual à dos outros doentes. Só que estudos como esses costumam ter pouco efeito. Experimente, por exemplo, perguntar por que as pessoas creem. Muita gente responderá “Porque acredito em acreditar”. É a fé agindo como um vício, exercendo um efeito cerebral tão poderoso quanto jogar na roleta do cassino. Há religiões tão perigosas para a mente quanto o jogo e as drogas ilegais. Elas estão cheias de ideias ruins que ficam plantadas no cérebro. E não é nada fácil tirá-las de lá.

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Essas ideias religiosas não têm função no mundo de hoje?

A principal preocupação das pessoas é que, em um mundo sem religião, não existiria mais moral e ética. Bobagem. A tendência natural das pessoas é agir moralmente. Quanto mais integrado o mundo estiver, mais moral ele será. Já a religião não contribui para isso.

Ateus e agnósticos ainda sofrem preconceito?

Tenho uma amiga que escreve esquetes de humor sobre isso. Em uma delas, um rapaz gay quer sair do armário e tem medo da reação dos pais. Então diz: “Pai, eu sou ateu”. Três segundos depois, ele diz: “Brincadeira! Sou apenas gay”. A verdade é que muita gente ainda vê os ateus como uma ameaça. Acho que é porque temos argumentos e aí a nossa voz fica mais poderosa que o discurso da fé.

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